A série “Cem anos de solidão”, adaptação do livro de Gabriel García Márquez, já tem data de estreia definida na Netflix: 11 de dezembro. Enquanto muitos aguardam ansiosamente por esse momento, é possível conhecer alguns aspectos relacionados à criação e à produção a partir das revelações dos roteiristas.
Francisco Ramos, vice-presidente de conteúdo da plataforma para a América Latina, e as roteiristas Natalia Santa e Maria Camila Brugés, que estão visitando o Brasil para participarem da Flip, contaram um pouco sobre os bastidores da série.
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Um dos primeiros desafios foi a transposição da obra literária para o audiovisual, fato impensável para Gabo, como o autor era conhecido. Embora fosse um admirador do cinema, resistiu para deixar que seu livro fosse adaptado. Porém, dez anos após a sua morte, a família aceitou o convite, mas fez alguns pedidos, conforme destacou Ramos. Para isso, as condições foram previamente acertadas para que a produção da série se aproximasse do romance de forma mais fidedigna.
A primeira conclusão era de que precisaria ser em espanhol. “Havia a percepção de que seria uma história difícil de contar em inglês. E nós não o faríamos”, contou Ramos. A segunda questão era a estrutura narrativa, pois seria inviável transpor a obra literária para as telas como um filme tanto pela extensão quanto pelo desenvolvimento. E a terceira era de que fosse filmada na Colômbia, para que as imagens pudessem remeter não só ao país onde o escritor nasceu, mas a Aracataca, sua cidade natal.
Quanto ao roteiro, outros obstáculos foram registrados, pois, embora o livro conte com uma gama de leitores, muitas vezes, alguns acham a obra de difícil compreensão num primeiro momento. Um dos motivos deve-se à circularidade da narrativa. Os personagens da família Buendía, figuras centrais da trama costumam ter nomes parecidos ou iguais — mas, às vezes, suas personalidades são opostas. Também há acontecimentos que se repetem e, outros, espelham-se, como se fossem um “duplo”, com a imagem inversa.
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Mais alguns detalhes revelados pelos roteiristas:
- De acordo com Maria Camila Brugés, para que fosse melhor compreendida pelo público, a adaptação tentou seguir a ordem linear e cronológica. Além disso, uma análise e seleção cuidadosas foram realizadas para a inserção de acontecimentos relevantes e a transposição daquilo que pudesse ser expresso pelo audiovisual.
- Outra dificuldade encontrada pelos roteiristas foram os poucos diálogos apresentados no romance. Aqueles que puderam ser reproduzidos foram inseridos, mas foi preciso encontrar a voz de cada personagem para a criação das falas.
- Na adaptação, pelo menos, uma mudança é evidente: a do narrador. A saga dos Buendía é contada no livro pelo cigano Melquíades, enquanto que na série quem narra a história é o último integrante da família, Aureliano. Mesmo que o personagem não saiba que desempenha esse papel, ele descobrirá no decorrer da história.
- A série terá poucos efeitos computadorizados, pois os mais sofisticados para a primeira temporada, que se passa entre 1850 e 1906, não seriam adequados. “É muito artesanal. Há efeitos digitais, mas a maior parte fizemos no set. Ficou muito bonito”, relatou Ramos.
De toda forma, a adaptação de um clássico, que será comparado apenas com o original, é sempre uma tarefa árdua e arriscada, já que competirá também com a imaginação de cada leitor.
“Há fãs de uma obra literária que esperam ver uma manifestação visual da própria subjetividade. Nosso trabalho é um ponto de vista, um esforço coletivo de interpretar e adaptar ‘Cem Anos de Solidão’. Mas feito com o intuito de ser muito fiel ao romance”, comentou Brugés.
“Cem Anos de Solidão” é a primeira adaptação inspirada em clássicos latino-americanos dos lançamentos da Netflix. Na lista, ainda estão “Pedro Páramo“, do mexicano Juan Rulfo, escritor que foi inspiração de Gabo, e a HQ argentina “El Eternauta“.