11 melhores citações de Notas sobre o luto, de Chimamanda Ngozi Adiche

Chimamanda Ngozi Adiche é uma escritora nigeriana e revelou-se como um dos nomes de bastante expressividade na literatura contemporânea. Autora de vários livros como Meio sol amarelo (2008), vencedor do Orange Prize, adaptado para o cinema em 2013, No seu pescoço (2009), Hibisco roxo (2011), Americanah (2014), eleito um dos dez melhores livros do ano pela New York Times Book Review e vencedor do National Book Critics Circle Award. Sua obra foi traduzida para mais de trinta línguas e teve destaque em inúmeros periódicos internacionais.

Notas sobre o luto, seu livro mais recente, lançado pela Companhia das Letras, foi escrito após a morte do pai em junho de 2020, em decorrência de uma infecção que provocou falência renal, no meio de uma pandemia. Ela relata sentimentos como a admiração, a saudade, a raiva, a tristeza e a solidão. Nesse livro, há uma necessidade da autora em expressar como isso abalou sua vida nesse momento tão delicado para todos. Mas, talvez, seja mais que isso, constitui-se uma forma de assimilar e lidar com a dor do luto pela perda de alguém muito estimado.

Veja nosso papo sobre a autora:

O LUTO É UMA FORMA CRUEL de aprendizado. Você aprende como ele pode ser pouco suave, raivoso. Aprende como os pêsames podem soar rasos. Aprende quanto do luto tem a ver com palavras, com a derrota das palavras e com a busca das palavras. Por que sinto tanta dor e tanto desconforto nas laterais do corpo? É de tanto chorar, dizem. Não sabia que a gente chorava com os músculos.

A dor não me causa espanto, mas seu aspecto físico sim: minha língua insuportavelmente amarga, como se eu tivesse comido algo nojento e esquecido de escovar os dentes; no peito um peso enorme, horroroso; e dentro do corpo uma sensação de eterna dissolução. Meu coração me escapa — meu coração de verdade, físico, nada de figurativo aqui — e vira algo separado de mim, batendo depressa demais num ritmo incompatível com o meu. É um tormento não apenas do espírito, mas também do corpo, feito de dores e perda de força. Carne, músculos, órgãos, tudo fica comprometido.

Sinto-me tomada por um estarrecimento incrédulo com o carteiro que continua passando, com as pessoas que continuam me convidando para dar palestras não sei onde, e com os alertas de notícias que surgem regularmente na tela do meu celular. Como é possível o mundo seguir adiante, inspirar e expirar de modo idêntico, enquanto dentro da minha alma tudo se desintegrou de forma permanente?

“O que significa essa palavra, nuke?” E quando lhe expliquei o significado, ele comentou: “Armas nucleares são uma coisa séria demais para ter apelido”.
Estou despreparada para a raiva descomunal e avassaladora que sinto. Sinto-me inexperiente e imatura diante desse inferno que é a tristeza. Como pode pela manhã ele estar fazendo piada e conversando, e à noite ter ido embora para sempre? Foi muito rápido, rápido demais. Não era para ter acontecido assim, como uma surpresa de mau gosto, durante uma pandemia que obrigou o mundo inteiro a se fechar.
Muitas vezes há também a ânsia de sair correndo, correndo, a ânsia de se esconder. Mas nem sempre posso correr, e todas as vezes em que sou forçada a encarar de frente a minha dor — ao ler o atestado de óbito, ao escrever o rascunho de um anúncio fúnebre — sinto um formigamento de pânico. Nessas horas eu noto uma reação física curiosa: meu corpo começa a tremer, os dedos tamborilam de forma descontrolada, uma das pernas balança. Só consigo me aquietar quando desvio os olhos. Como as pessoas andam pelo mundo, funcionando, depois de perder um amado pai? Pela primeira vez na vida, estou apaixonada por remédios para dormir, e debaixo do chuveiro ou no meio de uma refeição começo a chorar.
O LUTO EXPÕE NOVAS camadas em mim, raspando escamas de meus olhos. Arrependo-me das minhas antigas certezas: Você certamente deve vivenciar seu luto, falar a respeito, encará-lo, atravessá-lo. As certezas arrogantes de alguém que ainda não o conhece. Já estive em luto antes, mas só agora toquei sua essência mais pura. Só agora aprendi, ao tatear em busca de seus limites porosos, que não há travessia possível. No centro desse turbilhão eu virei uma criadora de caixas, e dentro de suas paredes sólidas aprisiono meus pensamentos. Atarraxo minha mente com firmeza somente à sua rasa superfície.

O LUTO NÃO É ETÉREO; ele é denso, opressivo, uma coisa opaca. O peso é maior de manhã, logo depois de acordar: um coração de chumbo, uma realidade obstinada que se recusa a ir embora. Eu nunca mais vou ver meu pai. Nunca mais. É como se eu só acordasse para afundar cada vez mais.

Finalmente entendo por que as pessoas fazem tatuagens daqueles que perderam. A necessidade de expor não só a perda, mas o amor, a continuidade. Eu sou filha do meu pai. É um ato de resistência e uma recusa: é a dor lhe dizendo que acabou, e o seu coração dizendo que não; a dor tentando encolher seu amor para deixá-lo no passado, e o seu coração dizendo que o amor é no presente.

A terra é a joia da cosmologia igbo, e a quem pertencem as terras muitas vezes tem a ver com histórias: que avô de qual avô a cultivou, que clã migrou para lá e qual outro era nativo. A terra é também a causa de muitas desavenças.

É claro que me lembro de como meu pai sempre dizia “deixa pra lá” para fazer com que nos sentíssemos melhor em relação a alguma coisa, mas o fato de Okey (irmão) também se lembrar faz aquilo parecer verdade outra vez. Um dos muitos componentes notáveis do luto é a criação da dúvida. Não, eu não estou imaginando coisas. Sim, meu pai era mesmo maravilhoso.

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