Jorge Luis Borges, escritor argentino, era, antes de qualquer coisa, um grandessíssimo leitor. Sua dedicação à leitura de Macedônio Fernandes, também argentino, não é fato novo. É também comum a história de que, ao ficar cego, pedia para que alguém lesse os livros que gostaria ou que copiasse aquilo que sua mente gostaria de escrever e em muitas de suas obras e contos, pode-se ver um homem culto em direção a um projeto, a uma performance, a uma estrutura ou a um comportamento. Borges, ao escrever é um grande leitor de procedimentos e, por conseguinte, de mundos.
Muitos consideram Jorge Luis Borges um conservador por conta de sua ausência de militância direta e, dizem alguns, apoio aos regimes de direita na Argentina. Seja como for, a literatura é uma política por si só e se reflete nas invenções das obras de Borges, um grande leitor da história da Argentina.

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Uma de suas opiniões públicas e políticas foi revelada em uma entrevista em que o jornalista Antonio Carrizo fez uma pergunta a Borges: “Sr. Borges, o que pensa das touradas? Qual é a sua concepção da figura do toureiro?”. O escritor argentino respondeu:
“É uma das formas ativas de barbárie. No que diz respeito ao toureiro, acho que ele é essencialmente um covarde. Um homem que, com o aparato racional de estratégia, treinamento, armas, exercícios e prática, palestras e muito aprendizagem, se mede contra um animal aturdido pela surpresa, pela ansiedade; um animal que não tem outro recurso senão o reflexo de seu instinto primário. Por essa desigualdade podemos medir o valor de um toureiro. A verdadeira coragem não tem tais chances ofensivas. É por isso que para mim os toureiros não são bravos, mas covardes; covardes de coragem.”