No dia 1º de fevereiro de 2025, Lélia Gonzalez, um dos maiores nomes da luta feminista e antirracista do Brasil, faria 90 anos. Ela é considerada uma das maiores intelectuais da história brasileira, muito embora sua produção tenha sido apagada e silenciada durante anos.
Seus textos, produzidos entre os anos de 1979 a 1994, foram publicados em uma coletânea feita pela Editora Zahar, sob a organização de Flavia Rios e Márcia Lima, a partir do ano de 2020 após a passagem da filósofa e ativista negra, Angela Davis pelo Brasil, em 2019.
“Eu sinto que estou sendo escolhida para representar o feminismo negro. E por que aqui no Brasil vocês precisam buscar essa referência nos Estados Unidos? Acho que aprendi mais com Lélia Gonzalez do que vocês aprenderão comigo.” (Angela Davis, filósofa norte-americana, 2019)
Com formação em filosofia e pós-graduada em comunicação, Lélia Gonzalez atuou academicamente na seara da antropologia, psicanálise e sociologia. Também traduziu livros para o português do inglês, do francês e do espanhol.
Ativista e militante, por meio de seus conhecimentos em filosofia, ciências sociais, psicanálise, samba; e dos terreiros de candomblé, ela transitava entre a erudição e o senso comum.
Apresentou ao mundo o pretuguês e a amefricanidade, tornando-se um ícone do feminismo negro do Brasil e da Améfrica Ladina, como ela mesmo referenciava. Lélia enfrentou grandes dificuldades para ser aceita nos ambientes inundados pelo preconceito e sem nenhuma ação afirmativa.
Apesar dos obstáculos para se fazer escutar na sociedade brasileira, Lélia nos ofereceu uma obra extensa e representativa e ainda não inteiramente conhecida. Ela afirma em um dos seus textos que:
“Nós negros estamos na lata do lixo da sociedade brasileira, pois assim determina a lógica da dominação […]. Exatamente porque temos sido falados, infantilizados […], que neste trabalho assumimos nossa própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa.” (Lélia Gonzalez, no livro Por um feminismo afro-latino-americano, 2020)
Assim, como Carolina Maria de Jesus afirmou em sua obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, Lélia sempre esteve ciente do lugar em que a sociedade brasileira colocava os negros: no lixo, no quarto de despejo. Independentemente das circunstâncias, entretanto, assumiu seu lugar de fala e sua voz ainda reverbera na atualidade.
Confira agora três livros para conhecer Lélia Gonzalez e analisar seu legado, que se mantém atual frente a realidade que a comunidade negra ainda enfrenta:
LIVRO 1. POR UM FEMINISMO AFRO-LATINO-AMERICANO
Por um Feminismo Afro – Latino – Americano, foi organizado por Flavia Rios e Márcia Lima, reunindo um panorama amplo da obra de Lélia Gonzalez.
Lélia, que foi uma das mais importantes intelectuais brasileiras do século XX, atuou ativamente na luta contra o racismo estrutural e sobre as relações entre gênero e raça em nossa sociedade.
Os textos que estão contidos neste livro foram produzidos durante o período de 1979 a 1994, em plena efervescência democrática do Brasil e de outros países da América Latina e do Caribe. Nele, estão ensaios, artigos, entrevistas antológicas, traduções inéditas e escritos dispersos, como uma carta endereçada a Chacrinha. O livro possui uma introdução crítica e cronologia da vida e obra da autora.
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LIVRO 2. LUGAR DE NEGRO
Lugar de negro é composto por três textos escritos por Lélia Gonzalez e Carlos Hasenbalg. Eles sintetizam pontos centrais da questão racial brasileira e contribuem para fortalecer a luta do movimento negro daquela época, ou seja, desconstruir o mito da democracia racial, fomentado durante a ditadura.
Lélia Gonzalez apresenta o processo de consolidação do movimento negro no Brasil, que culminou na criação do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978, na qual foi protagonista.
Carlos Hasenbalg, participa da obra com uma análise dos principais aspectos da configuração do racismo e das desigualdades no Brasil. O livro foi publicado originalmente em 1982, e ainda hoje apresenta reflexões cruciais da agenda intelectual e política do Brasil.
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LIVRO 3. FESTAS POPULARES NO BRASIL
O livro Festas Populares no Brasil chegou nas livrarias do país pela Editora Boitempo, após três décadas de sua produção original.
Esse é o único livro publicado por Lélia Gonzalez em vida e exclusivamente como autora.
Foi escrito em 1987 e apresenta registros fotográficos de festas populares em todo o Brasil, juntamente com textos informativos, ressalta também as marcas da herança africana na cultura brasileira, bem como a integração entre o sagrado e o profano, como reinvenção das tradições religiosas na formação do imaginário cultural brasileiro.
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A passagem de Lélia por este mundo foi curta, entretanto, sua fala potente e suas manifestações ativistas e representativas fazem a diferença após 30 anos de seu encantamento e ainda fará muito mais. Axé Lélia!
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