A história começa em 1867 quando um grupo de caçadores que atravessavam a Selva indiana de Uttar Pradesh avistou uma toca de lobos e, cautelosamente, começou a se aproximar. Para o choque dos caçadores, no meio da matilha tinha um garoto de cerca de 6 anos de idade. Os caçadores decidiram tirar a criança, e para isso, espantaram com fogo a matilha da caverna. Eles deram ao menino o nome de Dina Sanichar e levaram-no para um orfanato na esperança de o “civilizar”.
O orfanato era dirigido pelo padre Erhardt, um missionário que vivia na Índia, que observou que, embora Sanichar tivesse “alguma doença mental, ainda mostrava sinais de razão e, às vezes, perspicácia real”. O sociólogo francês Lucien Maison, em seu ensaio Les Enfant Sauvages relatou que o garoto, por ter sido criado por lobos em meio a um ambiente selvagem, teria adquirido hábitos peculiares.
Por isso, sua adaptação no mundo civilizado foi considerada demorada e incompleta.
“Ele adquiriu o hábito de roer ossos para afiar os dentes e rejeitou as tentativas iniciais de se vestir. A única coisa que aprendeu durante os 20 anos em companhia humana foi ficar ereto, vestir-se com dificuldade e comer no prato e no copo”, afirmou Maison em seu estudo.
Sanichar se comunicava através de rosnadas e grunhidos, exatamente como um lobo, embora não fosse mudo, só fazia sons de animais. As pessoas do orfanato tentaram trabalhar com o menino e aos poucos ele começou a se adaptar, mas nunca aprender a falar, e consequentemente, também nunca aprendeu a ler ou escrever
O pioneiro da equipe de Pesquisa Geológica da Índia, o antropólogo Valentine Ball, descreveu Dina Sanichar como o “animal selvagem perfeito de todos os pontos de vista”.
Essa história fascinou particularmente, missionários, soldados e escritores dos países colonizadores, que foram confrontados com questões de personalidade enquanto subjugavam o povo da colônia. Rudyard Kipling, o escritor britânico que viveu muitos anos na Índia, ficou fascinado com a história e escreveu a coleção infantil The Jungle Book, em que um jovem “filhote”, Mowgli, vagueia pela floresta indiana e é adotado por animais – fazendo com que alguns sugiram que Sanichar foi a inspiração de Kipling. É uma fantasia sobre recuperar uma conexão perdida com o mundo natural e sobre o fim do isolamento humano.
Sanichar faleceu em 1895, de tuberculose, com estimados 30 anos.
Referências:
Mogli: O menino lobo, de Rudyard Kipling