Seu dedo é flor de lótus: os poemas de amor do Antigo Egito

Em Seu dedo é flor de lótus, o poeta Guilherme Gontijo Flores reimagina e reinventa em nossa língua, de forma extremamente pessoal, 53 poemas e 12 fragmentos que formam o corpus de toda a poesia amorosa do Antigo Egito que sobreviveu até os nossos dias.

Anônimos e compostos entre os séculos XIII e XI a.C., estes versos foram transcritos da linguagem hieroglífica, que não registra vogais, e seu caráter lacunar leva os estudiosos a uma série de conjecturas que confrontam a própria ideia de um texto original. Esta e outras questões são abordadas em um alentado posfácio, em que o autor — recuperando proposições de Jacques Derrida, Pascal Quignard e Henri Meschonnic — discute o processo de recriação destes belos poemas.

em teu amor habito  •  por dias noites
desperto ali deitado  •  até a aurora
teu corpo alenta o coração  •  pelo desejo em tua voz  •  meu corpo reacende
de seu cansaço  •  que eu possa então dizer
não tem ninguém  •  naquele coração  •  além de mim

Na orelha do livro, Álvaro A. Antunes comenta:

Diante de originais extremamente instáveis, Flores confronta com corajosa clareza um dos dilemas nucleares da arte tradutória: quando o tempo fez toco tosco do quinado, afiado mármore original, quão fundo, com que abandono, refinar tudo num todo novo com o buril e cinzel que a poesia empunha agora?
A resposta se lê nos poemas de Flores, não só em sua emoção remoçada, mas em sua estratégia instigante de os estruturar formalmente de modo contido, mas nítido. Dela resultam poemas que, mais que palpitações de uma alma distante, se reconstroem aos nossos olhos em objetos linguísticos de intensa vivacidade.


O que lemos, mais que lemos: recompomos.

Além disso, completa que “os poemas de Flores são moderníssimos, marcados pela parataxe (característica da poesia chinesa clássica como do Modernismo) e por uma métrica ancorada no ato essencial de respirar (como se dá tanto na poesia japonesa clássica quanto no contemporâneo verso livre, assim dito).”

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Poeta exímio, Flores é bem-vinda exceção entre os tradutores deste corpo poético para as línguas ocidentais. Com técnica sóbria, prescinde de rima e regularidade rítmica e, em vez, mantém os poemas coesos com uma sutil tessitura sonora que articula paronomásias, aliterações e assonâncias.

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Sobre o autor:

Guilherme Gontijo Flores nasceu em Brasília, em 1984. É poeta, tradutor e professor de latim na Universidade Federal do Paraná. Publicou os livros de poesia brasa enganosa (2013), Tróiades (2015), l’azur Blasé (2016), ADUMBRA (2016), Naharia (2017), carvão : : capim (2018), avessa: áporo-antígona (2020), Todos os nomes que talvez tivéssemos (2020) e Potlach (2022), entre outros, além do romance História de Joia (2019). Como tradutor, publicou A anatomia da melancolia, de Robert Burton (4 vols., 2011-2013, vencedor dos prêmios APCA e Jabuti de tradução), Elegias de Sexto Propércio (2014, vencedor do Prêmio Paulo Rónai de tradução, da Fundação Biblioteca Nacional), Fragmentos completos de Safo (2017, vencedor do Pr&ecirc ;mio APCA de tradução), Epigramas de Calímaco (2019), Ar-reverso, de Paul Celan (2021) e os três volumes da Obras completas de Rabelais (2021, 2022 e 2023).

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