Professor indígena desenvolve a escrita de seu povo para preservar a língua tradicional

Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá, também conhecido como Joaquim Maná, originário do povo indígena Huni Huĩ, do Acre, vem se dedicando há anos a pesquisas importantes, principalmente relacionadas à área de educação. Ele possui doutorado em linguística na Universidade de Brasília (UnB), e foi o primeiro indígena a defender uma tese sobre sua própria língua na instituição. Atualmente, é pós-doutorando em cultura e identidade, na Universidade Federal do Acre (Ufac).

Leia também: Professora lança dicionário indígena da língua guarani-kaiowá após 30 anos de pesquisa

Trajetória
Joaquim Maná foi alfabetizado na língua portuguesa aos 20 anos, concluiu o magistério indígena (no programa alternativo coordenado pela Comissão Pró-Índio do Acre), cursou a graduação em um curso intercultural indígena na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e fez o mestrado e o doutorado na UnB com a pesquisa “Para uma gramática da Língua Hãtxa Kuin”. Atuou como coordenador da Organização dos Professores Indígenas do Acre, técnico pedagógico da equipe de educação escolar indígena, na Secretaria de Educação do Estado do Acre entre 2017 e 2019, e, nos dias atuais, ocupa a diretoria da Federação do Povo Huni Kuĩ. (Fephac).

Pesquisas e resultados
No pós-doutorado, Maná percebeu a importância da língua nativa para a nova geração de crianças e jovens indígenas, já que ela era falada apenas pelos anciões. A língua tradicional dos Huni Huĩ é oriunda do tronco linguístico pano, o hãtxa kuĩ. Até os anos 80, pelo menos no território brasileiro, não havia textos escritos em hãtxa kuĩ, pois não existia um alfabeto da língua.
Após a construção do alfabeto e do dicionário de seu povo (que vai além de definições de palavras), o professor pretende implantar a Base Estadual Comum Curricular Huni kuĩ, outra criação sua. Para isso, ele destaca que é preciso recursos públicos para viabilizá-la por completo, inclusive para preparar os professores para o ensino escolar indígena.

Enciclopédia que Joaquim Maná pesquisou e escreveu em hãtxa kuĩ

“No pós-doutorado organizei um dicionário e publiquei quatro materiais para a alfabetização do 1º ano, 2º ano e 3º ano, precisando fazer o 4º e o 5º ano. A primeira versão teve 100 exemplares. Enviamos para ficar nas escolas, nem professor pode levar porque são poucos exemplares. O Iphan viu o material, gostou e agora estamos organizando para uma segunda publicação. A primeira versão é toda em hãtxa kuĩ, fiz questão de não traduzir. Em português só tem a apresentação do meu tutor [Shelton Lima de Souza]. Mas a segunda publicação terá tradução e só 300 exemplares, cada escola receberá dessa vez um kit e não mais um exemplar.”


As nove áreas do conhecimento elaboradas na Base Estadual Comum Curricular Huni Kuĩ

Novos projetos

A Base Estadual Comum Curricular Huni kuĩ, inspirada na Base Nacional Comum Curricular, tem como objetivo a inserção de conhecimentos, entre eles linguísticos e culturais, no currículo de formação de professores indígenas. A partir disso, será possível criar um programa específico que trabalhe a língua e a cultura com a organização de um material didático para os alunos, garantindo à nova geração acesso a todo o conhecimento. Esse projeto será apresentado e discutido com o Ministério dos Povos Indígenas para sua viabilização e implementação.

Confira a entrevista completa AQUI.

Fonte

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