“Sete minutos”, de Antonio Fagundes: o fazer teatral e a relação do público com o teatro

Talvez sejamos os últimos a ainda exigir atenção. Paciência, cuidado, paixão. É a

nossa falha. Queremos a alma de quem nos procura, não o dinheiro. Andamos na corda

bamba da emoção, aqui em cima do palco, exigindo em troca, apenas, a rede carinhosa

de proteção da plateia.

Em Sete minutos, dramaturgia escrita por Antonio Fagundes e publicada pela editora Cobogó, um ator veterano abandona o palco no meio de uma apresentação de Macbeth, de Shakespeare, irado com as interferências da plateia – barulhos de celulares, embalagens de comida – e inconformado com a falta de consideração por regras que acredita serem essenciais, como começar a peça no horário combinado, barrando os atrasados. A partir dessa crise, o fazer teatral e a relação do público com o teatro se tornam os temas do debate dos personagens nos bastidores, enquanto uma multidão indignada com a interrupção da peça se reúne do lado de fora.

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Combinando reflexão, humor e crítica, Fagundes faz de Sete minutos uma declaração de amor ao teatro, considerado pelo protagonista o “último reduto de humanidade; a última esperança do calor humano, de contato real”. Escrita em 2002, ficando em cartaz daquele ano até 2004 e sendo vista por mais de 200 mil espectadores, a peça também antecipa a crise de concentração causada pela tecnologia, ao apontar o desafio de lidar com uma audiência programada para prestar atenção por não mais de sete minutos – o tempo calculado para um bloco de programa de televisão entre seus intervalos comerciais.

Sobre o autor:

Antonio Fagundes, é ator, diretor, produtor, roteirista e dublador. Considerado um dos atores mais reconhecidos e prolíficos do Brasil, Fagundes ganhou notoriedade por suas performances nas telas e nos palcos. Recebeu vários prêmios ao longo de sua carreira de mais de cinco décadas, incluindo quatro Prêmios APCA, dois Prêmios Molière, dois Prêmios Qualidade Brasil, e dois Troféus Imprensa, além de ter recebido indicações para dois prêmios Grande Otelo e quatro Prêmios Guarani.

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