Por que ler literatura palestina?

A literatura palestina tem uma rica tradição literária que se estende por séculos e é caracterizada por sua diversidade e riqueza cultural. Obras palestinas, no escopo da literatura árabe em geral, datam de séculos atrás, mas a literatura nacional palestina tem fortes raízes nos eventos históricos que levaram à limpeza étnica de seu povo e à ocupação colonial israelense. O período que precede o Mandato Britânico e se estende até a criação de Israel incentivaram diversas obras nacionalistas. Isso fica claro quando observamos como a Nakba, como é chamada a catástrofe palestina, e suas consequências são a principal motivação por trás de inúmeras obras.

Como fruto de um povo que enfrenta e resiste à opressão sionista, a literatura palestina é também uma coletânea de relatos históricos, de traumas e busca coletiva pela libertação.

Ghassan Kanafani, considerado o mestre da literatura árabe moderna. Autor de Homens ao Sol.

Leia também: “Homens ao Sol” e “Umm Saad”: Ghassan Kanafani e a literatura palestina ganham força no Brasil

Mas a literatura palestina não se reduz às perdas, e sim reflete a batalha diária por autodeterminação. Em sua enorme variedade, obras atravessam o espaço-tempo trazendo imagens de uma Palestina passada que teima em resistir até que povo possa viver livre dos postos de controle, das expulsões e da opressão sionista. Mergulhar na literatura palestina é uma experiência única, porque ninguém narra melhor a sumud (ou resiliência, em português) palestina do que uma autora ou autor palestino.

Seja através de poesias, ensaios, ficção ou não- ficção, um livro sobre a Palestina está sempre desafiando a dificuldade de representar a experiência de ser palestino. Ao escrever sobre a literatura nacional, Edward Said afirmava que esta “realidade elusiva e resistente que tantas vezes tenta representar”. A literatura palestina é um desafio constante de representar uma realidade que parece ficção.

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Alguns grandes nomes da literatura palestina

Fadwa Tuqan

Uma das principais razões pelas quais a literatura palestina é tão cativante, é que muitos escritores palestinos são também ativistas políticos e sociais, sua escrita carrega também a luta contra a ocupação israelense e outras formas de opressão. As obras palestinas se estendem para além das produções de grandes nomes como Fadwa Tuqan, Mahmud Darwich, Ghassan Kanafani, Emile Habibi, Suad Amiry e Jabra Ibrahim Jabra, e oferece um universo inteiro a ser valorizado por leitores brasileiros.

Ler e divulgar obras palestinas é uma forma de apoiar seu povo na luta por libertação. Parafraseando Edward Said, a literatura palestina é fruto de um acordo coletivo baseado na premissa de narrar a si própria e no desejo de permanecer visível. Se a literatura palestina nunca esteve tão acessível aos leitores brasileiros quanto agora, então por que não fazer ecoar sua narrativa?

Sobre a autora:

Badra El Cheikh é mestre em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM/UFF). Possui graduação em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2017).

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