Se você acha que antigamente não havia preconceito literário é aí que você se engana. Não só existia como fazia escritores consagrados se esconderem sob pseudônimos para publicar romances em jornais e revistas que fossem fora de suas pesquisas literárias ou fora dos altos padrões literários da época.
Romances românticos, água com açúcar ou então aventuras de capa e espada com muitas cenas de batalha e reviravoltas melodramáticas também fascinavam nossos autores clássicos. Só que eles optavam por esconder suas verdadeiras identidades ao escrever e publicar esses livros em pseudônimos, ou seja, em nomes inventados, ficcionalizados. O mais curioso é que alguns deles chegaram a dividir o mesmo pseudônimo e, inclusive, escreveram obras a quatro mãos.
Foi o caso, por exemplo, do pseudônimo Victor Leal, um pseudônimo que foi utilizado de forma compartilhada pelos escritores brasileiros Olavo Bilac, Aluísio Azevedo, Coelho Neto e Pardal Mallet. Só lembrando que os poetas e escritores eram de períodos distintos da literatura. Olavo Bilac, por exemplo, era parnasiano, gostava do aprumo da forma, enquanto Aluísio Azevedo era um naturalista, já inspirado pelas ideias positivas. Porém, todos se reuniam para escrever essas obras tão aclamadas pelo público, mas deixadas de lado pela crítica que as consideravam uma literatura “menor” ou de “qualidade duvidosa”.
O Esqueleto: conhecendo um desses romances
Fiquei curioso em conhecer um desses livros e entrei em contato com O Esqueleto, um romance de Victor Leal, publicado em forma de folhetim pelo jornal Gazeta de Notícias, em 1890. Os autores, na verdade, eram Olavo Billac e Pardal Mallet. Na ocasião, o desenhista Gustavo Hastoy desenhou para a Gazeta de Notícias a figura de Leal dois dias antes do início da publicação de O Esqueleto. A publicação da caricatura fez boa parte do público acreditar que se tratava de uma pessoa real.
O interessante de O Esqueleto, é que ele recebe o título de Mistério da Casa de Bragança, pois tem como um dos protagonistas Dom Pedro II, Príncipe Regendo do Brasil que, durante o romance, declara a independência do Brasil se tornando Imperador. Porém, a história é uma grande aventura de capa e espada, com uma pitada de melodrama e aventura do príncipe pelas ruas enlameadas da cidade ao lado de seu mestre de armas e fiel confidente.
O romance narra a história de Satanás, um personagem de passado obscuro, que causa certo medo nas redondezas e que é mentor e protetor de Dom Pedro. O papel de Satanás é ser uma espécie de companhia das noitadas de Dom Pedro, arrumar para ele parceiras amorosas e dividir confidências para além do papel de regente do Brasil.
No entanto, Satanás guarda um segredo: ele mantém sua bela filha de 15 anos, Branca, trancada dentro de caso com uma acompanhante. Ele havia ficado viúvo e resolveu criá-la distante do mundo com receio de que alguém possa ameaçar suas virtudes. Mas em sua primeira aparição pública, o desejo nasce tanto na menina quanto em seus diversos admiradores. A partir daí, a história de Branca e Satanás se desenrola a partir de uma série de violências e tragédias que trazem o pior e o melhor das pessoas em uma aventura aceleradíssima.