Autor: John Fante
Editora: L&PM Pocket, 2005
Tradução: Lúcia Brito
Páginas: 142
Já não é fácil. Nunca foi. Mas parecia ser, foi vendido como esperança, e habitou a mente de todo e qualquer homem e mulher do século XX nos Estados Unidos: O Sonho. Assim, maiúsculo, o sonho americano era a esperança de que toda e qualquer pessoa nascida naquele país abençoado por deus poderia e iria prosperar. Que todos os talentos seriam desenvolvidos e todos os sonhos seriam acolhidos e realizados. Um país de celebridades, de ricos, de gente bonita e feliz circulando pelas cidades o orgulhosa de morar no melhor país do mundo.
Bom, pelo menos esta era a promessa porque a realidade…a realidade era muito diferente: a terra de oportunidades era também a terra de injustiças e dificuldades e a arte refletiu isso da forma mais cruel de todas: nos mostrando o resultado do fim do sonho. Pessoas, juntas, naquilo que podiam fazer até, por fim, desistirem.
1933 Foi Um Ano Ruim, de John Fante, conta a história de Dominic Molise, um menino de 17 anos, pobre, que sonhava em ser um grande lutador de baseball. Segundo o próprio, ele possuía um braço mágico, capaz de arremessar bolas que ninguém poderia pegar, muito menos seu amigo rico Kenny, com quem gostaria de seguir viagem para tentar a carreira no esporte. No entanto, sabendo das dificuldades da vida, o pai de Dominic insistia em que ele devia desistir deste sonho e, como ele, ser pedreiro, apesar da profissão ficar vaga durante longos meses do ano por conta das nevascas.
Entretanto, para Dominic o sonho era já real. Ele dizia possuir O Braço, maiúsculo como o Sonho e acreditava que nada poderia lhe tirar isso. Aos poucos, porém a realidade começava a bater à porta: Sua mãe entristecia por suspeitar ser traída, sua vó, uma italiana imigrante, sofria de saudades de sua terra e, a cada momento, a vida se tornava um abismo que levava Dominic direto para o posto em que seu pai ocupava. Uma família pequeno burguesa, periférica como qualquer outra e sem nenhum bilhete premiado.
A narrativa de Fante, mais uma vez uma porrada, um relato cru de uma sociedade, não mascara a poesia e o misticismo que havia neste sonho americano. A transcendência nos instantes fugazes da vida aparecem ao mesmo tempo em que uma espécie de entropia narrativa coloca cada ação em um ponto ridículo, mas sublime. Quem é Dominic além de um menino que não sabe que é? Quem é que poderia salvar o menino?
E assim, o mesmo poderia ser aplicado a todos os personagens. Todos fatalmente sem saídas em um mundo cheio de saídas. Livres para sempre nada. Trata-se, então, da montagem, como num mapa, de uma espécie de realidade desencantada pelo que poderia ter sido, mas nunca será. Fante, inspirador de gerações de escritores futuros soube ver em 1933 o ano ruim que foi e que, provavelmente se repetiria no decorrer da história.
A literatura americana desencantada é, e deveria ser cada vez mais, acervo histórico para se ler o século XX dos Estados Unidos. Sem ela, qualquer narrativa soará ficcional demais. Com ela, se fará verdadeiramente história.