[Postado por Pela Toca]
Futuro? Capacete? Falta de gravidade ou simplesmente um mundo como o nosso, apenas diferente em suas tecnologias? Será o mundo em que a ciência prevaleceu sobre a natureza? Definir o que é ficção científica é uma tarefa bastante árdua, principalmente se levarmos em conta as obras tão díspares de cada autor do gênero. A cosmovisão de cada um e a forma que eles adotam para pensar o mundo – será ele apocalíptico? ditatorial? um retorno às origens? – retratam seus horizontes futuros/passados e imaginários, interferindo diretamente em como será, afinal, aquilo que definirá a tal “ficção científica”.
Para fomentar o assunto e investigar um pouco a visão de alguns dos autores do gênero como Clarke, Asimov, Le Guin e Dick, o site Pela Toca separou 7 incríveis definições de ficção científica. Confira:
1- Ray Bradbury
A ficção científica é] um campo que estendeu a mão e abraçou todos os setores da imaginação humana, cada esforço, cada ideia, cada desenvolvimento tecnológico, e cada sonho. […]Pois, acima de tudo, ficção científica, tão no passado quanto Platão tentando descobrir uma sociedade adequada, tem sido sempre uma fábula que ensina moralidade… Não há um problema grande esta tarde que não seja um problema de ficção científica. Ficção científica, então, é a ficção das revoluções. Revoluções no tempo, espaço, medicina, viagem e pensamento… Acima de tudo, ficção científica é a ficção de homens e mulheres humanos, de sangue quente, às vezes elevados e às vezes esmagados pelas suas máquinas. […] Então ficção científica, nós agora vemos, está interessada em mais do que ciências, mais do que máquinas. Esse mais é sempre os próprios homens e mulheres e crianças, como eles se comportam, como eles esperam se comportar. Ficção científica é apreensiva sobre os futuros modos de se comportar, assim como das futuras construções de metal. […] A ficção científica imagina as ciências antes que elas brotem para fora das sobrancelhas dos homens pensantes. Mais, os autores no campo tentam adivinhar máquinas que são frutos dessas ciências. Então nós tentamos imaginar a forma como a humanidade irá reagir a essas máquinas, como as usará, como crescerá com ela, como será destruída por elas.
Outra das definições do autor é essa:
Ficção científica é, de fato, estudos sociológicos do futuro, coisas que o escritor acredita que irão acontecer por somar dois mais dois.
2- Isaac Asimov

Ficção científica pode ser definida como o ramo da literatura que lida com a reação dos seres humanos às mudanças na ciência e tecnologia.
3- Arthur C. Clarke
Ficção científica é algo que poderia acontecer – mas você não iria querer isso. Fantasia é algo que não poderia acontecer – embora muitas vezes você apenas deseja que possa.
Outra definição é:
Ficção científica não tenta prever. Ela extrapola. Apenas diz “E se?”, não o que vai ser? Poque você nunca pode prever o que poderá acontecer, especialmente na política e na economia. Você pode, até certo ponto, prever na esfera tecnológica – voo, viagem espacial, todas essas coisas, mas mesmo lá nós perdemos realmente mal em algumas coisas, como computadores. Ninguém imaginava o impacto incrível dos computadores, apesar de pensar em cérebros de robô de vários tipos – meu falecido amigo, Isaac Asimov, por exemplo, imaginou – mas a ideia de que um dia toda casa teria um computador em cada cômodo e que um dia, provavelmente, teríamos computadores embutidos em nossa roupa, ninguém nunca pensou nisso.
Entrevista para o L.A. Review of Books, em 1995
4- Robert A. Heinlein
Especulação realista sobre possíveis eventos futuros, baseada solidamente em conhecimento adequado do mundo real, passado e presente, e em uma compreensão completa da natureza da importância do método científico. Para fazer esta definição cobrir toda a ficção científica (ao invés de ‘quase toda’) é necessário apenas eliminar a palavra ‘futuros’.
5- John W. Campbell Jr.
Metodologia científica envolve a proposição de que uma teoria bem construída não só explicará cada fenômeno conhecido, mas também irá predizer fenômenos novos e ainda não conhecidos. Ficção científica tenta fazer a mesma coisa – e escrever, em forma de história, o que os resultados parecem quando aplicados não só às máquinas, mas à sociedade humana também.
6- Ursula K. Le Guin

7- Philip K. Dick
Eu vou definir ficção científica, primeiramente, por dizer aquilo que a sci-fi não é. Ela não pode ser definida como ‘uma história (ou romance, ou peça) ambientada no futuro’, uma vez que existe uma coisa como a aventura espacial, que se passa no futuro, mas não é ficção científica; é apenas isso: aventuras, lutas e guerras no futuro, no espaço, envolvendo tecnologia super avançada. Por que, então, isso não é ficção científica? Parece ser, e Doris Lessing (por exemplo) supõe que é. No entanto, aventura espacial não tem a nova ideia distinta que é o ingrediente essencial. Além disso, pode existir ficção científica ambientada no presente: a história ou romance de mundo alternativo. Então se nós separamos o sci-fi do futuro e também da tecnologia ultra-avançada, o que temos, então, que pode ser chamado de ficção científica?
Esse mundo deve diferir do determinado em pelo menos um caminho, e esse caminho deve ser o suficiente para originar eventos que não poderiam ocorrer em nossa sociedade – ou em qualquer sociedade conhecida do presente ou do passado. Deve haver uma ideia coerente envolvida nesse deslocamento; isto é, o deslocamento deve ter um conceito, não meramente ser trivial ou bizarro – esta é a essência da ficção científica, o deslocamento conceitual no interior da sociedade, de modo que, como resultado, uma nova sociedade é gerada na mente do autor.
Fantasia envolve aquilo que a opinião comum considera como impossível; ficção científica envolve aquilo que a opinião comum considera como possível sob as circunstâncias certas.
http://www.pelatocadocoelho.com.br/especial/afinal-o-que-e-ficcao-cientifica-a-resposta-de-sete-autores-classicos-do-genero/
- Ray Bradbury: Livro Science Fact/Fiction, publicado pela Scott, Foresman and Company, cuja introdução é assinada pelo autor.
- Isaac Asimov: Trecho de How Easy to See the Future, matéria de Asimov para o volume 84 da Natural History, de Abril de 1975.
- Robert A. Heinlein: Ensaio “Science Fiction: It’s Nature, Faults and Virtues“, parte de The Science Fiction Novel: Imagination and Social Criticism.
- Philip K. Dick: Introdução do próprio autor para Philip K. Dick: The Collected Stories, vol. 1.
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