Autor: H. G. Wells
Tradução: Alexandre Barbosa de Souza e Rodrigo Lacerda
Páginas: 200
“- Eu posso ficar invisível! Isso transcenderia a mágica.
E contemplei, dissipadas as dúvidas mais nebulosas, uma visão magnífica de tudo o que a invisibilidade poderia significar para um homem: o mistério, o poder, a liberdade.”
H. G. Wells
A questão da invisibilidade sempre foi, ao mesmo tempo, um anseio e um temor de todas as pessoas através dos tempos. A ideia de poder estar em um lugar sem ser visto, ou seja, de poder circular pelos espaços públicos sem precisar cumprir as normas sociais vigentes, é, quiçá, um desejo que assoma qualquer um de nós pelo menos uma vez na vida. Há de se destacar, entretanto, que a ideia da invisibilidade possui um caráter duplo: um individual, de querer estar em um lugar para saber o que um amigo ou um parceiro faz, pensa diz; e outra esfera pública, de um limite científico a ser ultrapassado e uma lei a qual não se precisa cumprir. O Homem Invisível, de H. G. Wells, trata da questão através dos dois pontos e faz isto com maestria.
O Homem Invisível, de H. G. Wells, conta a história de um jovem cientista que, após anos de pesquisa, descobre a fórmula de se tornar invisível. Ao chegar a pequena cidade de Iping, o homem se dá a ver como um ser completamente enfaixado, portando luvas e óculos que protegem grande parte do seu corpo. No entanto, sua atitude reclusa, em meios a produtos químicos, tubos de ensaio, logo desperta suspeitas dos moradores da pequena vila que, dia após dia, começam a buscar descobrir o seu segredo. Acuado, o homem se mostra profundamente raivoso, violento e comete uma série de crimes para tentar proteger sua identidade e sua vida.
O mais interessante da obra, a meu ver, é que, logo de cara, a invisibilidade não é posta como um poder, mas como uma espécie de maldição, algo que se deve esconder. Como se fosse um jogo, estar invisível para Griffin – o nome da personagem – não se é usufruir da arte de não ser visto, mas a impossibilidade de ser visto quando se quer. Coisas simples como estar vestido ou se alimentar, tornaram-se ações que só poderiam ser feitas de maneira reclusa, uma vez que revelavam ao público a invisibilidade do invisível. Dizendo de outra forma, estar invisível se transforma, para H. G. Wells não da vantagem de um homem sobre o resto da humanidade, mas justamente no ponto em que se perder a capacidade de conexão humana. Por isto, o que se vê em Griffin é apenas solidão:
Em todos os meus grandes momentos, sempre estive sozinho.
E falar de grandes momentos significa: os momentos em que se fazia a pesquisa, o momento da descoberta da fórmula, o instante em que se desaparece um pequeno objeto, posteriormente um gato e, finalmente, o momento em que, de tamanha solidão, a solidão se materializa. Eis porque, O Homem Invisível é, de certa forma, uma obra trágica, afinal ela se sustenta em uma premissa que, principalmente em nossos dias, seria como “um poder” e no instante seguinte se desloca para sua ambiguidade. Tornar-se maldito, no fim das contas, é o primeiro passo para ser realmente um maldito.
Sua sina, para não dizer outra palavra, é vista por si mesmo como:
De que vale o orgulho de ocupar uma alta posição se você não pode aparecer? De que vale o amor de uma mulher se seu nome é Dalila? Não gosto de política, das intrigas da fama, de filantropia, nem de esporte. O que eu podia fazer? Acabei de tornando um mistério enfaixado, uma caricatura amortalhada de homem.
Apesar do que parece, entretanto, O Homem Invisível é uma obra que mistura diversos gêneros. Em alguns momentos, tem-se a impressa de se estar em uma cena de humor em que um grupo de pessoas briga, como numa comédia pastelão, com uma figura invisível que burla os espaços a todo momento. Em outros, estamos diante de um thriller em que as cenas de ação e fuga se sucedem em meio a passeatas imensas das cidades urbanas lotadas e, por fim, em alguns casos estamos diante da especialidade de Wells: o flerte com as obras científicas e da ficção científica.
Enfim, O Homem Invisível, de H. G. Wells é uma obra clássica do gênero que nos mostra como o pensamento científico foi se configurando com mais força no século XIX e no começo do século XX. É, também, um incrível relato sobre os limites éticos da ciência e os limites psíquicos da solidão humana. Uma obra ímpar de caráter exemplar.
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