É isso mesmo que você leu: um dos maiores sucesso de Clarice Lispector, nosso amado livro “A Paixão Segundo G. H.” se transformou em filme e teve estreia no segundo semestre de 2020. Trata-se de uma das mais esperadas e instigantes adaptações da literatura pois, dentre as obras de Clarice, G. H. parece ser a personagem mais soturna, mais voltada para dentro de si mesma e, provavelmente, a que mais busca conectar-se com os lados mais secretos da humanidade, não à toa é aquela que tem a atitude mais drástica, não?
Para quem não conhece A Paixão Segundo G. H., o livro conta a história de G. H. que, após dispensa da empregada, resolve entrar em seu quarto e fazer ela mesma a faxina do local. Ao entrar no recinto, ela vê uma barata morta ente as portas do armário e, em um gesto de autoconhecimento, resolve comer o animal morto. Imagina fazer isso no cinema? Como será que a equipe imaginou a cena?
O NotaTerapia separou 5 motivos para você assistir a adaptação cinematográfica da obra:
1- O diretor é Luiz Fernando Carvalho, diretor da série Capitu, baseada no livro Dom Casmurro, de Machado de Assis
Luiz Fernando Carvalho é um dos maiores diretores de televisão e cinema do Brasil. O seu maior clássico é a também dificílima adaptação do livro Lavoura Arcaica, do (quase) silencioso Raduan Nassar. Mas não só: o diretor, nos últimos anos, tem se especializado em adaptar grandes clássicos da literatura, como obras de Ariano Suassuna (A Pedra do Reino), Eça de Queirós, Roland Barthes, Milton Hatoum, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, entre outros.
Luiz Fernando dirigiu uma das adaptações de maior sucesso da televisão: a série Capitu, baseada no clássico de Machado de Assis, uma das mais cultuadas das últimas décadas, que teve atuação do ator Michel Melamed no papel de Casmurro e a atriz Maria Fernanda Cândido interpretando Capitu mais velha.O diretor já havia adaptação Clarice Lispector para a televisão, com Correio Feminino (2013), baseado em textos da autora para uma coluna feminina de jornal, com uma pegada pop e design dos anos 60.
2- Foram meses de ensaio e adaptação antes das gravações
As gravações do filme só foram feitas depois de muitos meses de ensaio em um galpão na Zona Oeste de São Paulo. Segundo matéria do Adoro Cinema, o diretor retomou um método bastante intensivo para a transposição da obra para a telona. Segundo o diretor, essa “adaptação é sempre complexa, mas quando se trata de Clarice Lispector, o fluxo de consciência presente na palavra escrita representa um desafio a mais.” A opção foi, então, por retomar um método semelhante ao que usou em Lavoura Arcaica, de 2001.
“Não acredito em adaptação. Eu trabalho diretamente sobre o livro, é como se o filme fosse uma espécie de resposta à leitura”, disse o diretor.
3- O filme é filmado á moda antiga, ou seja, em película, e não digitalmente
Fazer um clássico da literatura estimulou o lado clássico do diretor que optou por não filmar digitalmente, mas fazer um filme “à moda antiga”, em película. “O cinema para mim sempre foi muito ligado à textura da película. Eu preciso da textura da película, desta não realidade, da emulsão do grão. O imediatismo do vídeo aniquila o ritual [do cinema]. E, no caso de Clarice, o ritual é tudo”, afirmou.
4- Quem vai fazer G. H. é a grande atriz Maria Fernanda Cândido, a eterna Paola da novela Terra Nostra
O desafio de fazer G. H., essa mulher que é um dos grandes mistérios da literatura brasileira, ficou a cargo de Maria Fernando Cândido, conhecida desde o sucesso da televisão Terra Nostra. A atriz, que já trabalhara com o diretor na minissérie Capitu, ressaltou o desafio e o árduo trabalho que foi compor sua personagem: “Tem sido bastante intenso e rico. A gente acaba se descolando muito da nossa realidade, das nossas atitudes automatizadas. É difícil às vezes”. Para ela, adaptar Clarice torna o projeto ainda mais especial: “É sempre uma responsabilidade muito grande se aproximar de um personagem, qualquer que seja ele, mas Clarice [talvez seja mais especial”, contou a atriz.
5- É a primeira adaptação da obra para o cinema
Adaptar as obras de Clarice Lispector é sempre um grande desafio. De literatura introspectiva, com foco em uma “voz interior” das personagens, não é fácil a transposição para uma linguagem imagética como a do cinema. Não à toa, Clarice teve apenas três de seus livros ou contos adaptados para o cinema: o clássico A Hora da Estrela, de Suzana Amaral, em 1985; Estrela Nua, dirigido por José Antônio Garcia e Ícaro Martins, de 1985 e O Corpo, de José Antônio de Barros Garcia, de 1991, além de Correio Feminino, de Luiz Fernando Carvalho, para a televisão, de 2013.
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