Espiando a biblioteca de Patti Smith: os 40 livros favoritos da cantora de punk rock 

Em um cenário musical majoritariamente masculino, surge, no final da década de 60, a cantora e compositora Patti Smith. No entanto, a artista não se restringiu apenas à música. Ela também é escritora, tendo publicado vários livros, incluindo suas memórias Just Kids (2010), que ganhou o National Book Award e detalha sua amizade com o fotógrafo Robert Mapplethorpe durante sua juventude em Nova York.


“Mergulhei nos livros e no rock ‘n’ roll, a salvação dos adolescentes…”

Desde seu aclamado álbum de estreia Horses (1975), Patti Smith é conhecida por fundir poesia e rock punk. Sobre sua faceta poética, ela diz: “Pode-se dizer que sou uma devota da escrita, ou que a escrita é de mim. Sentimos devoção uma pela outra. Não posso imaginar minha vida sem escrever. Se só pudesse ficar com uma coisa, ficaria com a literatura.”

Todo bom escritor também é um bom leitor. Pensando nisso, separamos os livros favoritos da madrinha do punk-rock. Confira abaixo: 

1. Moby Dick (Herman Melville) 

Lançado em 1851, Moby Dick, ou A baleia, de Herman Melville (1819-1891), se tornou um dos livros de aventura mais emblemáticos da literatura universal. A história do capitão Ahab, em busca de vingança contra o terrível cachalote que amputara sua perna, entrou definitivamente para a cultura popular, inspirando, entre outras criações, pinturas de Jackson Pollock e Frank Stella, adaptações de Orson Welles para o rádio e o teatro, um filme de John Huston, e até um blues do Led Zeppelin. Mas uma leitura atenta da obra-prima de Melville pode revelar as camadas mais profundas do texto, que deram ao autor o posto de maior prosador norte-americano do século XIX.

Entremeados à narrativa vão se sobressaindo múltiplos elementos: referências bíblicas que ecoam críticas da época ao nascente imperialismo dos Estados Unidos; a questão racial, personificada na figura dos três arpoadores, um negro, um índio e um nativo polinésio; a análise da extração do óleo dos cachalotes como atividade econômica industrial, incluindo uma discussão sobre a sustentabilidade da pesca das baleias; as tensões sociais, que aparecem nas relações entre superiores e subordinados e na possibilidade sempre presente de um motim ― tudo isso encenado no palco shakespeariano do convés de um baleeiro que parte de Nantucket, em Massachusetts, até chegar ao Pacífico, onde ocorre o enfrentamento final entre o obsessivo capitão Ahab e a monstruosa baleia branca.

Além de trazer ensaios de Evert Duyckinck, D. H. Lawrence e F. O. Mathiessen sobre Moby Dick, que delineiam a recepção crítica do livro, esta nova edição apresenta um prefácio de Albert Camus, inédito em nosso país, e um ensaio de Bruno Gambarotto, um dos maiores especialistas brasileiros na obra de Melville.

Compre o livro aqui

2. O príncipe feliz (Oscar Wilde) 

O Príncipe Feliz e outras histórias , escrito por Oscar Wilde e publicado pela primeira vez em 1888, é uma obra atemporal que encanta leitores de todas as idades com sua mensagem de generosidade e compaixão. A história principal narra a jornada de um príncipe que, mesmo após sua morte, continua a ajudar os necessitados de sua cidade. O conto que dá nome à edição se desenrola na cidade onde vive o Príncipe Feliz, cuja estátua adornada com ouro e pedras preciosas se torna um símbolo de beleza e bondade. Junto com a andorinha que decide ficar ao seu lado, o Príncipe observa as dificuldades e tristezas das pessoas comuns, e ambos se dedicam a aliviar o sofrimento delas.


A obra de Wilde é uma poderosa reflexão sobre valores essenciais como compaixão, solidariedade e desapego material. Através da jornada emocionante do Príncipe e da andorinha, o autor nos lembra da importância de olhar além das aparências e valorizar as virtudes que verdadeiramente enriquecem nossas vidas.

Compre o livro aqui

3. Contra a interpretação (Susan Sontag)

Uma série de discussões provocativas sobre os temas culturais mais prementes da década de 1960, este livro é a coletânea definitiva dos trabalhos mais conhecidos e importantes de Susan Sontag e foi a obra que a consagrou como uma das pensadoras mais incisivas do nosso tempo. Publicada pela primeira vez em 1966, esta coletânea de ensaios nunca saiu de catálogo e influenciou profundamente muitas gerações de leitores, assim como o campo da crítica cultural no mundo todo.

