Quantas pintoras brasileiras você conhece? Certamente poucas. Enquanto a maioria citaria Tarsila do Amaral, a notável Modernista, muitos ficariam sem saber outro nome. Mas não se preocupe, pois com o documentário As Cores e Amores de Lore você conhece mais uma: Eleonore Koch, discípula do pintor Alfredo Volpi, que não é brasileira de nascença, mas sim de residência, e merece ter sua obra mais conhecida e apreciada.
O pai de Lore disse que foi aos 16 anos que ela afirmou que seria artista. Com o tempo, percebeu que “ser artista” era mais que uma ação ou profissão: era um modo de vida. Um modo de vida que, no caso dela, a impediu de se casar: em vez de dedicar-se à atarefada vida doméstica e criação de filhos, ela gastou sua energia criando arte.
A mãe de Lore, Adelheid, foi uma das pioneiras da psicanálise no Brasil, tendo se correspondido com Freud e outros intelectuais da área. A notoriedade da mãe na área atrapalhou, em termos, Lore: encontrando apenas analistas ligados a Adelheid em São Paulo, a pintora não teve alternativa a não ser mudar para o Rio de Janeiro para conseguir começar a fazer análise. Radical? Talvez, mas ela diz que a mudança foi ótima.
Sua pintura é exposta em galerias desde os anos 1950 e em um texto de uma destas exposições sua obra é definida como “contemplativa demais para ser produzida em série”. Ela escolheu não pintar figuras humanas, tão somente objetos. Buscava inspiração por todos os lados, mas acabava encontrando as imagens dentro de si. Com total vocação para a imagem, tirou fotos belíssimas que serviram de guia para suas pinturas. Sua carreira não foi feita só de sucessos, tendo sido uma vez criticada duramente pelo influente crítico Geraldo Ferraz.
A primeira sequência, antes ainda dos créditos iniciais, traz a leitura de uma carta de alguém chamado Carlos. Mais cartas dele são lidas ao longo de As Cores e Amores de Lore, mas além de Carlos ela teve outros relacionamentos: o primeiro namoradinho fazendeiro, um ex-soldado alemão, o diretor teatral Ziembinski e ninguém menos que o fundador da Cinemateca Brasileira, Paulo Emílio Sales Gomes.
O diretor Jorge Bodanzky conheceu Lore por acaso: um dia um amigo lhe avisou que a pintora havia citado a mãe do cineasta, Rosa Bodanzky, numa entrevista para um jornal – Lore e Rosa compartilhavam a origem judaica e o fato de que vieram para o Brasil no mesmo ano de 1937, abandonando a vida pregressa. A partir de um primeiro contato, a artista se tornou uma segunda figura materna para Bodanzky. Ambos também dividiram o amor pelo clássico Hiroshima Mon Amour (1959), que viram em momentos distintos, porém igualmente importantes, de suas vidas.
A produção, roteiro e montagem do documentário ficaram a cargo de Bruna Callegari. Ela é mestra em Arquitetura em Urbanismo pela USP, faculdade na qual também se formou em História, além de ter outra graduação, a de Jornalismo pela PUC-SP. Bruna atua na área artística desde 2005 e está à frente da produtora multicultural Espaço Líquido. Verdadeiramente multiartista e já colaboradora de Bodanzky em outra ocasião, Bruna foi uma escolha perfeita para o projeto.
Desde sua gênese, o cinema documentário serve para expandir horizontes mostrando outras realidades e histórias. As escolhas narrativas são infinitas neste gênero, e a escolha aqui em As Cores e Amores de Lore foi ter como narradores os homens que ela amou, mas sem que Lore perdesse o protagonismo ou o poder da própria palavra. A última das poucas intervenções do documentarista traz a pergunta se Lore está feliz com o caminho escolhido, na vida e na arte. Ela diz não se arrepender de nada. E seu imenso legado segue aqui para justificar suas escolhas.
Revisado por Luiz Antonio Ribeiro
As Cores e os Amores de Lore estreia nos cinemas em 13 de fevereiro. Confira o trailer:
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