Em “Ferozes melancolias”, Ana Rüsche lança livro de ensaios e crônicas de viagem a respeito do amor e da escrita
Que a palavra melancolia, à primeira vista, possa sugerir todo um repertório da paralisia e dos processos de mortificação em vida, isso é verdade. Mas não é o caso aqui. A melancolia da qual Ana nos fala é dessas que erguem os dentes e não se prestam a nenhum derrotismo fácil. É uma melancolia que impõe suas recusas diante de um contemporâneo marcado pela hiper aceleração, por projetos de esquecimento, pela escamoteação do futuro e pela anunciação da catástrofe como único horizonte comum.
Refazendo uma série de itinerários de leituras, viagens e amizades, os textos dessa coletânea jogam o leitor para transitar por uma cartografia afetiva e íntima, e ao mesmo tempo coletiva e histórica. Ana propõem um entrelaçamento profundo em que vida e literatura se mostram indissociáveis e equivalentes: viver é ler e vice-versa.
“Às vezes, precisamos reaprender a viajar. Este livro mostra o que é preciso perder, para poder sair de si, deixar-se levar pela carta da literatura, para poder voltar a si como outro.” — Christian Dunker
Os textos-paisagens são múltiplos. Em um banco de praça em uma Santiago do Chile gelada e ventosa, a voz do compositor torturado Victor Jarra volta a reverberar através das páginas décadas depois de seu assassinato.
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No corredor de um supermercado, um encontro aparentemente banal desencadeia toda uma meditação sobre a perda e as formas do adeus. Em uma cidade chinesa rodeada de montanhas, um museu em formato de disco voador nos lembra como a literatura de Ficção Científica é uma chave poderosa para iluminar o tempo presente. Sabe-se, aliás, como tal gênero é uma das grandes paixões da escritora que nos lembra a força da especulação em ativar imaginários, lançar mundos (im)possíveis através da palavra e reivindicar o direito ao depois.
Com uma voz que vai do humor mais refinado até os momentos de profunda ternura, esse livro é também uma oportunidade de sermos ferozes. Pensar a melancolia como um modo de se deter sobre as coisas como querendo percorrê-las e, se possível, habitar. Uma suspensão muito frágil no tempo, com seu trânsito tão excessivo de vindas e adeus. Porque o mundo, o mundo ainda não terminou de acabar.”
Texto de Caetano Romão – Doutorando em Teoria Literária e mestre em Teoria e História Literária da (UNICAMP), é autor de Um nome inteiro disposto à montaria (poesia, 2021), entre outros títulos.
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Quem é Ana Rüsche?
Ana Rüsche é escritora e pesquisadora. Foi finalista do Jabuti com A telepatia são os outros (2019). Estreou em 2005, publicou sete livros, com traduções nos Estados Unidos, Itália e México. Concluiu o Pós-Doutorado sobre mudança climática e ficção científica na Universidade de São Paulo (USP), é doutora pela USP e cursa o segundo doutorado sobre literatura e ecocrítica na Universidade de Brasília (UnB).
Ficha Técnica
Título: Ferozes melancolias: o amor, a viagem e a escrita
Autor: Ana Rüsche
Projeto gráfico: Vinicius Oliveira e Silvia Andrade
Formato: 14 x 21 cm
Número de páginas: 124
ISBN: 978-65-81462-88-8
Preço: R$ 60,00
Data de livraria: 25/08/2024
Editora: Rua do Sabão