Inclui os textos revolucionários “Notas sobre o camp” e “Contra a interpretação”, e também o debate acalorado de Sontag sobre autores como Sartre, Camus, Weil, Godard, Beckett, Lévi-Strauss, a psicanálise, filmes de ficção científica e o pensamento religioso contemporâneo. Além da nova tradução, esta edição traz o posfácio “Trinta anos depois”, no qual Sontag reafirmou os termos de sua batalha contra os filisteus, contra uma ética frágil e contra a indiferença. Eleito um dos cem melhores livros de não ficção de todos os tempos pelo The Guardian .

Compre o livro aqui

4. A morte feliz (Albert Camus) 

Em A morte feliz , Albert Camus retrata a busca pela felicidade, assim como a aceitação, o entendimento e a consciência da morte. O autor acredita que, para conquistar a felicidade, é necessário ser independente, livre, mas também ter dinheiro; a pobreza é a condição que impede a vida feliz.


Esta obra foi o trabalho precursor de seu livro mais famoso, O estrangeiro . O protagonista Patrice Mersault de A morte feliz tem características muito semelhantes a Meursault de O estrangeiro, ambos são franco-argelinos e levam uma vida difícil em uma sociedade indiferente.

Compre o livro aqui

5. O mestre e a Margarida (Mikhail Bulgákov) 

Espécie de Fausto russo, inspirado na obra de Goethe e na ópera homônima de Charles Gounod, O mestre e a Margarida, de Mikhail Bulgákov, é considerado um dos grandes romances do século XX. Situado na Moscou dos anos 1930, o livro narra as peripécias de satã na cidade acompanhado de um séquito infernal, composto por um gato falante e fanfarrão, um intérprete trapaceiro, uma bela bruxa e um capanga assustador. Seu caminho se cruzará com o dos amantes, mestre e Margarida ― ele um escritor mal compreendido, autor de um romance sobre Pôncio Pilatos, ela uma das personagens mais fortes da literatura russa, que, qual Orfeu, fará de tudo para reencontrar seu amado desaparecido.

Escrito entre 1928 e 1940, ano da morte do autor, mas só publicado no fim dos anos 1960, no Ocidente, e em 1973, na Rússia, o livro se tornou então sucesso imediato no mundo todo e inspirou centenas de adaptações para o teatro, cinema, televisão, animação, ópera, dança e música (inclusive a famosíssima canção “Simpathy for the Devil”, dos Rolling Stones). História de amor e desejo, sátira do mundo das letras e das pequenas e grandes vaidades humanas, além de crítica ferina mas bem-humorada ao regime soviético, o romance empresta recursos da linguagem teatral, musical e mesmo da linguagem cinematográfica, com cortes e saltos temporais e espaciais que imprimem à narrativa um ritmo vertiginoso, divertido e sempre surpreendente.

Compre o livro aqui

6. Villette (Charlotte Brontë) 

Villette é, de muitas formas, um romance delicado e deliciosamente difícil. Tudo o que diz respeito à sua heroína, Lucy Snowe é encoberto por uma névoa de inacessibilidade e uma certa escuridão que sustenta a narrativa. Lucy se muda para a cidade fictícia de Villette, onde será professora de inglês em um internato. Ali, será confrontada pelos traumas do passado enquanto completa seu percurso de heroína, com os dessabores e conquistas de uma mulher vitoriana, mas eternamente atual.


Compre o livro aqui

7. O livro do desassossego ( Fernando Pessoa) 

Publicado pela primeira vez em 1982, quase cinco décadas depois da morte de Fernando Pessoa, o Livro do desassossego se tornou um marco da literatura. Escrito por Bernardo Soares ― personagem fictício considerado um “semi-heterônimo” de Pessoa pela indiscutível proximidade com o autor ―, o volume recolhe cerca de quinhentos fragmentos em prosa que abordam o desconforto do indivíduo em relação à sociedade em que vive.

Nos trechos recolhidos neste volume, o tom depressivo ganha forma numa náusea constante que atinge não apenas as dimensões intelectual e afetiva, mas também o plano físico. É como se “a existência da própria alma”, de acordo com o narrador, fosse capaz de engendrar um permanente “incômodo dos músculos”. Seja pelo estilo fragmentário, tão representativo dos nossos tempos, seja pelo esforço em buscar significado em uma vida que muitas vezes parece esvaziada de sentido, o Livro do desassossego impressiona por sua radical atualidade.

