BILingo: pesquisadores no Brasil e na Alemanha estão criando um ‘Duolingo indígena’

Pesquisadores do Brasil e da Alemanha estão criando um aplicativo, o BILingo, que propõem a revitalização de línguas indígenas nativas ameaçadas de extinção. 

O aplicativo, batizado inicialmente como BILingo (Línguas Indígenas Brasileiras/Brazilian Indigenous Languages), está sendo testado em duas aldeias indígenas no Mato Grosso e em Rondônia e conta com a colaboração de pessoas indígenas e de inteligência artificial (IA).

Este projeto é uma iniciativa sem fins comerciais, resultado dos estudos feitos pelos cientistas brasileiros Fabrício Gerardi, da Universidade de Tübingen, e Gustavo Polleti, da Universidade de São Paulo. 

Ao gamificar o aprendizado dessas línguas indígenas nativas, os pesquisadores estão buscando replicar o sucesso de aplicativos similares, como o Duolingo, que ensinam idiomas com atividades curtas e lúdicas, adaptado às sensibilidades dos povos indígenas.

Com o projeto em andamento, a expectativa é de que o lançamento ocorra no próximo ano, inicialmente com duas línguas nativas: a bororo e a makurap. Para Gerardi, esta é uma iniciativa inédita, por conta da quantidade de dados e sua intensidade.

Qual a importância do app para revitalização de línguas indígenas nativas?  

Segundo o censo de 2020, realizado pelo IBGE, são faladas no Brasil 274 línguas indígenas, representando menos de ¼, das 1,2 mil que havia por aqui, antes da chegada dos colonizadores.

Para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), existem cerca de 190 línguas correndo o risco de extinção no Brasil.

Dito isso, o BILingo representa uma ferramenta essencial no processo de revitalização de línguas indígenas nativas, reaproximando os mais jovens que não falam a língua materna do seu próprio povo.

Jéssica Makurap, é uma dessas jovens do povo makurap e tem colaborado com a execução do projeto. Para ela, “vai ajudar muito no nosso aprendizado. Como eu não aprendi antes, estou tentando aprender algumas palavras e frases agora.”  

Para os bororo, já existe um repositório com mais de 60 mil frases geradas com base em recursos linguísticos e etnográficos, além de uma biblioteca online de materiais, composta por cantos, mitos, vídeos de festas e rituais e nomes específicos para flora e fauna deste povo.

O professor indígena Mariel Kujiboekureu, principal responsável pela iniciativa no Terra Indígena Meruri, tem feito muitos esforços para alimentar o BILingo, tendo em vista que seu povo foi vítima da evangelização salesiana no século 20, resultando na separação das famílias, no impedimento da transmissão cultural e na proibição da língua bororo em sala de aula.

BILingo/ Professor indígena Mariel Kujiboekureu/ Fonte: Reprodução da Internet

Antes do BILingo, o Nheengatu

O Nheengatu App, lançado em outubro de 2021, é considerado o primeiro aplicativo focado no ensino de línguas indígenas amazônicos e foi desenvolvido pela pesquisadora Suellen Tobler, com o apoio da Lei Aldir Blanc e da Secretaria de Cultura do Pará.

A língua nheengatu, que dá nome ao aplicativo, já foi considerada a língua indígena mais falada da região amazônica e era conhecida como “língua geral amazônica”. Esta língua possui diversas variações, mas o app disponibiliza apenas a variação “nheengatu tapajowara”, associada aos povos do Baixo Tapajós.

Nheengatu: antes do BILingo/ Fonte; Reprodução da Internet

Assim como os pesquisadores Fabrício Gerardi, da Universidade de Tübingen, Gustavo Polleti, da Universidade de São Paulo e Suellen Tobler, é importante que outras pessoas e instituições desloquem seu olhar para a preservação de outras línguas indígenas nativas do território brasileiro.

A iniciativa, além de muito importante para a preservação da história dos povos originários, também se constitui como uma maneira de manter a história e a cultura desses povos viva em suas comunidades e para a sociedade brasileira.

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