Um espetáculo de luzes. Essa frase sintetiza a tarefa que a companhia curitibana Rumo de Cultura assumiu no espetáculo O UNIVERSO ESTÁ VIVO COMO UM ANIMAL, com estreia marcada para 1º de junho no Teatro I do CCBB do Rio de Janeiro. E dizer “espetáculo de luzes” deve ser visto nos múltiplos sentidos que a palavra assume para a companhia que encara uma das figuras mais marcantes do século XX, Nikola Tesla, em montagem que mistura e articula arte e ciência para escavar as ideias revolucionárias do inventor que dedicou a vida a pensar sobre energia, magnetismo, eletricidade e democratização da luz.
Com idealização de Isabel Teixeira, Diego Marchioro e Fernando de Proença, a montagem tem direção de Nadja Naira, que deu protagonismo às luzes ao compor uma espécie de “dramaturgia da luz” que é manipulada em cena pelo elenco, através da composição de quadros imagéticos que se baseiam em cartas, palestras, entrevistas e da autobiografia de Nikola Tesla, “Minhas Invenções”.
A temporada vai até o dia 25 de junho, com sessões quintas e sextas às 19h30, sábados às 16h e 19h30 e domingos às 18h. A peça também faz parte de uma programação maior que inclui exibição de documentário, áudio série e masterclass.
Fernando de Proença, idealizador do espetáculo e um dos atores que interpreta Nikola Tesla, comentou um pouco sobre a escolha de trabalhar com inventor em nosso momento atual:
“Nós ficamos fascinados pela história, sobretudo por ele pensar as temporalidades, que são passado, presente e futuro, de forma misturada. Ele é um cara que previa o futuro. No momento de criação da peça, a gente sentia que arte e ciência precisavam estar articuladas pra gente falar de questões atuais e vislumbrar um futuro possível de se viver. Nikola Tesla foi um pretexto para a gente pensar sobre as questões de agora com um futuro iluminado pela frente. Pensar ele em 2023 faz todo sentido, assim como pensar ele em 2092. Ele é um cara atemporal que colocou sem pensamento em ação pra humanidade”, contou.
As pesquisas com foco nas materialidades e nas invenções dentro do teatro, no entanto, não começaram agora para o Rumo da Cultura. O UNIVERSO ESTÁ VIVO COMO UM ANIMAL faz parte do que o grupo chama de “Te(a)tralogia”, título de um projeto de construção de 4 peças de teatro autônomas que investigam modos e meios de construir a cena a partir de dispositivos. Através dessas materialidades, o objetivo é criar matérias textuais que investigam figuras emblemáticas da cultura mundial.
Em 2016, por exemplo, surgiu o primeiro espetáculo da série, LOVLOVLOV, criada a partir das cartas de amor de Carmen Miranda, enquanto PEOPLE vs. PEOPLE, de 2019, explorou a manipulação de discursos que, retirados de seus contextos, podem incriminar e condenar.
Sobre O UNIVERSO ESTÁ VIVO COMO UM ANIMAL, a diretora Nadja Naira, destacou a especificidade do artista, principalmente do ator, em espelhamento com Nikola Tesla, ou seja, também como um inventor que diante da cena precisa criar e experimentar coisas. Ela afirma que a proposta é transpor para o palco um “grande laboratório de observação que era a vida do Tesla”. Desta forma, laboratório de inventor e espaço de criação cênica se tornam uma coisa só:
“De certa forma, todos somos artistas e cientistas no nosso trabalho, pois experimentamos coisas. Há muitas semelhanças entre artistas e cientistas. Então a ideia era trazer a manipulação de objetos de cena, equipamentos de luz e som, de forma toda aparente e sendo revelada para a plateia. Porém, isso não esconde a magia, pelo contrário, faz justamente a magia aparecer. Você vê as coisas acontecendo na sua frente e sendo reveladas. A ideia era essa: com o elenco operando absolutamente tudo de dentro do palco”, contou.
Partindo deste ponto, iluminação e iluminador ganharam protagonismo especial na montagem. Se Tesla afirmava que “se você quiser descobrir os segredos do Universo, pense em termos de energia, frequência e vibração”, é na iluminação que vão se dar os contornos da montagem destas imagens e quadros imagéticos que darão vida ao pensamento do inventor. Quem ficou a cargo desta criação foi Beto Bruel, iluminador que há mais de 50 anos atua na área, tendo recebido inúmeros prêmios, como a Medalha de Ouro no World Stage – Seul, Coreia, 5 prêmios Shell – em SP e RJ, além de inúmeros Troféus Gralha Azul.
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Em entrevista, Beto comentou sobre a especificidade da criação de O UNIVERSO ESTÁ VIVO COMO UM ANIMAL: “quando você vai criar uma iluminação você assiste um ensaio, volta no processo, mas entra mesmo na parte final da criação. Nesse caso foi diferente. Nós tivemos que ir estudando essa montagem, com os atores virando iluminadores, e também os técnicos de iluminação”, destacou. Quando perguntado sobre os desafios desta criação, ele destacou a própria execução da iluminação durante a temporada:
“Neste caso, são os atores que chegam cedo e montam a iluminação, não tem um técnico. Foi um processo em que todo mundo teve que estar disponível. Foi um trabalho com muita camaradagem, com todo mundo disponível. A gente trabalhou com uma estética de luz no rosto, que não é do modo convencional que a plateia tava acostumada a assistir. O olho humano vê o que você quer e isso foi o mais interessante deste processo”, completou Beto Bruel.
