A ascensão de governos autoritários que flertam com discursos, premissas e/ou práticas fascistas por todo o mundo tem convocado pesquisadores, ativistas, pensadores e todo tipo de gente a pensar em estratégias para barrar as investidas autoritárias que colocam em risco as nossas democracias, construídas à tão duras penas.
O NotaTerapia selecionou 8 livros que podem ajudar aqueles(as) que buscam refletir acerca do fascismo e dos movimentos autoritários a pensar a história e, como consequência, o atual momento pelo qual passamos. Confira:
1- Antifa – O Manual Antifascista, de Mark Bray
Baseado em entrevistas com antifascistas de todo o mundo, o livro detalha as táticas do movimento antifa e a filosofia por trás dele, oferecendo insights sobre a crescente, mas ainda pouco compreendida, resistência contra à extrema-direita.
2- O que é o fascismo? E outros ensaios, de George Orwell
Romancista celebrado pelas distopias de 1984 e A Revolução dos Bichos, George Orwell também foi um prolífico repórter e colunista. Entre as décadas de 1930 e 1940, o autor de O Que é Fascismo? colaborou em diversos veículos da imprensa britânica. Nesta coletânea de 24 ensaios publicados em revistas e jornais, organizado por Sérgio Augusto, Orwell explora um amplo espectro de assuntos, sempre perpassados pela política, sua principal obsessão intelectual e literária. Com temas que variam de Adolf Hitler à pornografia, de W. B. Yeats a O Grande Ditador, os textos selecionados pelo jornalista Sérgio Augusto compõem um inteligente mosaico das opiniões de Orwell durante o período crítico da Segunda Guerra Mundial e do início da Guerra Fria. Com sua visão irônica do mundo conflagrado da época, os ensaios demonstram a potência criativa do “socialismo democrático” adotado pelo escritor como credo político após sua experiência na Guerra Civil Espanhola, em contraposição aos totalitarismos de esquerda e de direita então em voga.
3- V de Vingança, de Alan Moore e David Lloyd
Uma poderosa e aterradora história sobre a perda da liberdade e cidadania em um mundo totalitário bem possível, V de Vingança permanece como uma das maiores obras dos quadrinhos e o trabalho que revelou ao mundo seus criadores, Alan Moore e David Lloyd. Encenada em uma Inglaterra de um futuro imaginário que se entregou ao fascismo, esta arrebatadora história captura a natureza sufocante da vida em um estado policial autoritário e a força redentora do espírito humano que se rebela contra esta situação. Obra de surpreendente clareza e inteligência, V de Vingança traz inigualável profundidade de caracterizações e verossimilhança, em um audacioso conto de opressão e resistência.
4- Para uma vida não-fascista, de Margareth Rago e Alfredo Veiga-Neto (organizadores)
Este livro pode ser visto como uma crítica aguda aos fascismos que hoje se apossam de nós com suas promessas de mais poder. E, caminhando junto com a crítica, está o alerta para o quanto nossa vida se torna mais sombria, amarga e infeliz cada vez que nos encantamos com qualquer forma de fascismo. Tomando o conhecido Prefácio que Michel Foucault escreveu para o livro O Anti-Édipo: introdução a uma vida não-fascista, de Gilles Deleuze e Félix Guattari, professores e especialistas reuniram-se para discutir e explorar as possibilidades que aquele surpreendente e elucidativo texto foucaultiano ainda oferece para pensarmos e melhor compreendermos nosso mundo atual. De tais discussões, nasceu esta obra.
Os organizadores acreditam que ele pode contribuir, por meio das críticas e análises de seus diversos autores, para a construção de modos de vida libertários e para a extinção das muitas formas de fascismo presentes na contemporaneidade. Esta publicação destina-se a todos os interessados em conhecer um pouco mais do legado intelectual de Michel Foucault e a todos que pretendem pensar e problematizar o presente com base no pensamento de um dos filósofos mais importantes do século XX.