Compre o livro

8. Coriolano (Shakespeare)

Depois de Tito Andrônico e Júlio César, Shakespeare recorre mais uma vez à Roma antiga para falar à Inglaterra dos seus dias. A tragédia de Coriolano, inspirada em Plutarco, transforma o conflito político no conflito ritual do teatro, apoiando-se na História.

Na peça, a crise pessoal do herói coincide com a política, a desumanidade de Coriolano é sentida como a consumação de sua virtude, a integridade do soldado destrói a integridade do homem.

Compre o livro aqui

9. As ondas (Virgínia Woolf)

A genialidade de As ondas, publicado em outubro de 1931, assim como sua complexidade, foi percebida por seu primeiro leitor, Leonard Woolf, como registra Virginia em seu diário: “‘É uma obra-prima’, disse L. esta manhã. ‘E o melhor de seus livros. As primeiras 100 páginas são extremamente difíceis, & é duvidoso que um leitor comum vá muito longe’”.

Mesmo que seja um exagero de Leonard, este é, sem dúvida, um livro de difícil leitura. Narrativas anteriores de Virginia, ainda que rompendo com certas convenções do romance da época, seguem um esquema familiar: os personagens agem, falam, pensam, e tudo isso é assinalado; há um enredo que se pode facilmente acompanhar. Isso não está presente em As ondas.

Através de “falas” em linguagem elevada, elíptica, literária, acompanhamos a vida de seis personagens (Bernard, Jinny, Louis, Neville, Rhoda, Susan), da infância à velhice. Mas não sabemos precisamente nem o tempo nem os locais em que a “ação” se passa. E, embora o livro siga uma sequência, os eventos de cada uma de suas seções podem ser descritos mais como instantâneos do que como um contínuo.

Compre o livro aqui

10. A letra Escarlate (Nathaniel Hawthorne) 

Na rígida comunidade puritana de Boston do século XVII, a jovem Hester Prynne tem uma relação adúltera que termina com o nascimento de uma criança ilegítima. Desonrada e renegada publicamente, ela é obrigada a levar sempre a letra “A” de adúltera bordada em seu peito. 

Hester, primeira autêntica heroína da literatura norte-americana, se vale de sua força interior e de sua convicção de espírito para criar a filha sozinha, lidar com a volta do marido e proteger o segredo acerca da identidade de seu amante. Aclamado desde seu lançamento como um clássico, A letra escarlate é um retrato dramático e comovente da submissão e da resistência às normas sociais, da paixão e da fragilidade humanas, e uma das obras-primas da literatura mundial.

Compre livro aqui

Leia também: Os primeiros poemas de Patti Smith

Outros 30 livros favoritos de Patti Smith 

  • Poeta em Nova York  (Garcia Loca) 
  • A honra perdida de Katharina Blum (Heinrich Böll) 
  • Diário de Um Ladrão (Jean Genet) 
  • Cain’s Book  (Alexander Trocchi) 
  • Canção da inocência (Willian Blake) 
  • Direito à vagabundagem (As viagens de Isabelle Eberhardt- Isabelle Eberhardt)
  • O céu que nos protege (Paul bowles) 
  •  The process (Brion Gysin)
  • Um tempo no inferno & Iluminações  (Arthur Rimbau)
  • Uivo  (Allen Ginsberg)
  • The Wild Boys A Book of the Dead  (William Burroughs)
  • Billy Budd (Herman Melville)
  • Coração das trevas (Joseph Conrad)
  • O jogo das contas de vidro  (Hermann Hesse)
  • Sidarta (Hermann Hesse)
  • Almas Mortas  (Nikolai Gogol) 
  • Voyage en Orient (Gerárd de Nerval) 
  • Debaixo do Vulcão (Malcolm Lowry)
  • A morte de Virgílio  (Hermann Broch)
  • Franny & Zooey (JD salinger) 
  • La grande beuverie (René Daumal)
  • Um amor de Swan (Marcel Proust)
  • O primeiro Homem (Albert Camus) 
  • Big sur (Jack Kerouac)
  • Qualquer coisa de H.P Lovecraft
  •  Qualquer coisa de W.G Sebald
  •  Passagens ou qualquer coisa de Walter Benjamin 
  • O bebedor de vinho de palma: e seu finado fazedor de vinho na Cidade dos Morto  (Amos Tutuola)
  • O Atiçador De Wittgenstein (David Edmonds & J. Eidinow)

Você já leu algum desses livros? 

Revisão por Fernanda de Moraes

Fonte: Penguin Argentina


Related posts

3 livros para conhecer o legado feminista e antirracista de Lélia Gonzalez

“Flow”: 6 curiosidades da animação que concorre ao Oscar 2025

8 filmes brasileiros que já foram indicados ao Oscar