Em maio deste ano, dois indígenas Ailton Krenak e Davi Kopenawa receberam o título de Doutor Honoris Causa por universidades brasileiras. Esse reconhecimento é concedido pelo trabalho de personalidades que tenham se destacado pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras, da cultura, da educação, ou na defesa dos direitos humanos ou dos povos.
Ailton Krenak, líder indígena, escritor, ambientalista e ativista do povo Krenak, recebeu o título pela Universidade de Brasília (UnB). Esse título é um reconhecimento por representar uma importante voz de enfrentamento de ações contra os direitos dos povos originários e de proteção ao meio ambiente. Foi a primeira vez que a UnB entrega esse título a um indígena. Ele é lembrado por novas gerações até hoje como um símbolo de luta em decorrência de sua participação na Assembleia Constituinte, em 1987. Esse fato alcançou repercussão quando pintou o rosto com jenipapo ao discursar no plenário. Recentemente, foi eleito para a Academia Mineira de Letras. “Ideias para adiar o fim do mundo”, “A vida não é útil” e “O amanhã não está à venda” são alguns dos seus livros publicados.
Em entrevista ao Correio Braziliense, Krenak falou sobre o momento atual:
“ […] O período que estamos vivendo hoje tem uma semelhança muito grande com trinta, quarenta anos atrás, quando o governo, no fim da ditadura, considerou a possibilidade de extinguir os indígenas por um ato formal. Recentemente, ouvimos (em um discurso de um político), por exemplo, que os indígenas são “quase iguais” às outras pessoas. Essa frase é obscura e cheia de truque, porque se você é quase igual ao outro, você não é ninguém. Quando a gente, indígena, se tornar quase igual, nós não vamos ser ninguém. A maldade do Estado brasileiro é tentar acabar conosco como se fosse uma obsessão.”
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Davi Kopenawa, que recebeu o título pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é um líder indígena do povo Yanomami, presidente da Hutukara Associação Yanomami, ativista, escritor, roteirista, produtor cultural e membro colaborador da Academia Brasileira de Ciências.
Publicou o livro A Queda do Céu: palavras de um xamã Yanomami, em coautoria com o antropólogo Bruce Albert e participou como roteirista do filme A Última Floresta, de Luis Bolognesi. O documentário, lançado em 2021, já foi premiado diversas vezes, inclusive conquistou o prêmio Platino 2022, considerado o “Oscar Latino”.
No prólogo do livro A queda do céu – palavras de um xamã Yanomami, Davi Kopenawa descreve:
“A floresta está viva. Só vai morrer se os brancos insistirem em destruí-la. Se conseguirem, os rios vão desaparecer debaixo da terra, o chão vai se desfazer, as árvores vão murchar e as pedras vão rachar no calor. A terra ressecada ficará vazia e silenciosa. Os espíritos xapiri, que descem das montanhas para brincar na floresta em seus espelhos, fugirão para muito longe. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chamá-los e fazê-los dançar para nos proteger. Não serão capazes de espantar as fumaças de epidemia que nos devoram. Não conseguirão mais conter os seres maléficos, que transformarão a floresta num caos. Então morreremos, um atrás do outro, tanto os brancos quanto nós.”