4 motivos para acompanhar Maravilhosa Sra. Maisel

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Para os órfãos do humor ligeiro de Amy Sherman e Daniel Palladino desde o fim de Gilmore Girls, em 2007, o anúncio de sua nova série, Maravilhosa Sra. Maisel, foi muito bem-recebido. The Marvelous Mrs. Maisel (título original) já conquistou 2 prêmios no Globo de Ouro em 2018, dentre eles o de Melhor Série de Comédia ou Musical. A série, ambientada na Nova Iorque dos anos 50, acompanha a personagem-título, Midge Maisel, na sua transição de perfeita dona de casa judia para uma independente comediante. Recheada dos afiados diálogos com que os espectadores de Palladino já estão familiarizados, a série da Amazon nos presenteia com uma narrativa vivaz cuja inovação age nas entrelinhas, bem a modo de Gilmore Girls. Mas para dispensar comparações com essa série-símbolo dos anos 2000, Maravilhosa Sra. Maisel se dedica às primeiras pisadas da mulher na comédia e na sua própria emancipação, preparando o terreno para que histórias como as das mulheres Gilmore pudessem ser contadas.

1- Todos os personagens brilham

É evidente que o eixo principal da série dedicado, principalmente, à brilhante Midge Maisel e às suas aventuras na comédia. Mas também conhecemos personagens secundários – alguns, quase terciários – que, ao conseguirem um momento ao holofote de Palladino, sempre ocupam a cena com uma personalidade distinta. Todos os personagens, sem exceção, são peculiares, mostrando que há trabalho envolvido nos mínimos detalhes de sua caracterização.

É o caso do pai de Midge, cuja sagacidade humorística muito se assemelha à da filha, ou da dupla-facetada Sophie Lennon, única humorista mulher que alcançou sucesso na época, ou mesmo do sogro de Midge, Moishe, cuja história “gloriosa” do “salvamento” de judeus na Segunda Guerra é sempre relembrada por ele próprio em suas cenas. Um dos grandes méritos da série foi elaborar esses personagens memoráveis em todos os núcleos temáticos.

2- Uma história de empoderamento feminino sem estereótipos

Que fique bem claro: quando me refiro a estereótipos, estou falando daquelas imagens comuns às histórias de empoderamento feminino dos dias de hoje, e, às vezes, até aquelas que preferimos: a da “mulher forte” a da “feminista resiliente”, etc. No caso de Midge, conhecemos uma verdadeira dondoca cuja rotina consiste em tirar as medidas do próprio corpo (para ver se não engordou depois de ter os filhos, óbvio!), em fingir para o marido que não passa 50% do seu dia se dedicando à própria aparência, e também em fazer caçarolas para o dono do bar em que ele tenta a sorte como comediante a noite, para furar a fila.

A vida de Midge girou tanto em torno do próprio marido que, ao descobrir que ele a havia traído e que queria o divórcio, Midge decide fazer de si mesma uma personagem de stand-up: a Sra. Maisel. A sua transição de dona de casa rica e perfeita para uma ousada comediante também se transformou no resgate de si mesma antes do casamento, da moça inteligente que se graduou em Literatura Russa e que sempre atraiu plateias por suas colocações hilárias. A série demonstra como o sexismo atinge até mesmo a mulher rica, branca e perfeitamente acomodada no padrão de beleza, quando ela decide ocupar algum espaço que não a própria casa.

3- A amizade de Susie e Midge

Enquanto Midge encarna os princípios de uma feminilidade rica e padrão e sutilmente os desvirtuam em sua comédia, a personagem de Susie, gerente do bar em que a personagem principal fez seu debut e que torna-se sua empresária, não somente tem uma baixa renda como também transgride muito do que se esperava de uma mulher de seu tempo: organiza a programação noturna do bar que gerencia com punho de aço, veste-se com chapéus e suspensórios e não sabe demonstrar seus sentimentos.

Além disso, é uma mulher trabalhadora que mal cabe no cubículo onde mora sozinha. Susie, desde o início, reconheceu o potencial de Midge e a orientou como só alguém com o mesmo talento e língua afiada possuem. As intérpretes Rachel Brosnahan e Alex Bornstein também contribuem para o carisma das personagens, que, mesmo externalizando personalidades tão distintas, passam por dificuldades tão similares.

4- Os diálogos

Marca-registrada de Amy Sherman e Daniel Palladino, os diálogos ricos de Maravilhosa Sra. Maisel são o segredo para a série ser uma comédia em todos seus diferentes núcleos, não somente nas cenas com Midge. O humor da série, como pouco se vê atualmente, é realmente de gargalhar, e a rapidez dos diálogos só acrescenta à caracterização dos personagens. Mas deixo aqui o diálogo falar por si mesmo:

Baz: Então eu imagino que seu marido não gostou do horário que escolhemos para ele hoje à noite.
Midge: Não, ele ama o horário que vocês escolheram. Só tem um pequeno problema. Nossa filha está doente. Dor de ouvido. E 1:45 é muito tarde. Eu não sei o que fazer. Pensei que –
Susie: O seu filho não estava com sarampo na semana passada?
Midge: Quê? Ah, sim. Ele estava, sim.
Susie: E na semana anterior, sua mãe não estava com raquitismo?
Midge: Sim, foi muito dolorido.
Susie: E no último mês, sua cunhada quebrou o dedo do pé. Seu irmão não entortou as costas. São muitos problemas de saúde. Sua família precisa comer mais fruta.

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