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O título de um livro é extremamente importante: é ele que vai fazer com que você se dirija a um livro ou outro na estante, é ele que instiga o leitor a buscar conhecer a história que as páginas de um livro contam.
Nós do NotaTerapia somos apaixonados por títulos. Não à toa, temos uma matéria em que listamos alguns dos mais lindos títulos que já lemos, que você pode ver clicando aqui. Depois da leitura de “Eu sei porque o pássaro canta na gaiola”, da escritora americana Maya Angelou, a lista parece precisar de atualização, porque certamente está incompleta.
“Eu sei porque o pássaro canta na gaiola” é o primeiro volume das autobiografias da autora, e contempla o período entre sua infância e seus 16 anos, quando a pequena Maya — nascida Margueritte Ann Johnson — morava em Stamps, Arkansas, com sua avó Momma, seu irmão Bailey e seu tio Willie. Entre sua casa, a rua e o único mercado que vendia para negros, do qual sua avó era dona e onde ela e o irmão passavam muito tempo, Margueritte cresce e vai aos poucos descobrindo as inúmeras formas como o racismo atravessa a vida de uma criança negra no sul dos Estados Unidos da era da segregação racial.
Maya Angelou está no projeto Mulheres do Mundo. Para ler a resenha completa do livro, clique AQUI!
Mas por que Maya Angelou escolheu este título? É claro que a imagem de um pássaro engaiolado de cara nos remonta a discussões que muito têm a ver com racismo, violência, exclusão. Mas o título é muito mais do que isso.
Inspirado em um poema chamado “Symphathy”, que em tradução livre poderia ser “Compaixão”, de Paul Laurence Dunbar, o título de Angelou tem inúmeras camadas. Paul Laurence Dunbar foi um poeta e escritor americano do século XIX, cujos pais haviam sido escravizados. A escolha do poema de Dunbar como inspiração muito tem a ver com o fato de que ele foi um dos primeiros poetas negros americanos a serem reconhecidos como grande influência na literatura americana. O site Poetry Foundation tem mais informações sobre este importante escritor.
O poema de Dunbar é de uma beleza singular – e sua leitura evidencia que o livro, definitivamente, não poderia ter um título mais adequado. Confira, abaixo, a tradução que fizemos do poema:
Eu sei o que o pássaro enjaulado sente, infelizmente!
Quando o sol brilha nas encostas das montanhas;
Quando o vento se agita suavemente através da grama,
E o rio corre como uma corrente de vidro;
Quando o primeiro pássaro canta e o primeiro rebento se abre,
E do cálice lhe rouba o leve perfume –
Eu sei o que o pássaro enjaulado sente!Eu sei porque o pássaro enjaulado bate a asa
Até que seu sangue manche de vermelho as barras cruéis;
Pois ele deve voar de volta ao seu poleiro e a ele se apegar
Quando seu desejo seria estar balanço de um galho
E uma dor ainda palpita nas velhas, velhas cicatrizes
E ela pulsa novamente com uma picada mais aguda –
Eu sei porque ele bate a asa!Eu sei porque o pássaro enjaulado canta, ah, eu,
Quando sua asa está machucada e seu peito dolorido,
Quando ele bate nas barras e para ficar livre;
Esta não é uma canção de contentamento ou alegria,
Mas uma oração que ele envia do fundo do coração,
Mas um apelo, que aos céus ele lança –
Eu sei porque o pássaro enjaulado canta!