8 poemas de Bruna Lombardi para conhecer

Além de atriz, Bruna Lombardi é escritora, poeta, roteirista e palestrante. Começou a trabalhar como modelo em 1967, logo após se formar na Escola Superior de Propaganda e Marketing e Comunicação na FAAP, em São Paulo. Quando ainda era estudante, venceu vários concursos de poesia e foi publicada em revistas internacionais. Em suas diversas atuações, estreou na televisão na novela Sem Lenço, Sem Documento (1977) e destacou-se interpretando Diadorim, na minissérie Grande Sertão Veredas (1985), na Rede Globo. Entre 1991 e 1999, na rede Manchete, produziu e apresentou o programa de entrevistas Gente de Expressão. No cinema, produziu, roteirizou e participou de vários filmes. Desde 2014, mantém um canal no YouTube dedicado a assuntos relacionados ao bem-estar e à espiritualidade.

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Estão entre alguns títulos publicados pela autora: No ritmo dessa festa (1976), Gaia (1980), Jogo da Felicidade (2015), Clímax (2017), Poesia Reunida (2017) e Manual para corações machucados (2024), livro de crônicas, lançado pela editora Sextante.

Confira alguns poemas:

Mistura
A gente ama devagar e tão completamente que nem entende mais quem é um
e quem é o outro e qual a diferença.
As coisas, quando elas se misturam, formam uma substância ainda melhor. Nessa mistura o que somos permanece.
Sou eu ainda, indivíduo, e tenho ele comigo, ele é o pedaço que me falta e me completa
e o que eu trago é o complemento dele.
Em mim ele tem tudo o que precisa, nem sei mais o que é meu e o que é dele, não tem divisa, mais, não tem contorno.
A gente adormece entrelaçado
nem sei de quem é a mão perto do peito nem sei mais de quem são esses sonhos.
E nem dormir a gente quer, tempo roubado
das nossas horas de prazer, de tanta intimidade. A gente quer amar e desfrutar e não parar.
Nenhum sonho é melhor que a realidade.

Manual do Amor
Pra compreender uma mulher é preciso pesquisar tudo o que é falta de juízo.
E sempre que achar que a entende saber que ela muda de repente
e passa a não fazer o menor sentido.
Um calafrio, um sopro, um gemido, tudo interfere em seu comportamento. Nunca se sabe o que se espera dela
se vira o tempo com a direção do vento.
Seu desejo percorre escalas infinitas
vai num instante de um abismo a uma estrela e vem sem manual, só códigos e hieróglifos
e não adianta esperar que ela nunca se revela.
Parece simples e intrincada, complexa e singela e te levou à loucura naquele quarto de hotel, onde foi da explosão de um rock pesado
à contenção do bolero de Ravel.

Temporais
Os que enfrentam temporais e continuam
quando tudo diz que não quando falta o céu e o chão continuam
quando o pouco se reduz
e se apaga toda a luz
ainda assim
os que querem saber mais quando faltam as respostas quando as feridas expostas não se curam.
Continuam na ausência de um sinal quando o bem se confunde com o mal e as coisas se misturam.
Aqueles que continuam
e olham pra dentro sabem
que sempre chega o momento
em que as águas se abrem.

Delito
Cometemos grave delito porque depois
dormimos abraçados
e esse foi nosso maior pecado
compartilhar o sono.
Só o amor permite esse prazer.
Querer ficar, permanecer
depois da fúria e do cansaço
e desfrutar desse profundo abraço,
-momento mais pleno-
cometemos um delito de amor,
meu moreno.

Bons observadores
Eu só quero os bons observadores
são esses os que realmente me interessam.
Aqueles que percebem as sutilezas mais discretas,
os que têm o humor correndo pelas veias
e um fascínio pelas coisas mais secretas.
Nos reconhecemos com facilidade,
sabemos códigos, somos uma espécie
de espiões de nós mesmos e da vida.
Nossa conduta é tão visível quanto clandestina,
tão cuidadosa quanto destemida.
Pra eles revelo as mais tentadoras surpresas.
Sou uma permanente atração,
tudo em mim é inusitado e delirante,
tudo se mostra.
Mil reflexos tem o prisma do diamante.
Brilho infinito tem a alma exposta.

Sutil
Tudo me atravessa, tenho sido
uma garota sutil na minha essência.
Neurociência de pensar na contramão
a escolha dos rumos, os caminhos que traço
não são da mais fácil compreensão.

Só para alguns na multidão que se destacam
porque prestam atenção ao delicado,
a esses, o segredo é revelado.
Eles descobrem a natureza do tesouro
e o divino do seu significado.

Entrega
Se por acaso uma estrela juntou nossos caminhos
na iminência dessa tempestade,
e se ainda existir uma chance de sermos salvos,
eu rezo.

Mesmo se neste milênio Deus tenha nos deixado
no meio da destruição e do caos, eu rezo.

Eu carrego um tesouro e preciso protegê-lo.

Você nunca me prometeu nada e nunca vai prometer.
E se eu me comporto como uma mulher estranha é
porque perdi todo orgulho, perdi a noção de mim mesma
e não me importo.

O que eu tenho pra dar parece mais importante agora.

Viajei um longo caminho, longas noites
olhando o céu na escuridão, em busca de respostas.

A lembrança que carrego de você já não é mais você.
As estrelas já não estão lá.
Eu rezo para o vazio.

Um espaço vazio é maravilhoso.
Um espaço vazio é o começo.

Sem promessas
Nós nunca nos prometemos amor pra sempre
não prometemos nada, simplesmente
fomos ficando juntos, e a cada dia
a vida nos trazia sua maravilha.

Juntos enfrentamos desafios e temporais
nadamos contra muita correnteza
não tivemos nunca dias iguais
mas infinitas mudanças e surpresas.

Somos agora mais fortes e belos, mais unidos
conhecedores de todos os perigos
amantes de um eterno recomeço,
sempre em busca do desconhecido.

Não prometemos nada, nem sabíamos
como seria apaixonante essa jornada,
quantas passagens teria o nosso rito.

Aprendemos a somar tantas vivências,
ficamos sábios de todas as ciências
por esse amor maior e infinito.

Fonte

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