Acabei de ler esse livrinho (porque ele é pequenino mesmo, apesar de grande), Intrigas no Harém, de Verlow Woglo Derumeh, enviado pela @editoracoragem e vim escrever um pouco sobre ele e, principalmente, chamar atenção para uma curiosidade.
O livro é de um escritor nigeriano/brasileiro que veio para o Brasil aos 26 anos. Ele é um pesquisador de africanidades e escreveu essa história, uma espécie de fábula antiga, em que mistura culturas tradicionais da Nigéria com uma cosmovisão de sua terra, além de incluir divindades locais. Intrigas no Harém gira em torno de um rei que tem centenas de esposas – tipo 200 -, mas que acha uma favorita, o que causa ciúme em outras quatro que são consideradas as “amebos”. E aí a curiosidade que trago é a palavra amebo.
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Lá na Nigéria, a palavra amebo significa nada mais nada menos que língua solta ou fofoqueira, ou alguém que fala demais e se mete em assuntos alheios. Nada que a gente não conheça por aqui também. Mas, no livro, a palavra possui uma conotação, segundo o autor, “tribal” que é:
“amebo significa a esposa preferida do marido, que o alimenta com todas as notícias, inclusive as fofocas do dia; em um harém real, elas seriam as mais populares e protegidas pelos eunucos da corte.”
Achei interessante essa passagem de “a preferida” para a “fofoqueira” porque em ambos os casos a pessoa é quem detém o poder da palavra: a preferida porque os ouvidos vão sempre se abrir mais pra ela e a fofoqueira porque ela detém um único poder: o poder de domínio da informação.
A amebo, em todo caso é aquela que pode destruir um reino, ou uma vida, através da palavra. Em uma sociedade patriarcal, em que o poder do capital e da força está com os homens, a palavra se torna, muitas vezes, a única forma de defesa das mulheres. Atravessar a história pelo gênero pra entender que, inclusive, às vezes, essa defesa se torna um ataque. E isso é legítimo.
De qualquer forma, na vida, tente não ser um amebo.
Nem uma ameba.
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Sobre o autor:
Verlow Woglo D. Derumeh nasceu na cidade de Erhuwaren, Estado do Delta, Nigéria. Aos vinte anos emigrou para Gana e aos vinte e seis radicou-se no Brasil, em 1966. Formado em ciências sociais pela USP, possui pós-graduação e especialização em estudos africanos, doutorado em desenvolvimento econômico na Faculdade de Ciências da Administração e Economia de Osasco e diplomado em inglês pela Faculdade de Michigan, nos EUA.Outras obras publicadas pelo autor: O Coelho e o Mendigo, O Diabo e o Passageiro Clandestino, Lendas da África, Os Poderes do Oculto, África: Cultura Ritos e Tradições e África: história pela emancipação política e econômica.