5- As origens do totalitarismo, de Hannah Arendt
Reconhecido à data de publicação como um dos mais importantes contributos para a compreensão do totalitarismo, e mais tarde considerado um clássico, As Origens do Totalitarismo ganhou entretanto o estatuto de história definitiva sobre esta realidade política. Começa por explicar a ascenção do anti-semitismo na Europa oitocentista, para de seguida analisar o imperialismo colonial europeu de 1884 até ao deflagrar da Primeira Guerra Mundial. A parte final do livro analisa as instituições e a acção dos movimentos totalitários, centrando-se nas duas formas genuínas de governo totalitário do nosso tempo: a Alemanha nazi e a Rússia estalinista. Neste ponto, Arendt descreve a transformação das classes em massas, o papel da propaganda no mundo não totalitário e ainda o uso do terror como requisito essencial para esta forma de governo. No brilhante capítulo final, Arendt analisa o estado de isolamento e de solidão dos indivíduos enquanto pré-condição para o domínio absoluto pelo Estado totalitário.
6- Homens em tempos sombrios, de Hannah Arendt
Este livro reúne ensaios biográficos de homens e mulheres que viveram os “tempos sombrios” da primeira metade do século XX, marcados pela emergência do totalitarismo na forma do nazismo e do comunismo stalinista.
Mergulhando em mundos internos tão díspares como os de Hermann Broch e João XXIII, Rosa Luxemburgo e Jaspers, Isak Dinesen e Bertold Brecht, Heidegger e Walter Benjamin, Hannah Arendt submete a uma reflexão apaixonada, e por vezes implacável, os erros e acertos dessas personalidades, suas culpas e vitórias, responsabilidades e irresponsabilidades perante a realidade que enfrentaram.
A beleza destes relatos reside na sólida crença de Arendt na solidariedade e dignidade humanas, valores morais capazes de impedir o triunfo do niilismo e do totalitarismo numa época de experiências catastróficas. O volume traz também um posfácio de Celso Lafer com um perfil de Hannah Arendt.
7- É isto um homem?, de Primo Levi
Clássico sobre o Holocausto, É isto um homem? é um libelo contra a morte moral do indivíduo. Contra o homem que se deixou desumanizar. No livro, o escritor e químico italiano Primo Levi relembra seu sofrimento num campo de extermínio, sem, contudo,invocar qualquer resquício de auto piedade ou vingança. Deportado para Auschwitz em 1944, entre outros 650 judeus italianos, Levi foi um dos poucos que sobreviveram, retornando à Itália em 1945. A precisão da linguagem, a vivência e firmeza do autor fazem desta obra uma leitura da qual é impossível se escapar ileso.
8- Como funciona o fascismo: a política do “nós” e “eles”, de Jason Stanley
Fascismo: originalmente, regime de cunho ideológico estabelecido pelo ditador Benito Mussolini na Itália da década de 1920, que valoriza ideais de nação e raça em detrimento dos valores individuais e é representado por um líder autoritário. Mas por que esse termo voltou à ordem do dia em pleno século XXI?
À luz de episódios recentes de democracias que enveredaram para regimes mais ou menos totalitários; de líderes democraticamente eleitos que usam retóricas fascistas para fazer política, como Donald Trump; mas também bebendo no extenso histórico do fascismo – de Mein Kampf, de Hitler, aos discursos fratricidas que levaram ao genocídio de Ruanda na década de 1990 –, Jason Stanley analisa a estrutura comum por trás de todas essas experiências. Ele estabelece os dez principais fundamentos do fascismo, entre os quais encontramos: a ideia de reviver um passado mítico e glorioso; o uso de propaganda para distorcer e minar conceitos e instituições democráticas (tendo como pretexto o combate à corrupção); ataques a universidades e intelectuais; uma forte noção de hierarquia; a política da lei e da ordem baseada na ideia de grupos minoritários criminosos; e a valorização do “trabalho duro” em prejuízo de sistemas de bem-estar social.
Tais mecanismos apoiam-se uns aos outros simbioticamente, criando e reforçando divisões, ao mesmo tempo em que minam os pilares da democracia – eleições livres, judiciário independente, liberdade de expressão e de imprensa etc. – que poderiam conter a ascensão totalitária. A história nos mostra o imenso perigo de subestimar o poder cumulativo dessas táticas, que deixam a sociedade cada vez mais vulnerável aos apelos da liderança autoritária. Apenas identificando as políticas fascistas, o autor argumenta, poderemos resistir a seus efeitos mais danosos e retornar aos ideais democráticos.
*Sinopses retiradas do Skoob.