Antologia organizada por Alexei Bueno mostra como poetas como Gregório de Matos e Machado de Assis falaram sobre a escravidão.
A antologia “A escravidão na poesia brasileira: do século XVII ao XXI”, do escritor Alexei Bueno, tem como objetivo mostrar como grandes poetas brasileiros falaram sobre a escravidão através dos tempos.
O livro mostra, por exemplo, como a temática dos castigos físicos contra escravos apareceu nas obras de Castro Alves, Jorge de Lima e outros, de formas diferentes.
Bueno mostra, por exemplo, como a escravidão passou de paisagem à tema central da poética brasileira, em determinados momentos históricos e nas palavras de determinados autores.
Publicada pela Editora Record, a obra reúne mais de 200 poemas de 81 poetas diferentes.
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Um dos poemas abordados no livro é o Navio Negreiro de Castro Alves, que começa assim:
‘Stamos em pleno mar… Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm… cansam
Como turba de infantes inquieta.
‘Stamos em pleno mar… Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro…
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro…
‘Stamos em pleno mar… Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes…
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?…
‘Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas…
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest’hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento…
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia.
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
Dentre os poetas contemporâneos, o livro aborda a obra de Henrique Marques Samyn, autor de “Levante”, livro dividido em seis partes, “Desterro”, “Cativeiro”, “Ancestralidade”, “Resistência”, “Herança” e “Liberdade”.