No ano de 2018 a criatura lendária criada por Mary Shelley completa dois séculos de existência. Nestes dois séculos, Frankenstein vem sendo cada vez mais um ícone não só da literatura, mas da arte em geral. Nos cinemas, o monstro ganhou vida através de diversos atores, sendo o mais marcante deles Boris Karloff, na sequência de filmes iniciada em 1931 pela Universal Studios. Desde então, os filmes sobre o monstro de Mary Shelley não pararam mais. O romance gótico de Mary Shelley foi o início do que conhecemos hoje como ficção científica, misturado com um belo toque de horror. Uma das obras mais marcantes da literatura mundial, na qual um jovem cientista desafia a morte e cria vida a partir dos mortos.
Para homenagear o bicentenário da icônica obra de Mary Shelley, será realizada em Porto Alegre, na Cinemateca Capitólio, de 18 de maio a 3 de junho, a exposição FRANKENSTEIN: 200 ANOS DO PROMETEU MODERNO. Para apresentar com mais detalhes a exposição, convidamos Leo Dias, artista plástico e idealizador do projeto:
A idéia para a realização de Frankenstein: 200 Anos do Prometeu Moderno me surgiu quando pensei em uma peça em parceria com meu amigo Ale Amorin. Queria tê-la feito fundindo nossos dois estilos de escultura. E o tema perfeito para uma fusão de partes diferentes que funcionam como um todo era claro para mim, a criatura de Frankenstein!!!
Mas onde e por que faríamos isso? Tenho apoio do Fantaspoa, o que é a casa perfeita para algo assim, e em uma rápida pesquisa, ainda em 2017, descobri que 2018 fechava certinho os 200 anos da publicação.
E é aí que eu entro em modo de combate, agora não era mais uma coisa que a gente poderia fazer, era uma coisa que nós tínhamos que fazer, custe o que custasse.
Consultei o JP, do Fantaspoa, que me deu carta branca.
Porém a vida de artista plástico é beeem corrida, e percebi que seria inviável modelar a criatura tendo um artista por membro, como era a minha idéia original, no período de tempo que dispunhamos.
Ainda assim, o conceito coletivo permaneceu, e traremos um ambiente imersivo onde várias cabeças pensam pela estética do livro.
Temos escultores, artistas digitais, pintores, maquiadores, atores, músicos, ilustração a nanquim, pintura a óleo, montagens, pop art, artistas em couro e madeira…
Todo artista que envereda pelos caminhos do horror já nasce endividado com a obra máxima da Mary Shelley. Nesses dois séculos ela se embrenhou indissociavelmente no inconsciente coletivo e a criatura, em sua versão pelas mãos de Jack Pierce, tornou Boris Karloff a face do horror mundial.
Mas pouquíssimas vezes se retratou criador e criatura fielmente ao livro.
E eu parto deste ponto, para tal, passei o verão mergulhado em um laboratório de anatomia, gentileza de um amigo anatomista, que o abriu para a minha pesquisa.
Procurei ser religiosamente obediente a descrição do livro. O que ainda assim dá muita margem à interpretação e liberdade criativa.
Pesquisando técnicas cirúrgicas do século 19 desenvolvi o conceito central da minha escultura, e convidei meu amigo Fernando Schmidt para emprestar seu talento para a confecção de uma espécie de exoesqueleto que mantém o torso interligado. Ele acabou também ficando a cargo de um coração steampunk, algo que eu sempre quis ver relacionado à obra.
O Gustavo Sza está construindo uma espécie de maca onde o monstro foi montado e reanimado, também de olho na realidade de uma sala cirúrgica clandestina no começo de 1800.
Yuri Seima nos traz seu conhecimento de ocultismo, galvanismo e outras artes perdidas em uma série de esboços feitos de forma que criem a sensação de serem projetos de Victor Frankenstein durante sua pesquisa. Marcos Miller traz o mesmo tipo de leitura, porém num viés mais industrial.
Francisca Braga e Ron Selistre são nossa jóia em delicadeza, e prefiro não contar o que fizeram, deixando que a sutileza arrebatadora de suas criações tenham o efeito ao vivo.
Ale Amorin vem com peças incríveis em cerâmica, explorando uma série de possibilidades do que pode acontecer quando se faz experiências com orgãos. A Leyla Buk está trazendo uma série de suas bonecas, com algumas das faces que a criatura já teve, assim como uma da própria autora , Mary Shelley.
Rafael Tavares, Jansen Baracho, Victor Bezerra, Liz Minelli, Michel Munhoz, Ramon Rodrigues, Julian Weber, Xande Rodrigues e Luana Marques trazem leituras únicas de suas concepções para a criatura em quadros nas mais diversas técnicas, óleos, pontilhismo, surrealismo punk, pop art, xilogravura e colagens. É como um passeio por 200 anos de influência na cultura universal.
A Martha Buzin trará fotografias que são uma janela para o mundo fora da obsessão de Victor Frankenstein, acentuando a sensação de que estamos percorrendo a mente obstinada do cientista.
O Ricardo Ghiorzi reforça a sensação de um laboratório de anatomia com conservas pavorosamente realistas.
A Ale Pernau está realizando uma instalação em animação que traz ainda maior impressão de vida ao laboratório.
O Henrique San criou um jornal que será distribuído apenas na noite de estréia, imaginando a reação da sociedade aos experimentos que fora do âmbito científico são uma abominação. Jornal que será distribuído pelo Lorenzo Santini, vivendo um jovem jornaleiro, em trajes de época.
Temos também o Peter Gossweiler, que vai criar sons ambiente, para que a experiência atinja todos os sentidos.
Por fim, também apenas na noite de inauguração, teremos a Anelise Dias interpretando a Mary Shelley durante uma performance especial, com maquiagem e cabelos da Luiza Marcon.
Acima de tudo, queremos prestar respeito à criação de uma mente genial, que sozinha pensou em questões que ainda hoje são fundamentais em nossa sociedade. Se fizermos nosso trabalho corretamente, poderemos oferecer uma janelinha para a imaginação dos visitantes terem uma experiência rica em informações.
Veja abaixo em detalhes algumas das obras a integrarem a exposição (clique nas imagens para ampliá-las!).
Escultura por Leo Dias
Detalhe do monstro de Frankenstein da escultura de Leo Dias
Gravura por Ramon Rodrigues
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