“A queda do Imã”: romance feminista de Nawal El-Saadawi retrata o fundamentalismo de toda religião

Nawal El-Saadawi retrata neste romance experimental os efeitos do fundamentalismo religioso na vida de mulheres e crianças.

A Tabla, editora voltada para a publicação de livros do Oriente Médio e do Norte da África, chega com mais um livro traduzido diretamente do árabe em seu catálogo. Trata-se do romance A queda do Imã, de Nawal El-Saadawi (1931-2021), escritora egípcia, médica psiquiatra e ativista feminista, amplamente conhecida por seus escritos provocadores sobre desigualdade de gênero, fundamentalismo religioso e opressão sistêmica.

O livro começa com a seguinte cena: em uma noite escura, uma menina é perseguida enquanto procura por sua mãe, até que algo lhe atinge pelas costas. A menina — cujo nome é Bint-Allah, que significa “filha de Deus” — cai no chão e pergunta aos seus perseguidores: ​​“Por que vocês sempre deixam o criminoso livre e matam a vítima?”. Refletindo sobre assuntos universais, ainda que exemplificados no contexto árabe, este potente e poético romance é um grito de guerra contra aqueles que usam a religião como arma para subjugar as mulheres. 

“Líder hipócrita de um país sem nome, o Imã personifica a brutalidade do poder autoritário; a bela órfã ilegítima, Bint-Allah, representa a condição das mulheres nos regimes repressivos e extremistas (sejam eles quais forem): párias a serem invariavelmente punidas.” 
Luci Collin

Para além das questões temáticas, A queda do Imã se destaca também pelo seu caráter experimental ao trazer uma escrita ousada e de certa forma fragmentada, trabalhando uma narrativa elíptica e poética, às vezes em primeira pessoa, às vezes em terceira, que dá vertiginosos saltos e apresenta repetições que incessantemente rearticulam perspectivas.

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Ao longo da obra, El-Saadawi parece denunciar que, diante do poder fundamentalista das religiões, todas as formas de vida são subjugadas. Na apresentação do livro, a autora escreve que “pelo menos no romance, teria um pouco de liberdade e poder.”

Leia um trecho:

“Mas por que Deus está furioso com eles? Eles não sabem. Eles não sabem que crimes cometeram. Eles não conhecem a palavra de Deus, porque está escrita e eles não sabem ler nem escrever. Eles nem sabem o que são palavras. Tudo o que sabem é murmurar, gritar, aclamar ou vociferar.”

Para comprar o livro, acesse aqui:
https://editoratabla.com.br/catalogo/a-queda-do-ima/

Sobre a autora:

Nawal El-Saadawi nasceu em 1931 na cidade de Kafr Tahla, no Egito. Formou-se em medicina em 1955 pela Universidade do Cairo e obteve o título de mestre em saúde pública pela Universidade de Columbia em 1966. Primeira mulher a denunciar os efeitos nefastos de práticas culturais opressivas e do patriarcado na saúde física e psíquica das mulheres, fundou em 1981 a Associação de Solidariedade das Mulheres Árabes, combinando feminismo e panarabismo. Saadawi descrevia a si mesma como uma “socialista-feminista”. Publicou mais de trinta títulos — entre romances, contos, peças teatrais e ensaios —, traduzidos para vários idiomas. Nawal El-Saadawi faleceu em 2021.

Sobre a tradutora:

Safa Abou-Chahla Jubran nasceu em Marjeyoun, Líbano, em 1962, chegou ao Brasil em 1982. É professora livre docente na Universidade de São Paulo, onde leciona língua árabe desde 1992. Obteve os títulos de Mestre e de Doutor em Linguística da mesma universidade.

Safa tem vários estudos em Linguística, Língua Árabe e Tradução publicados em revistas acadêmicas, além de participações em artigos na área da História de Ciência e manuscritos árabes. Recebeu em 2019 o Prêmio Sheikh Hamad Award for Translation and International Understanding. Trabalha atualmente na tradução de vários romances do árabe para o português.

Sobre a editora Tabla:

A editora Tabla tem como foco a publicação de livros referentes às culturas do Oriente Médio e do Norte da África e seus ecos mundo afora. Com o objetivo de ressaltar os pontos de contato, percorrendo e construindo pontes culturais, nosso desejo é apresentar e representar essas culturas de forma autêntica, longe dos estereótipos.

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