A professora Yasmin Rosana Biavatti conta a importância da literatura para ensianr uma língua estrangeira para seus alunos
Além de ser a atividade mais prazerosa do mundo, na minha humilde opinião como professora há 11 anos, o ato de ler talvez seja aquele que mais traz benefícios àquele que a pratica, a curto e longo prazo, e nas mais diversas esferas da vida. É certo que manter o hábito da leitura facilita a interpretação de texto, torna o ser humano mais culto, expande seus horizontes, desenvolve vocabulário… e facilita o aprendizado de outras línguas. Não falo, necessariamente, de leituras na língua que se deseja conhecer, e sim, da experiência de leitura em geral, independente de seu modo de execução.
Como professora de inglês, percebo com clareza, desde o primeiro dia de aula, quem são os alunos leitores. Esse seleto grupo carrega características dificilmente encontradas em outros perfis. Mesmo sem ter tido contato anterior com o idioma, manipulam letras e palavras com facilidade e precisão, visto que reconhecem a função delas e tendem a agrupá-las de forma correta, gramaticalmente; embora, muitas vezes, não saibam nomear classes de palavras, sabem reconhecê-las intuitivamente e aplicam-nas acertadamente.
Essas observações são explicadas por teorias de linguagem (confira o link para um excelente artigo de Letícia M. S. Correa sobre a aquisição da linguagem, para melhor compreensão), que sugerem que nosso cérebro contém clusters que, basicamente, fazem com que até mesmo uma criança sem grande domínio sobre a língua portuguesa compreenda, impensadamente, que “o menino pula a cerca” faz mais sentido que “a cerca pula o menino”. Essa tese é aplicada de diversas formas, e fica aparente que quanto mais abrangência de leitura um estudante tiver, mais fortalecida será essa lógica interna – e mais fluentes serão suas produções orais e textuais.
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Outra habilidade de suma importância na aquisição de uma segunda língua é o aprendizado por associação (um afluente da interpretação de texto), coisa que os leitores fazem quase diariamente. Essa prática baseia-se em conseguir compreender significados de frases e palavras assimilando-as com o contexto onde estão inseridas. A exemplo: você sabe o que significa “chiste”?
Talvez não, porém, lendo a frase: “fizeram chistes e todos riram, exceto a mim, que não havia ainda encontrado a graça”, é quase certo que você formou uma interpretação dessa palavra. Pode ser que você não consiga descrevê-la precisamente, mas provavelmente você entendeu sua definição. Alunos com alto histórico de leituras têm uma facilidade absurda no que diz respeito a essa interpretação de significados, e essa é uma ferramenta poderosa. Já tive alunos de nível inicial que gabaritaram respostas na seção de inglês de provas e concursos, inclusive no ENEM, por conta dessa habilidade. Todos eram leitores vorazes.
Para não estender-me ao infinito, destaco o que considero ser o traço mais importante de um aluno leitor: a intimidade com textos e palavras. Parte do aprendizado de um idioma encontra-se, inevitavelmente, de forma textual. Embora existam atualmente diversos métodos de aprendizado, inclusive alguns que não envolvem o uso de livros e textos, qualquer língua do mundo sustenta-se em quatro pilares (escrita, fala, escuta e leitura), sendo que dois estão firmemente relacionados ao conteúdo escrito; portanto, admitir textos e livros como materiais de apoio e parte do dia a dia, para um estudante, facilita a estrada do aprendizado.
Especificamente tratando-se do inglês, utiliza-se quase o mesmo alfabeto do português (inclusive, sem uso de ç e acentos), há diversas palavras semelhantes e as estruturas frasais são, na maior parte do tempo, equivalentes. Consequentemente, a uma pessoa familiarizada com palavras, estudar inglês jamais será um bicho de sete cabeças, e sim, uma atividade prazerosa da qual a maioria das dificuldades principais já terão sido supridas pelo conhecimento prévio – e, normalmente, inconsciente – carregado pelo aluno leitor.