Você deve estar se perguntando o que é um terror-conto de fada, mas antes você saberia dizer o que é Terror?
Na literatura e no cinema essa questão aí já foi discutida e trabalhada desde que estas mídias surgiram, mas a resposta é um tanto incerta. É difícil, afinal, dizer a que gênero pertence uma obra, e com o terror não é diferente; é um exemplo bem nítido. Diante de suas mais variadas formas sob as quais foi representado, fica quase impossível admitir uma classificação limitada. Seria qualquer história que causasse medo, terror?
Em sua essência, os contos de fada advertiam através do medo e por esta razão podem ser considerados as primeiras narrações a fazerem parte do gênero. A Europa Medieval, berço das muitas histórias que conhecemos, encarava uma realidade de mortalidade (principalmente) infantil grande, de estupros e assassinatos, de saúde precária, e as pessoas — talvez inconscientemente — começaram a contar sobre monstros na floresta, caminhos perigosos, pessoas de índole questionável e também o amadurecimento interno por si só como devastador. Por isso que temos versões de Chapeuzinho em que ela morre no final e sabemos que originalmente a Pequena Sereia tem o mesmo destino, sem contar os porquinhos, joãozinhos e mariazinhas que padecem na crueldade do mundo.
Começamos com:
1- Os Lobos Dentro das Paredes, de Neil Gaiman
“Lucy escutou ruídos. Os ruídos estavam vindo de dentro das paredes.”
Ninguém acreditava na menina quando ela dizia ouvir ruídos dentro das paredes de casa. Todos insistiam em lhe responder: “Você sabe o que dizem… Se os lobos saírem de dentro da parede está tudo acabado.” Isso a deixa bem angustiada, e sabemos disso pelas conversas com seu porquinho de pelúcia. Só depois que de fato, lobos saíram das paredes e tomaram a casa, foi que obviamente acreditaram. E passaram a morar no jardim da casa, como refúgio. Depois de lembrar que seu porquinho havia ficado para trás, na casa, e pensar que os lobos “poderiam fazer coisas terríveis a ele”, foi que Lucy resolveu voltar e resgatá-lo.
2- O Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro
O filme fala sobre nada mais, nada menos, que o percurso de Ofélia e sua extensa imaginação, deixando o telespectador questionar o que é real. Contos de fada são exatamente sobre isso, um percurso, uma jornada interior repleta de incertezas.
E antes que apontem, as fadinhas que aparecem no filme (e são comidas) estão longe de ser a razão pela qual é classificado como “conto de fada moderno (e macabro)”. Não são de fadas porque os tais serezinhos aparecem em todas as histórias — até porque não aparecem — são chamados assim porque dizem respeito ao fatum. Do latim: fado, destino. Se alguém tivesse que ser a fada desse filme seria o próprio Fauno em sua sinistra ambiguidade.
3- O Chamado do Monstro, de Patrick Ness
Conor tem 13 anos e não sente medo quando um monstro o chama toda meia-noite. Isso porque ele tem pesadelos piores, tão ruins que não os diz nem mesmo ao monstro. Sua mãe passa por um tratamento quase impossível de câncer.
Vemos os contos de fadas em partes, quando o monstro conta suas três histórias a Conor. Histórias estas que nem sempre fazem sentido para o menino, por terem finais contraditórios e quase sempre infelizes. E vemos também o conto de fada maior, que é a própria história do livro em si, quando ao final o monstro pede para que Conor conte uma quarta história, que diz respeito aos seus pesadelos inconcebíveis.
Você pode chorar com o final ou pode estrebuchar no chão. Escolha.
4- O Babadook, de Jennifer Kent
É difícil explicar o sentimento ao ver esse filme, mas na maior parte do tempo, é de angústia. Não necessariamente é algo ruim, certo? É só que a história é pra ser assim. É toda a premissa.
Amélia cria o filho problemático (e chato) sozinha, depois de ter perdido o marido num acidente de carro. Um dia o filho descobre um livro e pede para a mãe lê-lo. A princípio a história parece inofensiva e bobinha. Mas em poucos segundos ambos percebem seu teor macabro e acabam conturbados, com direito a mais uma cena do menino tendo um ataque histérico.
Nunca vi a depressão ser representada de uma forma tão bem feita quanto em Babadook, (e consequentemente uma das melhores representações da Sombra de Jung também). Desde os simbolismos, aos detalhes como o livro “Sr. Babadook” feito à mão nos fazem entrar numa atmosfera pesada e que, como o próprio final da história deixa bem claro, compreendemos um pouco mais o peso de uma doença psicológica a qual é impossível se livrar por completo.
5- James e o Pêssego Gigante, de Henry Selick / Roald Dahl
James tem uma vida tranquila com seus pais amorosos e no momento planejam viajar para Nova Iorque. Até que um rinoceronte de nuvens tempestuosas os mata. James acaba vivendo com a única família que lhe resta, duas tias horríveis que o mantém trancado no sótão. James passa horas sem comer e tendo apenas insetos como seus amigos, sonhando com a viagem para Nova Iorque que nunca aconteceu. No entanto, em breve um presente mágico vai não apenas dar vida ao velho pessegueiro no quintal abandonado, como fazê-lo dar apenas um único pêssego, mas enorme o suficiente para destruir a cerca e o galo vizinho confundir com o sol nascendo.
A aventura repleta de canções com as marcantes personalidades dos insetos, que estavam dentro do pêssego, consegue tecer uma história simples e bonita, de que é possível superar momentos tenebrosos da vida com força de vontade e amor.
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