Morder-te o coração, romance da portuguesa Patrícia Reis, faz parte da fabulosa coleção Ponta-de-lança da Editora Língua Geral, cujo objetivo é visibilizar os trabalhos de escritores e escritoras pouco conhecidos(as) pelo grande público.
O livro relata, na voz de três personagens, as histórias e experiências que os ligam – o amor, a tristeza, a solidão, a tragédia da vida. Numa narrativa incrivelmente envolvente que transborda a particular sensibilidade dos portugueses, Patrícia Reis traça os encontros e desencontros das linhas de vida destes três personagens que, na realidade, poderiam ser qualquer um de nós.
O NotaTerapia selecionou 10 frases marcantes e belas da obra. Confira – e não deixe de ler este livro sensacional!
“Quando me fui embora, não deixei morada.
Hoje, quero que saibas que não te disse nada e quando te pedi para me morderes o coração era só para me certificar de que ele existia no meu peito. Tu preferiste beijar-me, nunca me mordeste e, assim, fiquei sem saber.”
“Não querendo acreditar em nada, a vida foi-se refazendo.”
“(…) Olhando os vitrais da igreja julguei ver os olhos do meu avô e, por fim, lavei-me nas lágrimas da dor colectiva para descobrir, agora, tantos anos mais tarde, que talvez não fosse dor, talvez fosse apenas cansaço.
O mesmo cansaço que agora me aproxima de uma qualquer morte interior onde a tua voz já não se ouve.”
“Esta sou eu. Nada do que possa fazer vai mudar o que sou agora. Esta coisa cá dentro, a vontade de fazer tudo devagar para não estorvar, a mania de arrumar as coisas em ordem alfabética, o medo do escuro, a tentação do silêncio, de ouvir os outros mas nunca identificar os sons, não em concreto.”
“À noite cruzo a ponte que ruma à igreja como se fosse natural escapar à vida percorrendo apenas os caminhos da chuva.”
“A tristeza chora-se, tem de se chorar.”
“Depois partiste. Não disseste nada. Não deixaste nada escrito, não te esqueceste de nada. Na minha miséria queria um rastro teu, a escova dos dentes, uma peça de roupa, um pequeno cabelo na almofada, um pêlo na casa de banho.”
“Porque percebi que preciso ser abraçado todos os dias, porque percebi que não durmo bem sem o conforto de saber que há ali um corpo que respira e que – não sendo o teu – pode bem ser o teu. Se eu fechar os olhos.”
“Podemo-nos convencer de tudo. Basta querer muito.”
“Não mudámos nada, não fizemos nada. Somos apenas carne da carne, reduzida à sua indigna condição de súbdito do transcendente, um produto simples do medo. O medo que nos domina. Homens e animais presos a essa adrenalina da sobrevivência, da necessidade. De amor, de abrigo, de comida, de frio e de calor. Lentamente, vivemos. Morremos.
Excepto eu. Vou andando pela noite, passos pequenos, sem ilusões, tentando não pensar na forma como a tua voz enrolou o meu nome.”