Black Stories é um jogo de cartas com enigmas dignos de filmes de terror, que desafiam a criatividade dos participantes em decifrá-los fazendo perguntas. As regras são simples: um narrador é escolhido para ler a frente da carta em voz alta aos demais ouvintes (não há limite de participantes) e depois o narrador lê o verso para si com a explicação do que aconteceu. Os participantes vão tentar descobrir a resolução da história contada fazendo perguntas ao narrador em que a resposta seja “sim” ou “não”, cabendo também ao narrador dizer o que é relevante ou não para a história. Os participantes precisam trabalhar em equipe e saber construir uma narrativa sucinta e coesa que una todas as pistas apuradas.
Cada edição vem com 50 cartas, não requer mesa e pode ser levado para qualquer lugar no bolso. Mesmo que sua temática seja imprópria para menores de idade, o esquema a ser analisado aqui é de construção lógica e frasal. Caso haja problema, existem outros jogos da mesma desenvolvedora, são: Orange Stories, Green Stories e Red Stories, estes não há restrição de idade e mantém da mesma forma o esquema enigmático.
Diante da dificuldade de ensino, trabalhar com a leitura é uma papel desafiador, principalmente se tratando de alunos mais novos. Quando nos deparamos com um jogo simples e acessível que utiliza o texto e a interpretação como ferramentas fundamentais, devemos como educadores — não só de disciplinas de Português — pensar em meios para facilitar a formação escolar. Levando isso em conta, foram elaboradas algumas propostas lúdicas para a sala de aula.
Adequação sintática
O segredo desse caso está no termo “assassinato”. Para solucioná-lo é necessário entender que existem dois assassinatos ocorrendo, e as ações de fascínio e passar despercebido não se referem ao mesmo. Sintaticamente, ambos os vocábulos “assassinato” e “ele” deveriam remeter a um só, afinal o pronome seria apenas uma retomada coesiva para adicionar o acontecimento final.
Sendo assim, de que forma o texto como proposto textual (a face da carta, primeira acima) ficaria mais adequado ao sentido do enigma?
- Poderia repetir o substantivo “assassinato” em vez de usar o pronome “ele”, a fim de distanciar e/ou marcar este, daquele. Caso queira uma marca ainda maior, pode também trocar a vírgula por ponto e vírgula.
Embora todos estivessem fascinados com o assassinato, o assassinato passou completamente despercebido.
Intertextualidade natural
O objetivo desse caso é exercitar o conhecimento prévio. Não apenas uma competência do saber, os alunos têm de fazer referências, seja a histórias mitológicas, contos populares, seja a quaisquer outras narrativas já difundidas. Portanto, é preciso acionar o conhecimento de mundo naturalmente, mesmo sem ser cobrado disso (daí o título do tópico “Intertextualidade natural”). Desvendar o enigma depende apenas desse gatilho para pensar na história de Adão e Eva – não sendo necessário, obviamente, pertencer a uma religião para isso. Caso o aluno não conheça, a resposta nunca vai se desenvolver.
Agora, veja abaixo o enigma Homicídio Simples.
Pense bem agora, neste o conhecimento prévio é fundamental?
- Mesmo que se trate de uma história famosa de Shakespeare, ela não contribui em nada. Nessa situação o não-conhecimento age exatamente ao contrário: ele ajuda. Quando se pensa que Romeu e Julieta são apenas nomes aleatórios escolhidos na história, fica mais fácil chegar ao resultado de que o casal trágico não é de humanos, e atentar, inclusive, à imagem do gato na direita.
Funcionalidade informacional
Até aqui, você pode dizer que para a resolução de um enigma, toda informação escrita foi imprescindível? Se sim, reveja o caso acima. Que pistas para a solução foram fornecidas ao saber que o “senhor de idade” usa um sobretudo? Objetivamente, o texto final não revela nenhuma contribuição na informação sobre a vestimenta. Mas quando se trata de um jogo subjetivo, quais informações podem ser retiradas e quais precisam ser mantidas?
Pensando nessa proposta, posicione-se sobre as perguntas feitas anteriormente e discuta entre os demais como precisaria ser o texto-rosto da carta.
- Não há resposta certa. Se o aluno acreditar que é, sim, necessário mostrar a informação do sobretudo, sua resposta é válida desde que apresente uma justificativa. O tal argumento deve mencionar algum dos seguintes pontos: estímulo a criatividade, dar características para imaginar a situação na vida real; realismo descritivo, a fim de convencer o leitor à verossimilhança; ou simplesmente para dificultar, forçar os participantes a perguntar sobre a veste (“Ele estar usando um sobretudo é relevante para a história?) e eliminar da resolução.
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