Baby poderia ser mais um filme sobre um romance gay, mas ele acaba sendo muito mais do que isso. Marcelo Caetano junto a Gabriel Domingues apresentam um novo olhar marginal sobre a cultura LGBTI+ de São Paulo e suas dores.
O filme narra a história de Wellington, um jovem recém-saído de um centro de detenção juvenil por estar completando 18 anos, mas que ao sair não encontra ninguém que possa acolhê-lo. Ao se deparar com a situação, ele busca alguns amigos que o introduzem ao mundo alternativo LGBTI+ do centro de São Paulo, levando-o até um cinema pornô, onde conhece Ronaldo, que acolhe o rapaz e o ensina a sobreviver nas ruas. O vínculo entre eles vai se transformando em um caso turbulento conforme o filme avança e Wellington adquire mais maturidade.
Baby, fez parte da programação da Semaine de la Critique, mostra paralela que integra a programação oficial do Festival de Cinema de Cannes em 2024, e rendeu o prêmio de Melhor Ator Revelação a Ricardo Teodoro no mesmo festival.
Marcelo Caetano trabalho com um elenco já conhecido por ele de outros trabalhos, trazendo ao filme nomes como Ricardo Teodoro, Ana Flavia Cavalcanti, Bruna Linzmeyer e Luiz Bertazzo, que por já conhecerem o diretor e sua dinâmica, apresentam um trabalho com desenvoltura e uma tranquilidade familiar.
O casal vivido por João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro possui uma excelente química em cena. Mariano, que dá vida a Baby, tem uma atuação singular ao dar cores a uma personagem com tantas cicatrizes. Teodoro, por sua vez, tem uma atuação refinada, com todas as nuances necessárias para protagonizar esse romance. Através dele, somos capazes de capturar a complexidade de um reencontro de forma singela.
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A pesquisa de Marcelo Caetano para Baby tem como referência o clássico Pixote, a Lei do Mais Fraco, de 1981 e, conforme citado pela Vitrine Filme, a produção “Tentou manter a cidade viva no filme e os atores foram preparados para lidar com o acaso. A ideia não era organizar a confusão de São Paulo, mas sim dançar com o caos da cidade”, isso permite que os atores estejam imersos e focados na dinâmica proposta pela cidade.
Tecnicamente, Baby é impecável com uma fotografia que nos ajuda a entrar nessa narrativa convulsa sem nos causar vertigem. Marcelo Caetano, com sua linguagem e estética muito bem definida, explora ainda mais esse romance e universo.
Baby se torna mais que um romance entre dois homens, pois busca dar visibilidade a um grupo marginalizado sem repetir estereótipos. O roteiro tem um olhar gentil, para uma relação familiar conturbada, machista e patriarcal e aborda questões como ressocialização e pessoas em situação de vulnerabilidade.
O trabalho desenvolvido por Marcelo Caetano e equipe técnica é muito importante para o cinema brasileiro, pois revela a paixão de Caetano pela cidade de São Paulo encontrando soluções que deixam a produção um pouco mais barata, sem perder a qualidade técnica cinematográfica. Gostaria de ressaltar que Baby é um filme sem subtexto que apresenta basicamente as dores de uma comunidade ao mundo, deixando o filme ainda mais potente, vivo e empático.