“Escova de dentes”: Cris Oliveira estreia na poesia com dança experimental das palavras

Com uma escrita experimental, que traz influências da poesia concreta, da poesia narrativa e do haicai japonês, “Escova de dentes” (104 pág) é o livro de estreia da bibliotecária paulistana Cris Oliveira (@cris_taiane), uma das finalistas da chamada de publicação em poesia da Editora Claraboia. Publicado pelo selo de publicação assistida da Claraboia, a Editora Paraquedas, o livro tem orelha assinada pela escritora Ana Rüsche, finalista do Prêmio Jabuti em 2019. 

A obra se constitui como uma antologia poética, sem possuir um fio condutor específico. Entretanto, segundo a autora, os temas abordados refletem experiências universais, como a saudade, a ansiedade, o medo e a distração. “Escova de dentes” não foi um projeto pensado, mas surgiu como um desejo da bibliotecária de levar a sua escrita para além de postagens no Instagram, tendo sido desenvolvido ao longo de quatro anos. 

“São poemas, longos e curtos, que falam da poesia, de linguagem, de saudade, de escova, de coisas banais e estranhas, como um banheiro químico, de café, do sol, da Califórnia, da Suíça, de São Paulo, fala da nossa falta de atenção ao belo, de amor, de elo, e sobretudo é um experimento brincadeira dança de idiomas e palavras, sons e pessoas, com muita curiosidade e humor”, define Cris.

Cris Oliveira conta que a escrita surgiu de uma necessidade de expressão, “talvez numa crise precoce de meia idade, de identidade”. A autora afirma que, apesar de gostar das aulas de redação na época da escola, passou a escrever majoritariamente textos técnicos na idade adulta. Apesar disso, seu contato com a literatura começou cedo, com fortes raízes no contato com o cancioneiro popular. O contato com a música, em especial com as rimas e com as métricas das canções, foi importante para sua formação como poeta. 

O reencontro com a música, inclusive, é relevante ao seu processo como poeta, particularmente em um episódio em que abraça o cantor Caetano Veloso. “Ele me deu um abraço, eu chorei à beça e concordei que a vida é boa, e correspondi àquele abraço, e pensei, puxa, por que não viver na imensidão essa de deslumbres? Passei a produzir poemas diariamente”, revela.

Leia também: “Pra que roam os cães nessa hecatombe”: Manuella Bezerra de Melo e a poesia desossada

Leia um poema:


lamber

a ferida para formar

casca

saber

colher os louros, recolhendo

cacos

lamber

geleia de laranja com

casca

Sobre a autora

Nascida em 1974 em São Paulo, capital, Cris Oliveira é formada em Biblioteconomia e Documentação pela USP e trabalha com gestão de coleções digitais e metadados na sede da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Genebra, na Suíça, onde reside. Participou em antologias da I Jornada de Poesia Virtual e do VI Festival de Poesia de Lisboa, tem textos publicados na Ruído Manifesto, selo Off Flip e no blogue da Bibliotrónica Portuguesa da Universidade de Lisboa. 

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