[Postado por Observador]
Com o lançamento de Spotlight, candidato a vários Oscars em 2016, vieram a tona diversos debates acerca dos jornalistas e do papel dos jornalistas no mundo de hoje. Pensando nisso, Miguel Freitas da Costa fez uma lista de grandes clássicos do cinema sobre jornais que marcaram as telonas. Entre eles, muitos heróis, bandidos e aproveitadores. Confira:
Jejum de Amor, de Howard Hawks
O jornalismo como comédia. “Jejum do Amor” (“His Girl Friday”, 1940) é uma sátira de certos meios jornalísticos, mas fundamentalmente uma das chamadas screwball comedies, com os seus diálogos rápidos, uma das melhores, realizada por Howard Hawks, que tem na sua biografia outros grandes clássicos do gênero. Trata-se da segunda adaptação ao cinema de uma peça célebre de Ben Hecht e Charles Mac Arthur, estreada em 1928, com a particularidade da troca de sexo de um dos protagonistas.
Ben Hecht é – como se costuma dizer – um dos mais bem guardados segredos do cinema americano. Escreveu peças de teatro de grande êxito, como esta ou o “Twentieth Century” acima referido e dezenas de filmes (entre os quais “Scarface” (1931), do mesmo Hawks, em que colaboraram, salvo erro, pela primeira vez). No primeiro Oscar foi um dos premiados, pelo argumento de “Underworld”, de Josef von Sterberg.
Cidadão Kane, de Orson Welles
O chefe de redação: “A nossa função não é relatar coscuvilhices de donas de casa. Se nos interessasse esse gênero de coisa, Mr. Kane, dava para enchermos o jornal duas vezes todos os dias.”
Kane: “Mr. Carter, é esse gênero de coisas que nos vai interessar daqui por diante.”
Sublime Devoção, de Henry Hathaway
O jornalista como justiceiro. “Sublime Devoção” (“Call Northside 777”, 1948) é um dos filmes menos conhecidos desta lista (tão pouco conhecido como um dos outros bons filmes selecionados pelo Telegraph, o muito mais pesado “Defence of the Realm”, “Em defesa da Nação”, 1985, que – sem querer plagiar o Telegraph – conta com duas grandes interpretações, de Gabriel Byrne e do subestimado Denholm Elliott). No filme temos o jornalista como cavaleiro andante pronto a defender a viúva e o órfão, paladino das grandes causas da Justiça ou, singelamente, sem medo das palavras, da verdade – um tema que se repetirá quase sempre daqui por diante.
Já não estamos lidando com os rapazes raivosos, mais ou menos cínicos, os bons malandros dos tempos boêmios de Ben Hecht ou do Clark Gable do duo “social-democrata” Frank Capra-Robert Riskin e a sua epopeia da reconciliação das “classes”. O realizador é Henry Hathaway, um velho routier do cinema de Hollywood.
Embriaguez do Sucesso, de Alexander Mackendrick
O jornalista como canalha. “Embriaguez do Sucesso” (“Sweet Smell of Success”, 1957) não é um filme perfeito – mas é um dos grandes filmes do cinema americano, realizado por um escocês de família nascido nos Estados Unidos, Alexander Mackendrick, o que lhe dava uma visão de “estrangeiro” no país. Mackendrick teve uma carreira curiosa: começou, como realizador de longas-metragens, na grande escola dos Ealing Studios da Londres do pós-guerra, onde dirigiu um filme que é a quinta-essência do humor negro “britânico” desse tempo, sem um passo em falso: “The Lady Killers”, 1955, assassinado mais recentemente num remake dos irmãos Coen – porquê? – os mesmos que acertaram em cheio, nessa veia, em “Fargo” e “Burn After Reading”.
O Ano que Vivemos em Perigo, de Peter Weir
O jornalista como australiano. Em “O Ano que Vivemos em Perigo” (“The Year of Living Dangerously”, 1982) temos um jovem Mel Gibson, uma Sigourney Weaver em todo o seu esplendor, um filme difícil de esquecer com a estranha Linda Hunt no papel de um homem, o ambiente impecavelmente recreado dos correspondentes estrangeiros numa convincente Indonésia sob o poder Sukarno.
Sob Fogo Cerrado, de Roger Spottiswoode
O jornalista como revolucionário inconsciente e desorganizado. Nicarágua: como de boas intenções o inferno está cheio, um jornalista que cai na tentação de tomar partido, colabora numa fraude jornalística para ajudar os rebeldes comunistas que o indignam a respeito da política dos Estados Unidos no sul do continente e do repugnante tirano Somoza. Em “Sob Fogo Cerrado” (“Under Fire”, 1983), temos um elenco capitaneado pelo sempre enorme Gene Hackman, com Nick Nolte (no papel do fotógrafo “de guerra”) e uma excelente Joanna Cassidy. E dois personagens secundários memoráveis: os que interpretam Jean-Louis Trintignant e Ed Harris. A música fantástica da banda sonora é de Jerry Goldsmith.
Adaptação por Luiz Antonio Ribeiro
Fonte: http://observador.pt/2016/01/28/6-filmes-imperdiveis-jornalismo/