8 conselhos de Toni Morrison para escritores

[Seleção Open Culture]

Toni Morrison é uma das vozes mais potentes do nosso tempo. E isso pode ser dito no presente, a despeito da morte da autora em 2019, porque sua obra ressoa com nossos tempos e ainda o fará nos anos vindouros. A primeira mulher negra a ganhar um Nobel de Literatura, e também agraciada com um prêmio Pulitzer, Morrison é autora de livros catalisadores da literatura estadunidense e mundial como O olho mais azul, Amada e Canção de Salomão. Rótulos como o de “escritora negra” eram abraçados pela autora, que fez da questão racial um tema central em seu trabalho.

Numa entrevista para o Paris Review em 1993, ano em que venceu o Nobel, Morrison discorreu sobre assuntos que vão desde sua rotina pessoal e história, até sua identidade como escritora e mulher. Todas essas observações foram tecidas com percepções sobre arte que podem ser úteis para escritores (iniciantes ou não!). Confira algumas dessas sugestões abaixo!

Escreva quando você sabe que está no seu melhor

Para Toni Morrison, esse momento é antes do amanhecer, antes que seus filhos acordem, porque trabalha num turno completo. Além disso, julga que não é “muito brilhante, espirituosa ou inventiva” depois que o sol se põe. A autora descreve seu ritual matinal da seguinte maneira:

Eu sempre faço uma xícara de café enquanto ainda está escuro — tem que estar escuro — e então eu tomo o café e vejo a luz chegar.

Há uma linha tênue entre revisão e desgaste

É muito importante que um escritor saiba quando está se desgastando, porque, se uma coisa não está funcionando, “precisa ser jogada fora”. Mas, depois de perguntada se lê novamente seus trabalhos publicados e deseja ter jogado mais coisas fora, Morrison responde “Muito. Tudo”.

Um bom editor é como um “sacerdote ou um psiquiatra”

Morrison trabalhou como editora para a Random House por 20 antes de publicar seu primeiro livro. Ela pondera sobre a relação entre um escritor e um editor dizendo que, se você trabalha com o editor errado, “está melhor sozinho”. O indício de um bom editor? Ela diz que é quando um oferece crítica, e não elogios, porque não tem particular paixão por você ou seu trabalho.

Não escreva para um leitor, mas para os personagens

Saber como ler o seu próprio trabalho, com a crítica distanciada de um bom leitor, te faz um “escritor e editor melhor”. Para Morrison, isso significa não escrever com leitores em mente, mas com os personagens. A eles você pode pedir conselhos, para dizer “se a interpretação de suas vidas é autêntica ou não”.

Controle os seus personagens

Apesar da pressão sempre presente e clichê de “escreva o que você sabe”, Morrison tenta evitar aproveitar traços de personalidade de pessoas que conhece. Como ela coloca, “fazer uma carreira enquanto escava a vida de outras pessoas é uma grande questão, e tem implicações éticas e morais”. Para manter controle de seus personagens, Morrison diz “Eles não têm nada na sua mente além de si mesmos e não têm interesse em nada além de si mesmos. Então você pode deixá-los escrever o livro para você”.

Enredo é como uma melodia; não precisa ser complicado

Morrison resume sua abordagem com o enredo de Jazz e de O olho mais azul da seguinte maneira: “Coloquei o enredo inteiro na primeira página”. Em vez de construir enredos intricados com reviravoltas ocultas, ela prefere pensar no enredo em termos musicais como uma “melodia”, onde a satisfação reside em reconhecê-lo e depois ouvir os “ecos e sombras, voltas e pivôs” ao seu redor.

Estilo, como o jazz, envolve infinitas práticas e restrições

Falando em jazz, Morrison diz que sempre se considerou um músico de jazz, “alguém que pratica, pratica e pratica para poder inventar e fazer com que sua arte pareça fácil e graciosa”. Uma grande parte de seu estilo “jazz”, ela diz, é “um exercício de restrição, de contenção”.

Seja você mesmo, mas esteja consciente da tradição

Sobre a diversidade de músicos e cantores afro-americanos de jazz, Morrison diz: “Gostaria de escrever assim. Eu gostaria de escrever romances que são meus de maneiras inconfundíveis, mas que, no entanto, se encaixam primeiro nas tradições afro-americanas e, em segundo lugar, essa coisa toda chamada literatura.”

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