Morreu aos 99 anos, o escritor paranaense Dalton Trevisan. Recluso, tímido, sem gostar de dar entrevistas, Trevisan se tornou um grande mistério, ganhando o apelido de um de seus livros: “O Vampiro de Curitiba”.
Nascido em 1925, Dalton Trevisan recebeu o Prêmio Camões de 2012, pelo conjunto da obra. É considerado o maior contista brasileiro contemporâneo. Ele nasceu em Curitiba, Paraná, no dia 14 de junho de 1925. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Paraná. Exerceu a advocacia durante sete anos, mas abandonou a atividade para trabalhar na fábrica de cerâmicas da família.
Ele estreou na literatura com a novela “Sonata ao Luar” (1945). Entre 1946 e 1948, liderou em Curitiba o grupo literário que publicava a revista “Joaquim”. Em 1946, Dalton publicou na revista seu segundo livro de ficção, “Sete Anos de Pastor” (1946), posteriormente, seus primeiros livros foram renegados pelo próprio autor, alguns que ele próprio reescreveu para ser reeditado.
Navegando pelo Youtube, encontramos um documentário decicado à vida e à obra de Dalton Trevisan. Chamado de “Daltonismo”, o filme aborda aspectos da vida e da obra do escritor Dalton Trevisan (1925-), considerado mestre do gênero contista e um dos mais míticos personagens de Curitiba, através entrevistas com personalidades do cenário intelectual curitibano e pessoas próximas ao contista,
Produzido por Ana Hupfer, Célio Yano, Cristina Seciuk, Elaine Santos, Erike Feitosa e Jaqueline Bartzen, o documentário respeita a reclusão de Trevisan, buscando mostrar apenas uma visão do escritor a partir de uma narrativa que se assemelha a uma conversa entre amigos.
No elenco de entrevistados, os escritores Cristovão Tezza, Fábio Campana e Nego Pessoa, o livreiro Eleotério Burrego, o ator e diretor teatral João Luiz Fiani e o jornalista Luiz Geraldo Mazza. O roteiro mescla trechos de depoimentos com contos selecionados da obra de Trevisan, amarrados através de uma linha narrativa que evolui das relações pessoais dos entrevistados ao estilo literário do escritor. Para ilustrar os contos, imagens de Curitiba e desenhos de Simon Ducroquet, que se assemelham às imagens que Poty fazia para ilustrar os livros do contista.
Fizemos uma breve entrevista com o diretor do filme Célio Yano que pode ser vista abaixo junto com o filme. Confira:
– Quando você entrou em contato com a obra de Dalton Trevisan?
Conheci a obra de Dalton Trevisan na adolescência, quando estava no ensino médio. Um dos livros dele, O Vampiro de Curitiba, era leitura obrigatória para o vestibular da UFPR. A literatura dele me fascinou de imediato e logo fui atrás de conhecer outras obras.
– Por que você escolheu fazer um filme sobre ele na faculdade?
Em 2006, cursávamos jornalismo na UFPR e em uma das matérias a proposta de trabalho final era uma produção audiovisual. Logo surgiu a ideia de um documentário sobre o Dalton Trevisan, por ser um escritor de Curitiba, que todos do grupo conhecíamos, à época considerado o maior contista vivo do Brasil, e por não conhecermos nenhum trabalho audiovisual que tratasse de vida e obra dele. Também pesou o fato de ele ser avesso a exposição midiática, o que tornava o trabalho um desafio a mais.
– Vocês optaram por respeitar a reclusão do Dalton na execução do filme. Mas vocês entraram em contato com ele para conversar nem que seja nos bastidores? Ele soube do filme?
Todos os entrevistados já haviam tido ou mantinham contato com o Dalton Trevisan, então nos primeiros contatos para agendamento de entrevista, ele já ficou sabendo da produção. Eu cheguei a encontrá-lo um dia em uma livraria, mas apenas trocamos um cumprimento e ele foi embora. Depois que o documentário estava concluído, pedimos autorização para ele para exibir o filme na Cinemateca de Curitiba. O contato foi feito por meio de um amigo dele, um cineasta que já adaptou algumas obras dele e trabalhava em uma lotérica no Centro da cidade. Mandamos por esse intermediário uma cópia do documentário em DVD. Ele não apenas autorizou, como elogiou o trabalho e mandou presentes para a equipe: cada um recebeu uma coleção da revista Joaquim em edição fac-similar que foi lançada no ano 2000.
– Qual a importância da obra do Trevisan para a gente conhecer tanto a cidade de Curitiba, mas principalmente o Brasil?
Na literatura, ele foi o grande nome a projetar Curitiba para o mundo, não só por ser um escritor fora do circuito Rio-São Paulo que ficou conhecido internacionalmente, mas por falar de aspectos muito particulares de Curitiba em seus contos. Com o passar do tempo, a própria personalidade reclusa dele passou a atrair leitores à cidade atrás de algum contato com ele.
– O que você mais aprendeu com o filme Daltonismo?
A ideia do trabalho da faculdade era aprender a trabalhar com produção jornalística audiovisual, mas aprendemos muito sobre a história da cena literária de Curitiba. Para jovens na faixa de seus 20 anos, foi uma experiência inesquecível. Durante alguns meses mergulhamos no universo do Dalton Trevisan.
Sobre Célio Yano
Sou jornalista, formado pela UFPR, com passagens pela revista Ciência Hoje, portal Exame e jornal Gazeta do Povo, atualmente atuando como analista de marketing
Confira o documentário Daltonismo(2006), sobre a vida e a obra de Dalton Trevisan:
Ficha Técnica:
Direção: Célio Yano
Roteiro: Elaine Santos e Jaqueline Bartzen
Edição: Ana Hupfer e Célio Yano
Fotografia: Ana Hupfer
Ilustrações: Simon Ducroquet Voz: Silvino Iagher Produção: Ana Hupfer, Célio Yano, Cristina Seciuk, Elaine Santos, Erike Feitosa e Jaqueline Bartzen