A arte talvez seja o caminho possível pra se construir outros mundos e outras formas de habitá-los. Neste sentido, a potência da criação artística nos permite vislumbrar sentidos e experiências de si e dos outros pautadas em uma ética, uma estética e uma política que acolham as diferenças e as singularidades.
Bruno Belo é um artista plástico da cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Seu trabalho tem referências em Burroughs e Tarkovsky e, a partir de fotografias digitais e imagens sobrepostas, o artista constrói obras que falam de movimento, diferença e multiplicidade. Sobre seu processo de criação, o autor afirma, em seu site:
A pintura se revela gradativamente em uma imagem pouco referencial. A idéia não é reproduzir o visível, mas entorná-lo neste meio liquefeito, pictórico, de cores lavadas, permitindo que imagens extraídas de fontes dessemelhantes possam se fundir em um processo de sobreposição de camadas e transparências. A construção do trabalho deriva da idéia de “Cut Up” de W. S. Burroughs e surge a partir de um processo de constantes projeções de imagens sobre a tela, utilizando um equipamento antigo 100mm e também fotografias digitais extraídas de fontes diversas, gerando assim novas possibilidades e construções ao processo de pintura – revelando uma convergência que não é unívoca, não reproduz verdades, mas produz sentidos, em que as imagens se confundem à essa pintura na qual ambas não dariam conta da experiência a que se referem.
O método cut up, utilizado por William Burroughs como técnica de escrita, consiste em pegar um texto linear e recortá-lo, de modo a se apropriar de algumas palavras ou partes do texto e reagrupá-las, construindo assim um texto sobre o texto, ou um texto do texto, ou melhor, textos que se sobrepõem, se atravessam e criam novos textos. Estes textos, muitas vezes, são de outros autores e até mesmo propagandas; Burroughs se utilizava do cup to para romper o fluxo das palavras que, segundo o escritor, tornaria a leitura hierarquizada e fortaleceria a palavra, que seria um vírus. O conceito remonta ao Dadaísmo, mas foi Burroughs quem o popularizou, nos anos de 1950-1960. Andrei Tarkovsky, cineasta russo, também se utilizou de técnicas de cut up para produzir imagens disruptivas em seus filmes.
O artista Bruno Belo*, por sua vez, inspirado por estes movimentos de disrupção, circularidade e multiplicidade, produz, em tela e papel, obras que estão preocupadas em produzir esta leitura de um mundo que não se pauta na Verdade, mas na produção de sentidos e de imagens que, mutáveis, mutantes e inconstantes, podem se re-criar constantemente. Confira, abaixo, algumas das obras do artista:
*Mais informações sobre o artista, seu contato e suas outras obras no site: http://www.brunobelo.com.br