Na década de 1980, Moçambique passou por uma constante agressão por parte do regime do apartheid da África do Sul, quando se promoviam frequentes ataques assassinos contra os cidadãos moçambicanos, com o intuito de espalhar o temor e desestabilizar o governo da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique). Um desses episódios, ocorrido em Maputo em maio de 1985, inspirou Lília Momplé a escrever Neighbours, publicado pela primeira vez em 1995.

“Neighbours é uma produção de uma escritora madura, que sabe explorar distintos recursos narrativos: ora nos recorda o romance-reportagem, ora as estratégias do naturalismo, ora as técnicas cinematográficas, ora as personagens dos contos de fada e até mesmo as estratégias da narrativa romântica. “Estamos diante de um narrador comprometido com o que narra, distante de qualquer neutralidade em relação aos personagens que constrói.”, afirma Maria Teresa Salgado, professora da UFRJ, responsável pelo posfácio da edição brasileira.
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Nas palavras de Momplé, “Neste livro, inspirado em factos reais, descrevo o que se passa em Maputo, em três casas diferentes, desde às 19 horas de um dia de maio de 1985 até às 8 horas da manhã seguinte. Preocupei-me não apenas em narrar os acontecimentos dessa longa noite, mas em relacioná-los com as pessoas que vamos encontrando nas três casas.
São pessoas comuns que desconhecem tudo sobre as que vivem nas outras casas. Todavia, têm o seu destino fatalmente interligado, mais uma vez, por vontade e por ordem do apartheid que tão bem sabia aproveitar-se das humanas fraquezas, taras, paixões, anseios e inseguranças”, disse a autora.
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Quem é Lília Momplé?

Lília Momplé nasceu em 1935, na Ilha de Moçambique, localizada ao norte do país, na província de Nampula. Recebeu o Prêmio Caine para Escritores de África, com o conto “O baile de Celina” e o I Prêmio de Novelística no Concurso Literário do Centenário de Maputo, por “Caniço”, ambos os contos presentes em Ninguém matou Suhura. Momplé é membro de honra da Associação dos Escritores Moçambicanos, na qual já foi presidenta. Sua obra encontra-se traduzida em inglês, francês e alemão e está representada em várias antologias moçambicanas e estrangeiras.