A narrativa de Savannah Bay se tece na relação amorosa entre as duas únicas personagens que aparecem no palco – Madalena, uma mulher que já atingiu “o esplendor da idade”, e uma Jovem, não nomeada; talvez sua neta. Como através de um espelho, essa relação se desdobra em uma outra trama amorosa, constituída a partir da já esparsa memória de Madalena, que se confunde com a imaginação. O elo entre as duas, que constantemente se apresenta como um reflexo no espelho, desencadeia outra história de amor, formada a partir das memórias fragmentadas de Madalena.
Nesse jogo de espelhos, no qual pouco ou nada se revela com nitidez, Madalena também evoca, ou talvez até imagine, um passado quando atuava como atriz de teatro, repetidamente interpretando essa mesma história que agora ela e a Jovem tentam recriar no presente. Tanto na relação entre essas duas mulheres quanto nas outras conexões que se desdobram a partir desse núcleo, o amor está sob os holofotes.
Destaque:
“Marguerite Duras é Savannah Bay, pois reconhecemos, a cada página, o clamor do amor que responde ao impossível do encontro. A não ser que seja o inverso: a repetição do impossível respondendo à paixão, a música da palavra amortecendo o grito da solidão existencial que ela soube tão bem dizer.” — a psicanalista Dominique Touchon Fingermann, em posfácio inédito para a edição
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A trajetória de Savannah Bay: do texto aos palcos
Savannah Bay foi inicialmente escrita em 1982 e reescrita no ano seguinte, durante o processo de ensaios para a montagem no Théâtre du Rond-Point, em Paris. Sua estreia ocorreu em 27 de setembro de 1983, sob direção da própria Duras, com Bulle Ogier e Madeleine Renaud no elenco – a peça é uma homenagem a esta última. Com desfecho diferente da primeira, a segunda versão de Savannah Bay é mais condensada e indica uma divisão em três cenas, elemento antes ausente. Além disso, as linhas narrativas do texto de 1983 apresentam menos lacunas, o que, contudo, apenas atenua ligeiramente a natureza incompleta e aberta do enredo.
Por que ler a peça Savannah Bay?
Esta experiência dramática envolve leitor e espectador em um mundo de reflexões sobre o amor, a memória e a fugacidade dos encontros humanos. Madalena, uma ex-atriz de teatro, e a Jovem mobilizam em seus diálogos esses temas, falam de uma história de amor impossível, que se desenrola como um quebra-cabeça emocional. Dotada de um estilo único de escrita, Marguerite Duras nos convida à reflexão, mas também ao canto e à dança; os versos de “Les Mots d’amour”, de Édith Piaf, adicionam uma dimensão musical e emocional à história.
● Tradução e prefácio de Angela Leite Lopes
● Savannah Bay – Versão de 1982
● Savannah Bay – Versão de 1983
● Posfácio de Dominique Touchon Fingermann
● Canção “Les Mots d’amour”, de Édith Piaf – Transcrição integral e tradução
● Fichas técnicas das apresentações
● Fotografias da montagem brasileira
● Sugestões de leitura
● Quarta capa de Helena Ignez
Leia um breve trecho da peça:
A Jovem A morte…
Madalena Talvez, sim (Tempo) A morte. (Tempo) Eu saberia como querer. Durante meses aconteceu comigo, de morrer a cada noite no teatro. (Tempo) Foi na época de uma dor muito grande. O que quer que eu representasse, naquela época, essa dor se introduzia no papel, representava, ela também, me mostrava como se podia representar tudo, até isso, essa dor no entanto tão terrível.
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Sobre a autora:
Nascida em 4 de abril de 1914 em Gia Dinh, perto de Saigon (Cochinchina), hoje Vietnã, Marguerite Duras radicou-se definitivamente em Paris aos 19 anos, e logo começou os estudos em Direito e Ciências Políticas. Atuou em diversas frentes ao longo de sua vida: foi romancista, novelista, poeta, roteirista, diretora de cinema e de teatro, além de dramaturga. Ao longo de sua trajetória, Duras construiu uma obra que refletiu sobre si mesma e sobre a existência humana, acompanhada de elementos como: memória, linguagem, passagem do tempo, encontros e interações entre os sujeitos.