Em meio a investigações sobre questões temporais das descobertas de Tesla e das materialidades como lâmpadas tubulares fluorescentes, inventadas pelo inventor e manipuladas pelos atores como agentes da cena, O UNIVERSO ESTÁ VIVO COMO UM ANIMAL busca também um lado sensível da subjetividade humana: da força criativa e criadora, da capacidade incansável de inventar se reinventar mesmo nos momentos mais difíceis da humanidade. Fernando Proença, que encarna Nikola Tesla em parte do espetáculo, traduziu este sentimento trazendo seu trecho preferido do espetáculo:
“O momento da peça mais marcante é quando fazemos uma entrevista onde nos perguntam o que é ser um inventor e logo em seguida refazemos essa pergunta perguntando o que é ser um artista. A resposta é a mesma para essas duas questões. A cada dia vamos para o nosso trabalho na esperança de descobrir e na esperança de que alguém, não importa quem, encontre a solução de um dos grandes problemas pendentes de solução. E, a cada dia que passa, voltamos à nossa tarefa com redobrado ardor. Mesmo não tendo êxito, nosso trabalho não terá sido em vão, pois nessas tentativas, nesses esforços, passamos horas de indescritível prazer e direcionando nossas energias em benefício da humanidade”, finalizou.
FICHA TÉCNICA:
O UNIVERSO ESTÁ VIVO COMO UM ANIMAL
dramaturgia – Diego Marchioro, Fernando de Proença e Nadja Naira | direção – Nadja Naira | elenco – Diego Marchioro, Fernando de Proença, Edith de Camargo e Augusto Ribeiro | iluminação – Beto Bruel | preparação corporal – Carmen Jorge | trilha sonora – Edith de Camargo | cenário – Érica Storer e Angelo Osinski | figurino – Luan Valloto | coordenação de projeto – Diego Marchioro | direção de produção – Cindy Napoli | assistência de produção – Rebeca Forbeck | comunicação – Fernando de Proença | produção local (Rio de Janeiro) – Nely Coelho – Ginja Filmes | assessoria de imprensa (Rio de Janeiro) – Lyvia Rodrigues – Aquela que Divulga | idealização – Rumo de Cultura, Diego Marchioro, Fernando de Proença e Isabel Teixeira | realização – Rumo de Cultura
Canção original O UNIVERSO ESTÁ VIVO COMO UM ANIMAL – letra Fernando de Proença – melodia Ná Ozzetti – arranjo e músico – Mário Manga – intérpretes – Ney Matogrosso e Ná Ozzetti
Masterclass, documentário e áudio série
Além das apresentações da peça, o projeto oferece algumas atividades gratuitas: Masterclass de Iluminação Cênica com Beto Bruel, que acontecerá no dia 02 de junho, às 17h, no Teatro I. Exibição do documentário Te(a)tralogia, nos dias 04 e 18 de junho, às 16h, no Cinema II. E Sala de Escuta, dia 11 de junho às 16h, da áudio série PEOPLE vs. TESLA – peça elétrica para ondas de rádio.
O UNIVERSO ESTÁ VIVO COMO UM ANIMAL foi viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura e conta com patrocínio de Eletrobras, Peróxidos do Brasil, BRDE e Neovia Engenharia.
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SERVIÇO:
[TEATRO] O UNIVERSO ESTÁ VIVO COMO UM ANIMAL
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro I
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Térreo – Centro – Rio de Janeiro
Contato: (21) 3808-2020 | ccbbrio@bb.com.br
Quando: 01/06/2023 a 25/06/23
Dia/hora: quintas e sextas às 19h30;
sábados às 16h e 19h30
domingo – 18h
*Sessão com libras: sábado 24/06 às 19h30
Duração: 50 minutos
Classificação: livre
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), emitidos na bilheteria física ou site do CCBB – bb.com.br/cultura
Meia-entrada para estudantes e professores, crianças com até 12 anos, maiores de 60 anos, pessoas com deficiência e seus acompanhantes e casos previstos em Lei. Clientes BB pagam meia entrada pagando com Ourocard.
Mais informações em bb.com.br/cultura
[MASTERCLASS] ILUMINAÇÃO CÊNICA POR BETO BRUEL
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro I
Quando: 02/06/23
Dia/hora: sexta-feira, às 17h
Duração: 90 minutos
Entrada: gratuita (retire seu ingresso 1h antes na bilheteria ou no site bb.com.br/cultura)
Classificação: livre
*A masterclass aborda a experiência de mais de 50 anos de carreira do iluminador Beto Bruel, um dos mais premiados e prestigiados do território brasileiro.
[DOCUMENTÁRIO] TE(A)TRALOGIA
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil – Cinema II
Quando: 04 e 18/06/23
Dia/hora: domingos, às 16h
Entrada: gratuita (retire seu ingresso 1h antes na bilheteria ou no site bb.com.br/cultura)
Duração: 71 minutos
Classificação: livre
*Desde 2016, 12 pessoas trabalham na criação de 4 peças. Em 2021, este grupo se reúne em um filme documentário a fim de elaborar questões sobre a construção de cena e suas ligações com a vida.
[SALA DE ESCUTA – ÁUDIO SÉRIE] PEOPLE vs. TESLA – Peça elétrica para ondas de rádio
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil – Cinema II
Quando: 11/06/23
Dia/ Hora: domingo, às 16h
Duração: 40 minutos
Classificação: livre
Entrada: gratuita (retire seu ingresso 1h antes na bilheteria ou no site bb.com.br/cultura)
*a peça sonora de ficção é dividida em três capítulos e se centra na relação de duas figuras: Tesla e o Mensageiro, em uma ação que acontece em um quarto de hotel, no final da vida de Nikola Tesla.