Stephen King: Por que ler o homem que reinventou o terror?

A década de 70 foi um período turbulento para o mundo todo, em especial, para os EUA, que estavam mergulhados em uma guerra que posteriormente descobririam que não venceriam e numa recessão em escala mundial, causada pela crise do petróleo. Em meio a tudo isso, surge uma válvula de escape, fortemente enraizada nas páginas amareladas e sombrias da literatura de terror. Delas emerge um nome que ressoa com uma influência inigualável, até os dias atuais; Stephen King. Ao longo das décadas, King não apenas se estabeleceu como um ícone do gênero (e da literatura, como um todo), mas também como um verdadeiro visionário que redefiniu a forma como percebemos e consumimos o horror na literatura.

O que diferencia King de seus contemporâneos e antecessores? A resposta talvez resida em sua capacidade inata de dar vida a personagens que vão além dos estereótipos. Em um mundo onde o terror muitas vezes se concentrava em monstros e vilões unidimensionais, King inseriu profundidade psicológica e deu vasão aos sentimentos, anseios, alegrias e tristezas de personagens que hoje já fazem parte do imaginário popular da literatura de terror e suspense, como Carrie, Jack Torrance, John Coffey e tantos outros.

Os personagens de King são seres humanos, com medos, desejos e traumas palpáveis, tornando suas lutas contra o sobrenatural (e contra o próprio natural, que em muitos caos é igualmente assustador) ainda mais impactantes.

A genialidade de King também se manifesta na forma como ele transforma o cotidiano em algo perturbador, na maneira como, segundo sua própria definição, ele coloca pessoas comuns em situações extraordinárias, para extrair o imaginável e inimaginável delas.

Enquanto muitos autores buscam o exótico e o desconhecido para incutir medo, King encontra horror nas ruas familiares de pequenas cidades e nos cantos sombrios de nossas mentes. Ele nos lembra que o terror muitas vezes pode residir nas proximidades, esperando pacientemente para nos surpreender quando baixamos a guarda.

É impossível falar de King sem mencionar sua habilidade ímpar de fundir elementos sobrenaturais com questões psicológicas profundas. Em suas mãos, o horror não é apenas um fenômeno externo, mas também uma jornada interna, que nos convida a explorar as profundezas da psique humana, confrontando-nos com os demônios interiores que todos nós temos medo de enfrentar.

Apesar de tudo isso e embora seu sucesso como autor seja quase um caso sem precedentes, no que diz respeito à literatura de terror, talvez não tenhamos ainda a dimensão exata do que Stephen King representou e representa para esse universo, seja porque os mais puritanos sempre torcem o nariz contra a literatura popular ou porque ainda não atravessamos o crivo do tempo, responsável por alçar ao topo os grandes nomes.

Se o sobrenome King ficará gravado para sempre nos anais da literatura, somente o tempo dirá, mas o que podemos dizer com toda a certeza, atualmente, é que ele sem dúvida pavimentou o caminho para uma nova geração de escritores, desafiando convenções e ampliando os horizontes do gênero, tornando-se não apenas um mestre da literatura de terror; mas um verdadeiro visionário, que redefiniu o gênero para uma era moderna e que conseguiu extrair dele o seu melhor e, principalmente, o pior. E é justamente por isso que nós o amamos tanto.

Edilton Nunes é professor de língua portuguesa, especialista em arte/educação intermidiática digital pela UFG Goiás e administra o portal Stephen King Brasil desde 2007.

Related posts

Novela de Thomas Mann: o fascismo é capaz de hipnotizar?

Estação NET Rio fará mostra  “Divas – As Musas da Era de Ouro de Hollywood”

Ambição, Poder e Destino: Anakin Skywalker, o Macbeth de Star Wars?