“Livre para Recomeçar”, de Paola Aleksandra: curando as feridas em um Rio de Janeiro do século XIX

Livre para Recomeçar, da Paola Aleksandra, publicado pela Essência, selo da Editora Planeta.

O livro conta a história de Anastácia, uma mulher francesa que se casou com um homem – péssimo, diga-se de passagem – que era bastante abusivo com ela, fisicamente e emocionalmente, e eles estão para vir para o Brasil, porque ele vai abrir um negócio aqui no país. Um pouco antes da viagem, eles tem uma discussão, em que ela está certíssima porque descobre uns podres do negócio dele e, como forma de silenciá-la, ele resolve trancá-la em um hospício. Bom, já no Brasil, Anastácia fica 3 anos trancada no Hospício Pedro II, instituição que realmente existiu, e lá ela faz amigas.  Até um dia que ela recebe uma visita misteriosa, de duas mulheres, e seu futuro realmente começa.

A gente acompanha Anastácia se curar de suas feridas, abrir espaço para um novo amor, lutar contra o machismo e o racismo estruturais de um Rio de Janeiro do século XIX.

Gente, eu realmente me surpreendi, achei que eu iria estranhar, porque eu não sou mesmo acostumada a ler romance. Para quem acompanha minhas postagens, sabe que eu costumo ler uns livros de suspense, thriller, gótico, terror, enfim… e eu comecei a ler e peguei o ritmo muito rápido. Eu li durante uma semana de muita correria no trabalho, muita ansiedade, e Livre para Recomeçar acabou se tornando meu lugar seguro.

Esse título é curioso porque nossa vida é sempre cheia de fins e novos começos, eu mesma estava passando por uma fase de transição enquanto lia, e mesmo que fosse um assunto muito diferente, é muito boa essa sensação de estar livre para recomeçar. O livro tem um caráter de libertação feminina muito forte porque, por exemplo, mesmo quando está trancada, Anastácia se liberta, porque lá dentro ela conseguiu ser ela mesma, sem a intervenção do marido abusivo dela. Nós, mulheres, sabemos aquele momento da vida em que a gente se liberta, depois de ouvir muitos “você é louca”.

Veja também:

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Outro ponto que me chamou muito a atenção foi o fato de a Paola ter ambientado muito bem a cidade do Rio de Janeiro, parece que a gente consegue sentir o chão sob nossos pés e as árvores sobre nossa cabeça. É uma experiência em tons de lavanda :) não a toa, a capa tem essa tonalidade: lavanda.

Os romances históricos que estamos acostumados a ler ou até a assistir são, em sua maioria, londrinos. Eu sempre me perguntei como seria essa sociedade aqui no Brasil, mesmo ficcionalmente. É interessante pensar em um cenário em uma cidade que eu conheço. 

Eu amei que as personagens, além de todo caráter de luta social, também são super cuidadosos com os animais, e isso me pega demais. Tem umas cenas muito lindas, de liberdade na fazenda, com um animal específico, e isso…assim… eu não tenho palavras.

E, por fim, o romance. Que delícia que é viver um romance seguro e saudável, e aqui estou falando de Anastácia e Benício, o futuro amor dela. Não tem dificuldade entre eles, a trama não é sobre uma zona entre duas pessoas se conhecendo, não tem um vai e volta tóxico. A relação é o porto seguro deles e a gente acompanha o amadurecimento dessa relação. Muito lindo.

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