Os 6 melhores trechos de Cobra Norato, de Raul Bopp

Raul Bopp é um dos principais modernistas do Brasil. Seu poema Cobra Norato até hoje é considerado um dos marcos de nossa poesia pela capacidade de, ao mesmo tempo, apresentar uma linguagem corrente, moderna, do cotidiano e incorporar uma linguagem das matas, do profundo interior do Brasil. Baseado em uma lenda nacional, Cobra Norato é um poema que reflete as tensões da nossa terra, da nossa cidade e da maneira que entendemos as coisas do mundo. Confira os 6 melhores trechos:

 

Num estirão alagado
o chardo engole a água do igarapé

Fede
O vento mudou de lugar

Um assobio assusta as árvores
Silêncio se machucou

Cai lá adiante um pedaço de pau seco:
Pum. (p. 9)

 

Acordo
A lua nasceu com olheiras
O silêncio dói dentro do mato

Abriram-se as estrelas
As águas grandes se encolheram com sono

A noite cansada parou (p. 17)

 

Ando com uma jurumenha
que faz um doizinho na gente
e mexe com o sangue devagarinho (p.18)

 

Dissolvem-se rumores distantes
num fundo de floresta anônima

Sinto bater em cadência
a pulsação da terra

Silêncios imensos se respondem… (p. 26)

 

– Compadre, vamos também experimentar uma fumadinha?
Pajé tonteou Se acocorou Foi-se sumindo
assobiando baixinho fiu… fiu… fiu…
Então
Contrata o mato pra fazer mágina (p. 43)

 

Quero levar minha noiva
Quero estarzinho com ela
numa casa de morar
com porta azul piquininha
pintada a lápis de cor

Quero sentir a quentura
do seu corpo de vaivém
Querzinho de ficar junto
Quando a gente quer bem bem (p. 56)

 
 

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