“AQUI” (2024), de Robert Zemeckis e o frenesi da inteligência artificial

A expectativa do reencontro entre Tom Hanks e o diretor Robert Zemeckis prometia aos amantes de cinema uma nova e épica história daquelas que valem a pena ser contada. Aqui (2024) Investe muito em inteligências artificiais, a aposta era alta para uma nova revolução dos efeitos não práticos, mas não foi isso que nós, amantes da sétima arte e saudosistas do querido Forrest Gump (1994) encontramos ao adentrar a sala de cinema.

Baseado nos quadrinhos de Richard McGuire, o filme se ambienta em um só espaço, uma sala que acompanhamos ao longo dos śeculos: passado, presente e futuro se fundem em um único plano, sem jogos de câmera ou zoom, logo, somos como espectadores do teatro acompanhando as sequências de cenas ali apresentadas.

Como dito anteriormente, o filme conta a história de um lugar e todos que ali estiveram, a premissa é simples, mas coringa já que nos deparamos com grandes reflexões acerca da finitude e da efemeridade de nossa existência. Você, leitor, já se perguntou, em algum momento, quem estava anteriormente neste mesmo lugar em que você está enquanto lê essa crítica? Ou quem estará aí quando você mesmo deixar de existir? É sobre isso que Zemeckis nos faz refletir: “quantas estórias um espaço pode contar?

O filme foca, especialmente, na família Young que tem como protagonista Richard (Tom Hanks), um menino americano que nasce e cresce na mesma casa, lá ele descobre o mundo e acompanhamos sua jornada e seu desenvolvimento de relações com os pais, os irmãos e outros familiares que o cercam. É também lá que conhecemos o (talvez) primeiro amor de Richard, Margaret (Robin Wright), que também tem papel importantíssimo na narrativa, já que se casa e passa a ser nova moradora e integrante da família Young., Logo percebemos questões bem comuns não só às famílias americanas, mas a tantas outras espalhadas pelo globo: os encargos da vida adulta fazem com que Richard deixe de lado seu sonho de ser um jovem pintor e Margaret de ser uma grande advogada. Os anos passam, a filha do casal nasce, cresce e assim a vida vai trilhando caminhos, por vezes comuns, enquanto estamos ali, nos identificando com várias cenas que provavelmente já testemunhamos em nosso lar. 

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É uma pena que, enquanto nos emocionamos com recortes preciosos do enredo, atuados de maneira conspícua pelos protagonistas, seja a atitude de vanguarda do diretor (o uso de novos recursos da inteligência artificial) que tanto nos tira da experiência sóbria de pacto com ficcional. A câmera fixa pode até ser uma ideia revolucionária e muito cativante para os espectadores, mas são os efeitos que nos doem aos olhos. O processo de rejuvenescimento e envelhecimento dos atores tornam suas expressões robóticas e o que antes tinha papel de emocionar acaba se tornando artificial, roubando o pouquinho de emoção que nos foi concedido.

Contudo, Aqui é um filme que trata de temas universais e nos dá um recorte sobre o tempo, mas também é um filme que tem dificuldades em se colocar diante do agora, podendo se consagrar como um filme visualmente datado e que promete envelhecer mal.

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