Levada aos palcos pela primeira vez em Londres, em 1606, a peça Rei Lear é não só uma das maiores criações de William Shakespeare (1564-1616) como também assinala um dos pontos mais altos da dramaturgia mundial. A tragédia do rei majestoso e octogenário, que tem início quando este decide abdicar do trono e partilhar seu reino entre as três filhas, equiparando a herança de cada uma ao afeto que lhe demonstram, lança o protagonista numa espiral vertiginosa em que este passa do ápice do poder à crua indigência, encontrando sua perfeita realização dramática na célebre cena da “Tempestade”, no ato III.
Ao longo da peça, Lear e as demais personagens — com destaque para a figura genial do Bobo que, com suas tiradas certeiras e imprevistas, antecipa aspectos do que modernamente se chamaria “teatro do absurdo” — põem a nu uma ampla gama de emoções, normalmente ocultas, bem como variadas formas de luta pelo poder. Combinando enredos familiares e questões de Estado, códigos de conduta ancestrais e a emergência de valores mercantis, Rei Lear se situa precisamente na encruzilhada entre modos de vida e de atividade política que estão na raiz do mundo moderno.
Tudo isso ganha cor e relevo extraordinários nesta edição bilíngue com a tradução de Rodrigo Lacerda, que, na nota de abertura e no posfácio, explicita o quadro geral da obra, os dilemas de suas personagens e os pontos-chave da peça, bem como os critérios de tradução, que resultaram num texto apto a ser lido com beleza e fluência, seja por atores em cena, seja pelo leitor solitário no palco de sua imaginação.
Leia também: Shakespeare inédito descoberto na Espanha pode ser o primeiro do autor no país
Na orelha do livro, o professor José Roberto O’Shea da Universidade Federal de Santa Catarina, destaca que “provavelmente a última e certamente a mais trágica das tragédias de autoria de William Shakespeare, na qual o mecanismo da ação é o próprio sofrimento físico e psíquico do ser humano, nos mais distintos graus, Rei Lear é tão devastadora que, em 1681, o poeta e dramaturgo irlandês Nahum Tate reescreveu-a, introduzindo um notório final feliz que prevaleceu nos palcos ingleses por 150 anos.” E completa:
No caso de Rei Lear, as estratégias tradutórias por ele adotadas são tão sensatas quanto bem-sucedidas. De início, cumpre ressaltar a eleição feita pelos textos-base. Sendo King Lear uma peça de “textos múltiplos”, com três versões publicadas entre 1608 e 1623 — e com divergências entre si —, é crucial a definição das edições-base para a tradução — escolha que Rodrigo Lacerda explicita na “Nota do tradutor” que abre o volume.
Compre o livro aqui!
Sobre o autor:
William Shakespeare nasceu em 1564 em Stratford-upon-Avon, na Inglaterra. Frequentou até os quinze anos as chamadas Grammar Schools, onde estudou sobretudo a literatura latina. Em 1582 engravidou a filha de um fazendeiro das redondezas, Anne Hathaway, oito anos mais velha, e os dois casaram-se apressadamente. O casal teve três filhos. Em 1592, já em Londres, é um ator e dramaturgo de alguma projeção. Entre 1592 e 1594 produziu dois longos poemas narrativos, Vênus e Adonis e O estupro de Lucrécia, tendo como mecenas o conde Southampton.
Em 1594 é um dos acionistas da companhia Chamberlain’s Men, na qual permaneceu até o fim de sua vida. Nos primeiros anos da empresa enfileirou sucessos como Romeu e Julieta, Ricardo III e Vida e morte do rei João, entre outros, encenando as peças no Swan Theatre.
Entre 1596 e 1603, produziu novos êxitos, entre os qu ais Henrique V, Júlio César e Hamlet. Durante a década de 1590, escreveu também seus famosos sonetos e o poema A fênix e a pomba. Em 1599 entrou como sócio no Globe Theatre, o que fez sua fortuna crescer ainda mais. Após a ascensão do rei Jaime, em 1603, a companhia teatral de Shakespeare foi integrada à corte sob o nome de King’s Men. Com o novo reinado o dramaturgo se superou, escrevendo e produzindo, entre outras peças, Othello, Medida por medida, Rei Lear, Macbeth e Antônio e Cleópatra, e sua companhia adquiriu também o Blackfriars Theatre.
Neste período Shakespeare produziu suas peças finais, com destaque para Péricles, Conto de inverno e A tempestade. Aproximando-se de sua aposentadoria, começou a trabalhar em parceria com John Fletcher, nas peças Cardênio, Dois primos nobres e Henrique VIII. Voltando a residir em Stratford, Shakespeare faleceu em 1616.
Sobre o tradutor:
Rodrigo Lacerda é escritor, tradutor, editor e doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada (2006) pela USP. Publicou, entre outros, os livros O mistério do leão rampante (novela, 1995, prêmios Jabuti e Certas Palavras), Vista do Rio (romance, 2004), O fazedor de velhos (romance juvenil, 2008, prêmios Biblioteca Nacional, Jabuti e FNLIJ), Outra vida (romance, 2009, prêmio da Academia Brasileira de Letras), A república das abelhas (romance, 2013), Hamlet ou Amleto? Shakespeare para jovens curiosos e adultos preguiçosos (juvenil, 2015, prêmio Jabuti de Melhor Adaptação), Todo dia é dia de apocalipse (juvenil, 2016), Reserva natural (contos, 2018, prêmio APCA) e O Fazedor de Velhos 5.0 (juvenil, 2020). Traduziu para o português autores como William Faulkner, Alexandre Dumas, Raymond Carver, Charles Dick ens e H. G. Wells, tendo recebido, em parceria com André Telles, o prêmio Jabuti de Melhor Tradução em 2009 (Francês-Português) e 2011. Integrou a equipe de algumas das mais importantes casas editoriais do Brasil, como Nova Fronteira, Nova Aguilar, Edusp, Cosac Naify, Zahar e Record.
Ficha Técnica:
William Shakespeare
Rei Lear
Edição bilíngue
Tradução, posfácio e notas de Rodrigo Lacerda
448 p.
16 x 23 cm
689 g.
ISBN 978-65-5525-134-0
R$ 99,00