Woody Allen completa seus 80 anos. Produzindo quase um filme por ano, temos hoje uma filmografia imensa repleta de obras que nasceram clássicos e outras que foram se tornando clássicos ao longo do tempo. Quem conhece Woody Allen um pouco mais a fundo já deve ter percebido que seus filmes possuem duas vertentes bastante claras: na primeira, há um personagem – tal como ele (quando não é o próprio) – marcadamente forte na narrativa, que guia, traça e encontra por dentro de sua história as possibilidades de faze-la avançar. Na segunda, há como um deus ex machina da narrativa em que este narrador, ausente ou retirado, acompanha uma espécie de fluxo de acaso/destino como testemunha, mas sem participar diretamente.
Em ambos os casos temos escritores, roteiristas, dramaturgos. Em todos esses casos, a escrita é sempre protagonista. Por conta disso, o NotaTerapia resolveu listar 7 personagens de Woody Allen que são escritores e têm como dilema da vida o fato de que o mundo nem sempre compreende esta tarefa de escrever. Confira:
1- Interiores (1978) – Renata (Diane Keaton)
Renata é a escritora que começa a sentir medo da morte. Bem sucedida e com um marido medíocre, a história se volta para esse interior – mãe e filhas colocadas diante da iluminação do exterior, da vida lá fora que puxa e cobra resultados. Um marido que pede divórcio, um vaso que cai e tira todo equilíbrio da família. Escrever faz de Renata a preferida?
2- Manhattan (1979) – Isaac Davis (Woody Allen)
Uma história típica de Woody Allen: escritor frustrado perde a mulher. No caso, ele perde a sua para outra mulher e acaba se apaixonando por uma menina de 17 anos, mas atrai-se obviamente por uma mulher mais velha. Eis o panorama da vida para Woody Allen. O escritor, no entanto, pode piorar tudo: sua obra pode revelar diversas coisas sobre seu relacionamento com a primeira mulher.
3- A Outra (1988) – Marion Post (Gena Rowlands)
Imagina a cena: você aluga um apartamento para finalmente escrever seu livro e começa a ouvir histórias de uma clínica psicológica ao lado. Primeiro, o incômodo. Depois, as histórias. Obviamente Marion Post não fica imune e acaba absorvida por este universo, principalmente quando uma menina grávida começa a trazer a tona seu próprio passado. Afinal, a outra ou eu? Ou a outra é aquele que escreve quando escrevo?
4- Tiros na Broadway (1994) – David Shayne (John Cusack)
Um filme com dois momentos muito claros: os primeiros 50 minutos em que um personagem tal como Woody Allen nos é apresentado: um escritor, falas sobre o mundo da arte e uma auto-ironia bem humorada sobre a própria área. Num segundo momento, uma reviravolta: ensaios, preparações e uma interferência no processo de escrita que culmina pro auge do filme. Auge? É, talvez.
5- Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (2010) – Roy (Josh Brolin)
Um escritor em um limbo criativo – coisa que Woody Allen nunca teve, mas adora retratar – com apenas um livro lançado, de sucesso, mas único, sem conseguir terminar o próximo. Enquanto a editora não responde, a solução é flertar com a vizinha que só veste vermelho. É só isso? Seria se Woody Allen não tivesse posto em cena diversas relações que se cruzam a partir de uma fala: “você vai conhecer o homem dos seus sonhos”.
6- Desconstruindo Harry (1997) – Harry Block (Woody Allen)
Desconstruindo Harry é um dos meus filmes preferidos de Woody Allen. Ver a desconstrução e a fragmentação da personagem principal – Harry – por conta de todos os seus distúrbios psicológicos e da escrita tentando dar conta de todas essas facetas faz do filme um dos mais interessantes da filmografia de Allen. Harry, com dificuldades de entender o que é vida e o que é narrativa, vive colocando fatos de sua vida em seus escritos gerando diversos atritos com as pessoas ao redor. Mas a culpa não é de ninguém, afinal de contas: Quem é Harry?
7- Meia-Noite em Paris (2011) – Gil Pender (Owen Wilson)
Meia Noite em Paris é uma homenagem a todos os escritores. Gil Pender, na cidade luz, um dia é convidado a viajar no tempo e encarar suas figuras favoritas com suas histórias, seus vícios, seus problemas, sua sociedade. Assim, ele consegue entender que amar um escritor não significa ter de vê-lo como perfeito, mas de entender que ali está vida e nesta vida se fazem as relações. A obra é um mero detalhe, mas que ganha tamanha importância quando serve de farol para iluminar a vida.
Fonte: http://www.cineplayers.com/artigo/7-escritores-nos-filmes-de-woody-allen/237