William Blake foi um poeta, tipógrafo e pintor inglês, sendo sua pintura definida como pintura fantástica. Blake viveu num período significativo da história, marcado pelo iluminismo e pela Revolução Industrial na Inglaterra. A literatura estava no auge do que se pode chamar de clássico “augustano”, uma espécie de paraíso para os conformados às convenções sociais, mas não para Blake que, nesse sentido era romântico, “enxergava o que muitos se negavam a ver: a pobreza, a injustiça social, a negatividade do poder da Igreja Anglicana e do estado.” Suas poesias estão localizadas no período romântico e ele foi considerado um dos escritores da poesia visionária.
O NotaTerapia separou os 10 melhores poemas do poeta:
1- Jerusalém
E o semblante divino
Brilhara em meio aos turvos montes?
E aqui nasceu Jerusalém
Em meio à máquina infernal?
Tragam-me o arco dourado
Tragam-me as flechas do desejo
Tragam a lança entre as nuvens
Tragam o carro flamejante
Não cessará meu combate
Nem minha espada hei de baixar
Até que ergamos Jerusalém
Nos verdes campos da Inglaterra!
Fonte: http://cantodosencantosedesencantos.blogspot.com/2011/11/traducao-jerusalem-de-william-blake.html
2- Londres
Vagueio por estas ruas violadas,
Do violado Tamisa ao derredor,
E noto em todas as faces encontradas
Sinais de fraqueza e sinais de dor.
Em toda a revolta do Homem que chora,
Na Criança que grita o pavor que sente,
Em todas as vozes na proibição da hora,
Escuto o som das algemas da mente.
Dos Limpa-chaminés o choro triste
As negras Igrejas atormenta;
E do pobre Soldado o suspiro que persiste
Escorre em sangue p’los Palácios que sustenta.
Mas nas ruas da noite aquilo que ouço mais
É da jovem Prostituta o seu fadário,
Maldiz do tenro Filho os tristes ais,
E do Matrimónio insulta o carro funerário.
William Blake, in “Canções da Experiência”
Tradução de Hélio Osvaldo Alves
Fonte: http://www.citador.pt/poemas/londres-william-blake
3- A Rosa Doente
Ó Rosa, estás doente!
Um verme pela treva
Voa invisivelmente
O vento que uiva o leva
Ao velado veludo
Do fundo do teu centro:
Seu escuro amor mudo
Te rói desde dentro.
Fonte: https://escamandro.wordpress.com/2014/11/13/rosas-doentes/
4- A Árvore Envenenada
Sentia raiva de um companheiro
Confessei o ódio, o ódio se foi inteiro
Sentia raiva de um inimigo
Fiquei calado, o ódio vi crescido.
E o reguei de alma sombria
Com meu pranto noite e dia
E escondido sob sorrisos gentis
E com corteses, enganosos ardis.
E cresceu noite e manhã
Até florescer luzente maçã
Ao ver o brilho que ela tinha
O inimigo sabia que era minha
E foi ao meu jardim roubar
Quando a noite velou o pomar
Bem cedo vi, com agrado
O inimigo sob a árvore estirado
Fonte: https://alittlelostin.wordpress.com/2016/11/16/poema-a-poison-tree-william-blake/
5- O Tigre
Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria?
Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos?
Sobre que asas se atreveu a ascender?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo?
Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração?
E quando teu coração começou a bater,
Que mão, que espantosos pés
Puderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui?
Que martelo te forjou ? Que cadeia?
Que bigorna te bateu ? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores?
Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou?
Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria?
(Tradução de Ângelo Monteiro)
Fonte: https://poesiaspreferidas.wordpress.com/2013/03/15/o-tigre-william-blake/
6- O Torrão e o Seixo
“O Amor jamais a si quer contentar,
Não tem cuidado algum com o que é seu;
Sacrifica por outro o bem-estar,
E, a despeito do Inferno, erige um Céu”
Esse era o canto de um Torrão de Terra,
Pisado pelas patas da boiada;
Mas um Seixo, nas águas do regato,
Modulava esta métrica adequada:
“O Amor somente a si quer contentar,
Atar alguém ao próprio gozo eterno;
Sorri quando o outro perde o bem-estar,
E, a despeito do Céu, ergue um Inferno.”
Fonte: http://www.entreculturas.com.br/2011/08/william-blake-o-torrao-e-o-seixo/
7- O garotinho negro
Sou negro, porém minha alma é alva;
A criança ao norte tem branca imagem
Sendo negro, me falta a luz que salva.Aprendi com mamãe sob uma árvore
Ela sentada, antes do amanhecer,
Comigo ao colo, a beijar minha face
E a olhar o leste, começou a dizer:
“Onde o sol nasce, é ali que Deus mora
E espalha luz e irradia o calor.
A flor,a planta, o bicho e o homem sorvem
O alento da manhã e a intensa cor.
E envoltos somos em pequeno ninho,
Onde cultivar centelhas de laços,
E esta face queimada e o corpo tinto
É só uma sombra que paira no espaço.
Pois quando o espírito suporta os raios
A sombra some, e ouvimos a voz
Dizendo: o corpo da treva, tirai
E deixai meu ouro pousar em vós.
Assim mamãe falou em tom suave,
E assim repito ao garoto do norte;
Quando, livres da preta ou branca nuvem,
Entregarmos a Deus a nossa sorte:
Até que ele possa agüentar o fogo,
E curvar-se diante de nosso pai,
Nele farei sombra. Então, num afago
Serei amado, seremos iguais.
Sabes tu quem te fez?
Deu-te vida & alimento
Na nascente no relento;
Vestiu-te em gozos, louçã,
De finas vestes de lã;
Deu-te tenra voz também,
Para alegrar vales & além?
Cordeiro, quem te fez?
Sabes tu quem te fez?Cordeiro, te direi;
Cordeiro, te direi:
O teu nome tem inteiro,
Pois Ele chama-se cordeiro.
Ele é meigo, & sem tardança
Veio aqui como criança.
Sou criança, & tu cordeiro,
Chamados por Seu nome inteiro.
Cordeiro, Deus te guarde!
Cordeiro, Deus te guarde!
E vi então o que jamais notara:
Lá bem no meio estava uma Capela,
Onde eu no prado correra e brincara.E os portões desta Capela não abriam,
E “Não farás” sobre a porta escrito estava;
E voltei-me então para o Jardim do Amor
Lá onde toda a doce flor se dava;
E os túmulos enchiam todo o campo,
E eram esteias funerárias as flores;
E Padres de preto, em seu passeio secreto,
Atando com pavores minhas alegrias & amores.
William Blake, in “Canções da Experiência”
Tradução de Hélio Osvaldo Alves
10- Nunca diga a teu amor
O amor que não se deve dizer,
Por que o vento suave passa
Em silêncio, sem se ver.Eu disse a meu amor, eu disse,
Eu lhe disse de todo coração,
Tremendo, frio, um medo terrível…
Ah, ela partiu então.
Logo que ela foi
Um viajante passou
Em silêncio, invisível…
Oh, ela não se negou.
(tradução de João Alexandre Sartorelli)
https://interestingliterature.com/2017/01/16/10-of-the-best-william-blake-poems/