Em “Preta e mulher”, Tsitsi Dangarembga mergulha no racismo e patriarcado do Zimbábue

No livro de ensaios Preta e mulher, Tsitsi Dangarembga mergulha profundamente em questões como racismo, misoginia e patriarcado, que marcaram e marcam a vida das mulheres no Zimbábue, país com histórico colonial violento. Na “Introdução”, Tsitsi faz um relato de sua história pessoal, no contexto da história de seu país.

O primeiro ensaio, “Escrever como preta e mulher”, é dedicado a revelar como a escrita tornou-se um instrumento de análise de sua condição de preta e mulher escritora.

Eu nasci, então, em uma sociedade perversa que me enxergava como essencialmente carente de humanidade plena, necessitada, mas nunca capaz, como resultado de ser um corpo preto, de atingir o status completo de humanidade. Este é o ambiente em que cresci. São essas malignidades, seus fundamentos e seus efeitos em minha vida e na vida de outros seres humanos de corpos pretos que traço nesses ensaios.

Leia também: Trilogia da ativista do Zimbábue Tsitsi Dangarembga retrata traumas e reflexos do colonialismo

O segundo ensaio, “Preta, mulher, e a supermulher feminista preta”, é sobre como a trajetória da sociedade zimbabuana durante o colonialismo determinou o comportamento das mulheres nos espaços públicos e privados. Em determinado momento, a autora reflete sobre “as feridas que se abrem” enquanto escreve.” Ela menciona que a” força que impulsiona sua narrativa para atravessar o dano não é nada além da esperança de não ser consumida, de não ser apodrecida pelo trauma.” Assim, ela diz que

“Escrevo para erguer montanhas, colinas, escarpas e afloramentos rochosos sobre os sulcos de minha história, minhas sociedades e seus espíritos. As lágrimas do processo regam arbustos e árvores para que suas raízes possam fazer o trabalho de manter unido o que foi violentamente separado. Por meio da escrita, cultivo meu ser para gerar florestas que reabasteçam nossa humanidade esgotada.”

No último ensaio, “Descolonização como imaginação revolucionária”, a autora defende a necessidade da descolonização mental africana para se alcançar a igualdade discursiva, por um futuro mais justo e sem medo.

É por isso que existe um ditado no Zimbábue, chikuru kufema – “o importante é respirar”. O que está morto não sente. Não estamos mortos enquanto protestamos.

Como parte final da obra, são apresentadas notas bibliográficas de alto valor teórico para os leitores que queiram se aprofundar mais nas questões discutidas nos ensaios.

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Sobre a autora:

TSITSI DANGAREMBGA nasceu na Rodésia, hoje Zimbábue. É escritora, cineasta, dramaturga, poeta, professora e mentora. Atualmente vive em Harare, capital do Zimbábue. Tsitsi é feminista e ativista. É idealizadora e diretora de diversos projetos e programas que dão suporte financeiro e técnico para mulheres que atuam como artistas e cineastas no Zimbábue e na África como um todo. Tsitsi Dangarembga foi a primeira mulher negra do Zimbábue a publicar um livro em Inglês: Nervous conditions (1988), publicado no Brasil, pela Kapulana, como Condições nervosas.

Sobre a editora:

A Kapulana é uma editora voltada para a publicação de obras do Brasil e de outros países como Angola, Moçambique, Nigéria, Portugal, Quênia e Zimbábue. Tem como proposta ampliar e apresentar as diversas linguagens literárias aos leitores brasileiros. A seleção de títulos – com foco em autores e livros que ainda não têm ampla visibilidade no Brasil – apresenta múltiplas identidades, com temas e cenários que expressem seus valores socioculturais.

Site: http://www.kapulana.com.br/

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