Em Na frente de estranhos, de Carina S. Gonçalves, há muitos tempos se colidindo. Os poemas são separados em partes/categorias, como a família, o Japão, os metapoemas, os relacionamentos amorosos, interrupções. O efeito dessas misturas pode traze ao leitor a sensação de que se tratam de uma só coisa, um tempo só. Uma pessoa só. No entanto, são várias histórias que sequer tecem relações entre si. Essa característica fragmentária do poema conta uma espécie de narrativa montada, como em um filme.
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“Carina te falará, numa língua que é e não é a tua, sobre estar na periferia de tudo, mesmo quando o centro do mundo pode ser qualquer lugar.” – Beatriz Malcher
Mas, ao contrário da peça cinematográfica, a autora se beneficia das imagens do poema serem só imaginárias e não conterem as camadas de tempo e a textura da imagem do cinema, que denunciariam essa farsa. O título veio de uma das partes, e traz a ideia de uma ficção grande que se forma a partir da montagem, e que será exposta para estranhos, que nunca saberão o que é real e o que não é. Há, então, o segredo: a avó, que dizia palavras do seu dialeto para que pudesse se comunicar com seus familiares na frente de desconhecidos. É o dizer cifrado, encriptado na poesia.
“Ler estes poemas é como andar de bicicleta com fones de ouvido sem segurar o guidom.” – Luiza Leite
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Quem é Carina S. Gonçalves?
Carina S. Gonçalves nasceu em Belo Horizonte. É poeta, mestre em Estudos Literários pela UFMG, redatora e observadora amadora de cachorros. É autora de Nada acontece (2018).