Um dos melhores poetas do século XX e uma espécie de “pai” da geração beat, Lawrence Ferlinghetti ficou menos conhecido do que merecia. Poeta, editor, tradutor, pintor, agitador e ativista, Lawrence Ferlinghetti (1919-2021) foi uma das figuras centrais do movimento Beat e uma das grandes vozes da contracultura nos Estados Unidos no século XX. Fundador da famosa livraria e editora City Lights, em São Francisco, que publicou autores como Jack Kerouac, Allen Ginsberg e muitos outros, criou ele próprio uma poesia popular, subversiva e irreverente, pela qual foi amplamente reconhecido e premiado dentro e fora de seu país.
Algumas de suas obras mais famosas são Um parque de diversões na cabeça, que já fiz uma resenha aqui pro site, e Amor nos tempos de fúria, um texto em prosa também de altíssima qualidade que não deve ser ignorado. Além disso, ele próprio fez uma coletânea de suas melhores poesias e chamou de Vida sem Fim. Ferlinghetti era um grande amante dos livros, tendo uma livraria, a City of Lights que também publicava poetas que não encontravam espaço nas grandes editoras.
“Nunca é demais lembrar ainda, ao se fazer a leitura, que o poeta que nos fala com tanto ardor nestas páginas morreu aos 101 anos, em 22 de fevereiro de 2021, e foi um dos dissidentes mais operosos e ouvidos, dentro de seu próprio país, a se opor aos desmandos, hipocrisias e mentiras com que o poder avassalador dos Estados Unidos se irradiou pelo mundo, suscitando imitações catastróficas de seus modelos mais questionáveis.”
Leonardo Fróes
Poesia como arte insurgente é a sua ars poetica, a súmula de suas reflexões e provocações sobre poesia e vida, arte e ativismo, em cinco textos que escreveu e reescreveu ao longo de décadas. Um livro para nos tirar da letargia e da rotina; para reacender a chama da alegria, do pensamento, da criatividade e da coragem. “Livro de combate, de carregar pela rua, no bolso e no coração”, escreve o tradutor e poeta Fabiano Calixto no prefácio. E, quando tantos se perguntam para que serve a poesia nestes tempos apocalípticos, Ferlinghetti responde: “A poesia é a Resistência suprema”.
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Leonardo Froés, poeta petropolitano e um grande tradutor dos beats, afirma na orelha do livro que “ao lado de outros extraordinários representantes da beat generation, como Gary Snyder, Allen Ginsberg, Jack Kerouac, William Burroughs ou Gregory Corso, Ferlinghetti foi um dos muitos a mostrar que os ideais de caça ao tesouro, como nos tempos do faroeste, ou de luta desenfreada por dólares, como nos tempos insossos que eles testemunharam com enfado, estavam destituídos de autênticos valores existenciais, embora fossem os grandes fundamentos das ilusões de felicidade do modo americano de vida.” Ele brinca que “na escala majoritária, da qual todos eles se mantiveram à parte, o ter, em termos filosóficos, antepunha-se fatidicamente ao ser.”
“Poesia é a roupa íntima da alma”, como nos diz Lawrence Ferlinghetti, que também aconselha: “Se você quer ser poeta, descubra novos modos de vida…”. Caso esta não seja sua maior escolha, caso você não queira necessariamente ser poeta, lembre-se porém que, de poeta e de louco, todos nós temos um pouco e leia mesmo assim este livro de prescrições clamorosas que, como injeções de entusiasmo, batem fundo na cabeça de qualquer um que mantenha um mínimo de bom senso para resistir às tolices que os modos supostamente lineares “de vida” tentam impor à multiplicidade inexaurível das possibilidades humanas.
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Sobre o autor
Lawrence Ferlinghetti nasceu em 1919, em Nova York. Perdeu o pai antes do nascimento e a mãe ainda muito pequeno. Após viver os primeiros anos na França, com uma tia materna, volta aos Estados Unidos, passa por orfanatos e é finalmente adotado por uma rica família de Bronxville, perto de Nova York.
Em 1941 forma-se em jornalismo pela Universidade da Carolina do Norte e logo depois serve na Marinha norte-americana durante a Segunda Guerra Mundial. Obtém em 1948 o título de mestre em literatura inglesa pela Universidade de Columbia e em 1951 conclui o doutorado na Sorbonne, em Paris.
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De volta aos Estados Unidos, fixa residência em São Francisco, onde tem papel central no renascimento literário da cidade e na explosão do movimento Beat. Em 1953 funda a lendária livraria City Lights, e em 1955, a editora de mesmo nome, pela qual publica seu livro de estreia, Pictures of the Gone World (1955), e Howl & Other Poems (1956), de Allen Ginsberg, entre outros.
Em 1958 lança A Coney Island of the Mind, seu principal e mais popular livro de poesia, que seria traduzido para vários idiomas e teria mais de 1 milhão de exemplares vendidos. Publicou mais de vinte livros, entre poesia, prosa e teatro, além dos textos-manifesto de Poetry as Insurgent Art, retrabalhados entre 1975 e 2007. Faleceu em 2021, aos 101 anos de idade.